PENSAMENTO DE MATEIRO
Enquanto
a maioria das crianças esperavam que na arvore de natal amanhecesse um carinho,
ou uma bola, eu imaginava ansioso se Papai Noel ia deixar na minha meia um
carneiro, um porco, uma galinha, um estilingue ou uma espingarda de chumbinho.
Talvez
seria até pedir demais, pois uma espingardinha era algo inatingível, um sonho
distante para um garoto que adorava visitar a casa agropecuária para ver os
bichos, vestido de camiseta vermelha, short azul e com um belo revolver de
espoleta dependurado na cinta.
O
estampido da espoleta era tão fantástico como os filmes que retratavam o velho
oeste americano que eu assistia na companhia do velho Jorge Sá Pereira, o mesmo
que me encantava com suas histórias de caçadas por esses rincão dos Goiás, eu
não pensava em cinema, ou outras atrações das grandes cidades, minha cabeça ia
longe a beira das campinas, na beira da mata fechada, viajava ao som
maravilhoso do cantar da Jaó, no cadenciado maravilhoso do pio do chororô.
São
sentimento e sonhos de arrepiar, é um trem de nascença, nos desenhos da escola
eu desenhava coelhos, gambás, e um monte de bichos, que encabulava a professora,
nas férias nada de praia, o sonho era a fazenda, a beira do ribeirão, a
pescaria de piau, o rio, o passeio de canoa, a caçada de inhambu, e o maior troféu...Uma
codorniz...
Na
escola muitos amigos me achavam estranho, eu falava dos pássaros do cerrado, do
veado do campo, dos peixes, eles não entendiam o que eu falava, afinal nunca
tinham visto o rosto da natureza, não sabiam o que era um mandubé, o que era
uma Saíra sete cores, o que era um Guariba, uma lagartixa preguiça, um Mutum e
outros viventes mais....
Mas
esse era o meu mundo, os trem do mato é que me faziam sorrir, preparar as bolas
de argila com cimento e secar na beira do fogão de lenha, enquanto Mariinha
assava pão de queijo era muito bom, melhor ainda era no outro dia cedo antes do
sol nascer descer até a beira do Rio Escurinho com a capanga cheia na caçada do
Inhambú, subir pela serraria atrás dos preás, e ainda parar na prainha e tomar
um bom banho de rio.
Meus
olhos brilhavam olhando o horizonte, chapiado de gameleiras, umbaúbas e toda
aquela mata, o cantar do corrupião e a algazarra da passarada, eu só queria que
o mundo parasse ali, e que eu nunca mais precisasse voltar para a cidade, eu
queria sentir a mata e ver cada vivente que por ali passava, imaginava as
madrugadas, os trieiros movimentados, eu queria muito tudo aquilo, queria estar no fundo do Escurinho e ver os
enormes Surubins que ali viviam, sim era isso que eu queria parar o mundo e
viver eternamente ali nas areias brancas e quentes do rio, envolto pela mata e
embalado pelos pássaros.
Mas
o tempo não parou, e eu fui crescendo triando as brenhas desse meu sertão,
pegando corpo e engrossando a voz a sombra das matas, e ainda hoje quando me
ponho a contemplar o pôr do sol, me sinto a mesma criança, sinto vontade de
parar o mundo e ali ficar eternamente embalado pelo arrulho da pomba verdadeira
que no galho seco do carvoeiro parece pedir a Deus a mesma coisa.
E
foi assim, eu não me fiz um mateiro, mateiro nasce mateiro, o amor pela vida no
campo e todas suas maravilhas nascem com a gente, como é bom ter essa alma
matuta, como é bom ter esse coração sertanejo, como é bom ser assim.
Bello
29-06-15
A MORTE DA RAINHA
Seu
Firmino rompia pra mais de 83 primaveras, a idade danava a pesar nos ombros do
velho fazendeiro que agora era motivo de estorvo, nessa altura do campeonato já
não apitava mais nada na fazenda, suas palavras que no passado era ordem
cumprida, hoje era apenas resmungo de veio caduco, a vida é assim, dizia ele em
tom firme com sua rouca voz.
No
início menino não tem querer, no fim, velho não tem querer...Tudo acaba onde
começou.
A
grande gleba de terra, chamada Fazenda Aliança era o reinado de Seu Firmino,
que chegou ali ainda rapazote de calça curta ao lado do seu finado pai Coronel
Jeremias, era um tempo preto e branca, era no tempo em que o gado era criado ao
ermo, no tempo em que as cercas eram o fio do bigode.
Era
um tempo tão bom que o próprio tempo sente saudades, onde veados campeiros
corriam aos montes pelas campinas forradas de capim nativo, eram tantos que não
tinham fim, era o tempo em que as manadas de porco queixada ultrapassavam os
duzentos indivíduos, e cavavam o chão com seus cascos em um vai e vem constante
marcando o trieiro entre os bebedouros e saleiros, os pontos negros ao longe
denunciavam as grandes famílias de Emas que corriam protegendo a filhotada em
grandes bandos.
Era
tudo novo e preservado, o sol parecia nascer menos quente, e o dia parecia ser
mais longo, o relógio viajava no bolso e a toada era sem pressa, uma calmaria
soprava pelas campinas onde a onça pintada caçava nas noites sem lua, e nas
grotas e na pedreira se ouvia o esturro do macho agoniado perguntando se tinha
algum visitante no seu terreiro.
Logo
o menino virou homem e com a perda do pai herdou a lida da fazenda e com ela a
patente, agora era tratado de Coronel Firmino, mas o tempo sem beira nem eira,
não carrega perdão, levou rapidamente os anos e logo a juventude e todo aquele tempo
maravilhoso ficaram engastanhados em um passado perdido, o coronelismo já não
existe mais, e toda nostalgia não passava de bestagem de velho.
Mais
as coisas mudaram e o mundo se chacoalhou feito cachorro molhado jogando tudo
que é bom para fora dele, os campos viraram capim plantado, as matas se
acabaram, e os bichos ficaram escassos de se ver, de longe acabrunhado já
corriam pedindo socorro, o mundo preservado sem o domínio das máquinas ficaram
somente na lembrança.
Hoje
era seu filho mais novo, o Augusto quem tocava o fole naquelas terras, Augusto foi
o único dos três filhos que não tomou rumo, os outros logo cedo assim que
cursaram a faculdade sumiram mundo afora, fazendo carreira.
Filho
tem gosto de ingratidão, dizia o velho Coronel, mas faz parte do sentido de se
ter cria, somente um ficou e de certa forma Augusto deu grande apoio ao pai,
ele trouxe muitas melhorias para a fazenda, se formou em agronomia, buscou
novos investimentos, maquinário, era um apaixonado pela pecuária, talvez
estivesse ai o maior erro, o único bicho que ele admirava era o gado.
Preservação
era algo que não existia no vocabulário do jovem fazendeiro, seu sentido era
ganhar dinheiro, e pra isso ele não media esforços.
Augusto
se fincou ali, amava a vida no campo como o pai e o avô, mesmo tendo uma forma
diferente de ver e lidar com a natureza, foi ali naquelas terras da Fazenda
Aliança que ele fincou raiz, tomava conta de tudo e agora o trem estava mudado
por demais, era cerca de arame liso pra todo lado, pasto formado e dividido,
gado marcado e com documento igual gente, tudo registrado num tal de
computador, a casa grande já tinha reforma e a luz já tinha chegado fazia um
tempão.
Com
a energia veio a geladeira e um monte de trem que facilitaram a lida, e assim
foi chegando a modernidade e veio também o asfalto e um monte de mudança que
levou uma destruição sem medida nos bicho, nas mata e nos homens.
Seu
Firmino estava debilitado pela idade, sua a voz baixa e o andar lento mostrava
que o tempo lhe cobrou caro pela estadia por
essa terra, sua opinião de patriarca pouco valia para uma juventude que
pensa saber tudo e pouco procura o conselho do pai.
O
eufórico coronel Firmino agora estava preso a um corpo sem forças e passava os dias na casa grande da fazenda,
variando da cama para a cadeira de balanço, a vida corrida que outrora lhe
roubava as horas, hoje não existe mais, agora os dias são longos, dolorosos e difíceis.
Depois
de perder sua esposa, Dona Joana, que foi companheira de uma vida inteira, as
cores fugiram dos seus olhos, seu sorriso se amarelou, agora apenas esperava
pacientemente a morte chegar, apesar do grande amor que tinha pela vida, sabia
que seu tempo estava no fim, precisava descansar, em breve chegaria a sua hora.
O
que ainda lhe dava forças era a natureza que apesar de toda as atrocidades que
o homem tem feito contra ela ainda se mostrava viva e latente, seu maior prazer
era sentar em sua cadeira de balanço instalada na varanda e apreciar o nascer e o pôr do sol, durante o dia se
divertia ao ver os pássaros em sua lida diária, o cantar do Canário da Terra no
beiral do alpendre, o andar pomposo e preciso do João de Barro no terreiro,
cada detalhe da natureza ainda fascinava o velho fazendeiro, que a tudo parecia
estar vendo pela primeira vez.
Sua
vida inteira foi dedicada a lida da terra, seu sorriso amarelo, suas mão
calejadas e sua pele enrugada eram a prova da sua luta diária para levar o pão
a mesa dele e de seu povo, mas um presságio de mal agouro estava por vir, um
corujão cantou a noite toda a janela de seu quarto, como quem anunciava uma
tragedia.
Naquela
manhã o sol veio com cor de sangue, as nuvens raliadas desprendiam no horizonte
dizendo que algo ia acontecer, logo o vaqueiro Damião chegou agoniado a casa
grande, trazia na ponta da língua a notícia de mais uma novilha que a onça
matou, era o fim das águas, naquela região era comum que os gatos pegarem
criação no início e fim da estação das chuvas, Seu Firmino acostumado com o
fato balançou os ombros e disse:
Todo vivente precisa comer seu Damião, sempre foi assim e
antes no passado ainda era maior a perda, porque tinha muita onça por essas
bandas, hoje gato é bicho escarço, beirando a extinção, no tempo de meu pai e
ainda na minha juventude desonçar era coisa normal, mas com o tempo eu aprendi
que essa matança não era o caminho certo, assim meu filho eu aprendi que é
possível conviver com a onça pintada sem ter que matá-la, Deus fez o mundo
grande pra mó de ter ponto de morada pra todo vivente.
Mas seu filho Augusto ao ouvir a conversa já saiu pela porta
cuspindo marimbondo, perdemos mais uma, não pode Damião, e inconformado com o
acontecido andava de uma lado para o outro, e assim foi se anervando de tal
forma que uma ira tomou conta do seu coração e o sangue lhe ferveu nos olhos.
Vamos matar essa onça, retrucava ele pois a sede da vingança
apertou sua garganta, tinha que dar um
basta, já era a segunda novilha morta em menos de dois meses, sem falar no
potrinho que sumiu sem dar cabo de rastro nem carniça.
Quero essa bicha morta, gritava em tom de agonia, o gordo
Augusto andava de um lado para o outro batendo o salto da bota no madeiramento
do piso que de longe se ecoava o baticum, resmungando sem parar e suando feito
tampa de chaleira, enquanto isso a voz rouca de seu pai lhe pedia calma.
Num pode agir assim meu filho, a gata cobra seu preço, é o
arrendamento por uso da terra que é dela também, a gente tem que entender que é
assim que a coisa funciona.
Não
meu Pai, vou fazer do couro dela um tapete, essa gata sem vergonha não vai mais
matar meu gado não, ela vai morrer, foi ai que o velho pai pode ver que a fúria
da guerra estava instalada, quando ele olhando fechado em seus olhos lhe disse.
A
onça tá morta.
Foi
quando deu as costas e voltou para dentro da casa grande, Damião calado estava
calado ficou, logo augusto voltou empunhando a velha cartucheira calibre 20 de
dois canos, e uma caixa de cartuchos, seu Firmino ainda tentou dialogar mais
foi em vão, ele entregou tudo na mão de Damião dando ordem de esperar na
carniça até a onça voltar e matar a gata acabando com o prejuízo de perder
criação.
Damião
nem olhou para o velho coronel, sabia que seria duro encarar seu olhar e ter
que obedecer a ordem do Sr. Augusto depois, apenas balançou a cabeça
positivamente e saiu caminhando com o olhar fincado no chão, Sr. Firmino
balanço a cabeça negativamente mas já era tarde demais, a ordem estava dada.
Augusto
sabendo da natureza do pai naquele dia o evitou o máximo possível, e foi um dia
longo parado, parecendo que a Dona Natureza preparava algo bem diferente,
quando o dia se findou e o sol se escondeu por trás da serra, seu Firmino se
retirou, não quis saber de janta, se refugiou em seu quarto, onde deitado fitou
o teto escuro colorido com rajas de claridade que vinham da luz da varanda e
ali viu toda sua vida passar em um filme elaborado por suas lembranças.
A
noite prometia ser tão longa como o dia e tinha feitio de noite escura e sem
lua, as horas foram passando e devagar o frio anuncia a chegada da hora grande,
entrava a madrugada quando o som do disparo da cartucheira ecoou nas grotas da
Fazenda Aliança, anunciava a morte da Rainha, o fim de uma dinastia mateira derramava
o sangue por entre o capim cultivado em um ambiente alterado pela mão do homem.
O
coração do velho Coronel se apertou e as lagrimas molharam a fronha do seu
travesseiro, pois ali morria talvez a última onça pintada da região, uma
sobrevivente, naquela manhã o dia amanheceu magoado, o céu escamado de nuvens
baixas e escura com uma garoa fina chorava a morte da rainha que em outras
épocas reinava naquelas matas, seu esturro rompia as grotas e seu rastro era
visto nas estradas, mas tudo isso é hoje apenas uma lenda, que seus netos
jamais vão poder ver ou ouvir...
Naquela
madrugada a natureza também levou o Coronel Firmino, velho caçador e fazendeiro
que aprendeu com a morte da natureza que era preciso também preservar, para que
outros pudessem ver e viver como ele viveu, a saudade de uma mata viva apertava
seu coração, com seus olhos ele viu que foi desmatando que a fauna morreu.
Foi
um grande corre corre na casa grande da fazenda, o filho chorava a perda do
pai, a mata chorava a perda da última onça pintada, o céu desabava em chuva no
funeral do patriarca, todos calados choravam a perda de um grande homem, talvez
ele esteja melhor agora, perto da amada esposa Dona Joana, pensou Damião, que
por ordem de seu amigo Coronel Firmino nesse mesmo momento enterrava o corpo da
onça pintada com o respeito que ela merecia, no alto da serra e em uma cruz
improvisada ele escreveu.
Rainha
da floresta.
No
dia seguinte a vida continuava o sol rompia por detrás dos montes levantando o
véu escuro da noite, a perdiz piava acanhada anunciando mais um amanhecer no
meu Goiás...
Um
espetáculo que não me canso de assistir, para traz a saudade de um velho amigo
e a lição de que todo vivente precisa viver......
Bello
20-04-15
MATEIRA
NA UNHA
O dia chegou ensolarado, era sinal que a estiagem que
castigava a região perduraria por mais tempo, nada de nuvens no horizonte, céu
azul turquesa de doer a vista, o capim
seco fazia o gado perambular em busca de comer, verde mesmo só ao longe a beira
do Rio São Bartolomeu que cortava a divisa da fazenda.
Zezinho ajeitou as coisas no beiral da casa, deu de comer as
galinhas e aos porcos, tirou o leite e logo notou a ausência de uma novilha,
então assim que terminou os afazeres selou o cavalo e foi em busca da novilha
desgarrada, ao seu lado acompanhando em andar firme o fiel vira latas Campeão,
cachorro de porte grande calejado na lida do gado e treiteiro em uma caça como
nenhum outro, Campeão sempre lhe acompanhava por todo lado.
Preocupado
com o sumiço da novilha ia devagar varrendo com o olho todos os lados, rompeu
mundo a fora e nada, deu a volta no bebedor, no coxo de sal, no batedor, e nada
de sinal dela, então voltou beirando o rio na esperança de que em busca de
verde a desgarrada estaria perambulando por aquela beira.
Logo beirando a curva já se ouvia o ronco da corredeira que
lutava por entre as pedras buscando caminho de descida, foi quando Campeão numa
tramoia doida montou em uma mateira que num tinha mais tamanho, a bicha treiteira
saltou feio e correu para a beira do
rio, negaceando de forma a enganar o velho vira lata, porem a experiência do velho cachorro mateiro falou mais alto, que
veiaco atalhou a frente e jogou a bruta dentro d´água, ai foi um Deus nos acuda
de acuação e agonia.
Zezinho cabra veiaco, já tinha apiado e cortado mata adentro
para atalhar a dita mateira, mas chegando a beira do rio quando se deu com a
imagem do cachorro montado no lombo da bicha foi que se deu conta de que o
facão ficara amarrado a cela, mas obstinado a voltar pra casa com a carne da
semana, não hesitou e pulou na água.
Nadando um bom trecho montou na bicha apoiando a trabalho do
cachorro, e ai foi por mais de metro, pega dali, larga daqui e vai que afoga,
vai que toma coice, inté que chegaram numa beira de rasura que deu pé, ai o
home tomou mais tento de força, grudou no pescoço da bruta e tentou afogar a
bicha, que veiaca e ainda com folego, saltitava feito louca, mesmo com as
costelas sangrando de cortes feitos pelo casco afiado ele não desistiu da briga,
peão apurado dava uma reis para evitar confusão, mas depois que estava nela
dava uma boiada para não sair. Campeão ajudava no que podia, garrado nas
orelhas com um latindo resmungado estava
decidido a não perder a caça, a corredeira forte que estribuchava por entre as
pedras fez eles descerem mais um bom trecho saindo da rasura, e ai começou
novamente a luta.
O reboliço das águas se misturava com o cantar singelo dos
passarinhos que da ramada do barranco parecia acompanhar a briga, não se sabe
se torcendo pela fuga da mateira ou pelo cachorro e o caçador, o pobre do
cachorro já cansado e sem folego pouco fazia, por vezes bebeu agua em demasia e
quase que se afoga, mas perseverante apenas se preocupava em continuar nadando
com os dentes cravados na orelha do desatinado cervídeo. Zezinho também já
estava no limite de suas forças e nada tinha para ajudar na lida, nem ao menos
um misero canivete corta fumo, apenas as mão e a boa vontade.
E dessa forma rebuliçavam corredeira abaixo os três
obstinados garrados num luta medonha, nesse ponto a mateira muito cansada já
começava a entregar os pontos, o velho cachorro também já estava no fim do seu
limite e pouco fazia, foi quando uma nova rasura chegou e novamente deu pé e nesse
ponto foi ficando bem raso, foi ai que Zezinho com muita luta conseguiu pegar
uma pedra grande que com toda força rumou na moleira da cabeça da mateira por
várias vezes até que inconsciente a valente lutadora se entregou, amolecida pelas
pancadas e fatigada pela luta, logo foi afogada com facilidade.
Quando a luta acabou, foi que ele se deu conta do tanto que
rolaram rio abaixo, pra mais de dois quilômetros de agua corrida, uma das botas
sumiu, a camisa estava rasgada, na costela direita, dois grandes cortes minavam
sangue, na batata da perna outro corte, na coxa direita mais dois furos,
Campeão mais sortudo e esperto nada tinha sofrido, a não ser o cansaço da luta.
Zezinho ainda com a respiração ofegante, retirou devagar seu
troféu do rio, e subindo o barranco com a criada mateira, viu o fim de suas
forças, assim caiu na areia ofegante buscando repor suas energias, ficou ali um
bom tempo olhando para o céu, como que agradecendo pela vitória, sem se dar do enorme risco que tinha corrido, poderia ter
morrido naquela empreita louca, mas naquele momento queria somente descansar, pois para ir buscar o cavalo e levar a caça
abatida para tratar em casa ainda tinha um bom pedaço de caminhada.
Com carinho tirou o velho cinto de couro, piou as patas
traseiras da mateira e pendurou a prenda na galhada de uma ingazeira, e tombou
na areia da praia mais uma vez, ficou ali por um grande período, não sabia
dizer ao certo, mas calcula que por mais de hora, ao seu lado Campeão estava
deitado em um buraco que depois de muita bagunça tinha cavado, de orelha murcha mais já
descansado foi-se um pulo quando Zezinho levantou dizendo, ...Vamos.
Rompeu pelo trieiro batido da beira do rio mancando com uma
única botina, alegre pelo grande feito, e mesmo sentindo a costela e a perna
reclamar do mal feito logo chegou a montaria, apiou e foi buscar a prenda, que
veio na garupa do velho cavalo.
Chegando em casa a mulher no alpendre da casa curiosa
perguntou.
_Home
pegou esse trem como se num levou a porveira.
E
ele sorrindo respondeu...Na unha muié, na unha....kkkkkkkkkkkkk..
Bello
27-11-14
O SENTIDO DA EMPREITA
Meio
escabulhado pelo frio da madrugada eu me ajeitava na rede apoiando os pés no
mutá. Poleiro confortável faz a gente não sentir o passar das horas na
madrugada de forma maltrata menos o espinhaço, quando o dia começou a lambiscar
a barra da noite, nos granhudo embaralhado da grota uma maloca de Jacu grugulhavam
como que reclamando da mal dormida, puxei da mochila o carote d’água, moiei a
goela nuns gole rasteiro que o trem gelado pelo frio da madrugada foi bater no
bucho fazendo sentido do rumo que seguia.
Uns
passarinzinho miúdo de cor pardacenta logo danaram o pular bulinando nas ramas
que circundava a fruteira, uma jaó passou apressada, balançando o pescoço e
oiando de lado toda treiteira. Eita trem pra ter olho bom é bicho de pena,
enxerga de forma a encabular a gente, a visão é em angulo de fazer inveja a
muito vivente, talvez o Criador no auge do planejar dos bichos, deu as aves
esse recurso como ponto forte de defesa, por serem tão indefessas em frente a infinita
corja de predadores que labutam no seu encalço, afinal gato do mato, de todo
tipo num perdoa um Jaó, assim como o sertanejo, que lambe os beiço só de pensar
em uma Jaó frita e depois cozida no arroz feito Maria Izabel, trem bom que
atina o lombrigueiro do bucho a ponto de fazer brotar nascente d’água na boca
da gente.
Cortei
a palha e preparei um pito, antes mesmo de atiçar a binga, uma cutia fez bulha
dando a volta desconfiada com meu atrevimento, nem dei motivo, era o ultimo dia
da lida, então o que tinha que ser já foi, tem que ter o entendimento que pra
tudo tem seu tempo, e tem horas que ver a vida da mata vale mais que uma boa
caçada.
Na
primeira esperada da viagem, fui sem motivo de crença, o trem tava isento de
piseiro e parecia que o doce daquela fruteira num agradava os bicho, mas pra
minha surpresa ainda no lusco fusco do fim do dia com a chegada da noite uma
leitoa listrada já fazia presença, malinando com todo cuidado, com seu pisado manso e cadenciado, logo outros
trem danou a bulir no mato, noite de mata viva, onde de tudo anda numa
algazarra de dar gosto, que nem o cochilo que ronda a cabeça consegue aprumar
no corpo da gente.
Noite
viva é aquela noite que tudo que é vivente resolve fazer trilha, noite que
rompe bulha pra todo rumo, o trem fervilha bonito, de longe e gente ouve a fara
do tatu galinha, fuçando as folhas em busca de larvas e pequenos insetos, como
é que pode um bichinho tão pequeno ser tão barulhento, quem gosta disso é a
gata, que tem janta garantida porque de longe apura a bulha e vai de encontro
com o lanche.
Noite
morta, é a aquela noite parada, quieta, que nem grilo canta, parece que num
combinado sem medida, a bicharada resolve como que por encanto se aquietar.
Tem
um causo que conta a o porquê da NOITE VIVA e DA NOITE MORTA, esse causo ouvi
na voz do finado amigo Nego Lilico, causo contado lá no sertão mineiro, pras bandas das veredas onde habita o Sussuapara,
diz o povo que no variado do mês em dias desencontrados e sem cadencia certa a
mata se cala, os bichos se entocam, tudo some embrenhado na macega, nem grilo
canta.
Nessa
noite, o espírito da mata enviado pelo Pai Maior vem buscar o sopro de vida dos
bichos mais velho e levar para o além, e em respeito a isso, aos patriarcas da
mata tudo fica quieto, é a noite morta, noite que nem o rato que é trem sem
respeito perambula, inté muriçoca evita cantar no ouvido da gente.
Outras
pessoas dizem que é recurso da natureza pra mó de preservar os bichos, pra mó
de num acabar a caça, seja assim ou de outro jeito, acreditando a gente ou não
o trem acontece, por mais que a fruteira esteja triada, por mais que a ceva
esteja moída, tem noite que bicho num anda, nem usando de apelação se arranja
caça pra mistura.
Já
a noite viva, reverencia o nascimento, a cruza, o alimentar, a corte, é noite
de festa, então os bicho se atazana mata afora em busca de vida, é quando o
grilo canta alto, os rato dana a correr saltitando nas ramagem, o corujão corta
o mundo com seu tic tic e o lobo Guará apronta o seu griteiro, aprumado por
riba de um cupinzeiro com o focinho no rumo do céu.
Trem
sofrido é o tal do Guará, bicho de andar minguado, sempre solitário, parece que
o criador na pressa de terminar o serviço deixou ele meio fora do prumo e do esquadro,
vejo que é um bicho mal interpretado, inté por demais da conta, de brabeza num
tem nada, manso e lerdo é que é demais, pelo tanto que foi perseguido no
passado quase que some do cerrado.
O
povo antigo tinha um monte de treita besta e sem sentido com o pobre do Guará,
era costume andar com um pedaço de couro no bolso do alforge pra mó de espantar
cobra, outros acreditavam que o pedaço de couro não deixaria faltar o cobre, o
dinheiro, uns mais covardes tiravam o olho do Guará ainda vivo em noite de lua
cheia, secavam no sol e usavam como amuleto de sorte, para ver o futuro e enfeitiçar o coração de muié bonita, inda pra
findar o sofrimento do coitado, outros arrancavam o orifício anal ( o cú ) do
pobre para atrair riquezas.
Inda
bem que chegaram a conclusão que tudo isso não passa de crendice besta de gente
antiga e sem afazer, de tanta coisa que a gente ouve acho que essas covardias
com o nosso tão gracioso lobo Guará é o auge da insanidade de todas as crenças
populares que já ouvi.
Voltando
ao causo, não sei se essa historia da noite viva e noite morta esta dentro da
verdade, ou se está a mile metro dela, mais que tem muita coisa estranha na
lida do mateiro, há isso tem, e que tem noite viva e noite morta isso também
tem, inté quem vive da pescada comenta isso.
Mas
tem problema não, se é assim fica esses dias para o mateiro tirar a refletir,
pra mó de quietar em casa, jogar um bom carteado, tomar uma brejeira e se
embolar com a morena no frio da madrugada.
O
sol já vinha firmando, era dia de ir embora, e comecei a desamarrar a rede,
inda bem que essa empreitada deu aprumo no embalar do resultado, mas o
importante de tudo isso é estar aqui, no meio da mata, vendo as horas caminhar,
escutando o cantar dos passarinhos, ver o preto reluzente com o topete vermelho
do soldadinho que a natureza penteou para frente, apreciando e curtindo os transeuntes
da mata e cada detalhe que ela oferece.
Aqui
o espirito revigora, o coração se enche de alegria, os olhos brilham, e abrindo
meus braços como que querendo abraçar todo o meu sertão eu sinto dentro da
minha alma que tudo isso junto forma............O verdadeiro SENTIDO DA
EMPREITADA...
Bello
10/07/14
O CÃO E A PACA...
Vou contar um causo procê meu filho, um causo antigo, dos
bons tempos, afinal dispois que a gente fica veio o que sobra são as boas
lembranças...
Naquele
tempo eu era um cão mestiço novo e cheio de força, tudo começou em um caixote
de madeira veio, onde minha mãe, a Duquesa deu cria, dos cinco irmãos eu era o
mais mirrado, de latido fino e com os oios cheios de remela, lembro como hoje o
dia que chequei aqui, a roça era algo desconhecido, tudo era novidade, meu dono
o veio Zé, me tratou a fole, até eu completar seis meses de vida e numa noite
depois de uma pingaiada doida, ele me oiou nos oio e disse:
_Amanhã
nois vai pro mato...Vai descansar...Vai...Passei a noite pensando e o sono
demorou a chegar , afinar eu ia pro mato, eu ia pro mato!!!
Essa
foi a minha primeira saída, foi pras banda do capão redondo, mata fechada, cipoal
trançado, carrapato innnnnté outras hora, saímos, cedo ele montado na veia égua
Mulata e eu acompanhando eles todo mocorongo e desconfiado,pra cada passo dela
eu tinha que dar uns trinta, pense numa canseira, mas devagarzinho chegamo lá,
ai o Zé me oiou novamente com ar de seriede e confiança, aquele olhar profundo mateiro
que tocou minha alma ....
Essa é a empreita, presta tenção ...oia.... Dizia ele, cê
tem que ranjar o trieiro, e dispois ranjar a paca, se ocê passar por essa,
ocê ta empregado, mas se faiar....!!!!!!
Me deu uma tremedeira danada, afinal, o que era uma paca?
E lá fui eu, rompendo mata adentro, carrapicho,
carrapato, purrrrga, cipó na cara, riacho de água gelaaaaaaaaaaada, pense,
nummmm ralador....inté que dei num trieiro batido, limpinho tinha um cheirinho
diferente, cheiro que eu nunca tinha sentido...ai o Zé aprumou suado, abaixou
oiou e balançou a cabeça dizendo...
_É
paca e das grande.
Se é
paca, pensei, ela tinha andado a pouco tempo por ali, danei a latir, banar rabo
e desci grota abaixo, fuça aqui, cheira ali, mexe acula, acabei chegando em um barranco próximo do
riacho e achei um buraco, o cheiro tava forte, meu faro apurado me dizia...Essa
tar de paca deve di ta ai dentro, e
danei a latir...Ele chegou logo dispois e tirando o chapéu limpou o suor da
testa dizendo:
_É
paqueiro encontramos a toca da danada....
Foi
treita pra mais de hora , quase voltei mudo de tanto que lati naquele dia, mas
foi minha passagem, o momento mais feliz da minha vida, estava com a estadia garantida,
ajeitei, fiz força, entrei buraco adentro e a danada cuspiu pelo suspiro, ai
foi outra luta, ela gritava me larga, me larga, fazia menção de morder, pulava,
esperneava, mas tava segura, ai pra acarma eu disse a ela:
Amiga só vim te convidar pro armoço, quando
ela acarmou ajeitei ela e o Zé piporcou a porveira...E a leitoa foi armoça com
nois................ O que ela não sabia, é que ela era o armoço!!
As veis fico pensando o que o ele ia fazer se eu faiasse
nessa empreitada...Já ouvi falar num tar de cachorro quente...Será que ele ia
esquentar eu pro armoço ao inveis da paca???
E durante muito tempo nois demo sorte, e triamos juntos
os rincões e grotões daquela serra, eu o Zé, a porveira, a garrafa de pinga, o
facão e o paieiro do seu bornal.
Dia de domingo era sagrado pra nois, dispois da missa era
caçada, o capão redondo tava inté ficando pequeno, pela parte de cima nois as veis faiava, uma
escapava outra vinha pro armoço, mas foi minguando o trem, trieiro bom tava
difícil, afinal, a um bom tempo nois andava batendo por ali, a mata tava
curta,muita arvore tinha virado carvão ou porteira de fazenda, então diminuímos
a saída, passamos a ir uma vez no mês, e na época das cria, nois também tirava
férias, ai quem passou a sofrer foi as trairas da represa, porque nois partia
pra pescaria...O trem bão é pescaria.....
Um tar de coroné tinha comprado a fazenda do
fundão e desmatou tudo pro mó de criar gado, e nisso a mata tava cada veis mais
curta, mas nossa caçada de paca era sagrada, e ele me olhava com carinho dizia
ao afagar minha cabeça...Meu cachorro paqueiro...............Aquilo pra mim era
o maior orgulho que um cachorro mestiço poderia ouvir. Afinal meu nome fazia
jus a minha reputação, Paqueiro...Eita nome bunito....
Lembro
como se fosse hoje, e oia que 13 anos pra um cachorro e velhice demais da
conta, era um domingo nublado, de sol fraco e vento manso, o Zé ajeitou o
bornal, vestiu a carça veia, a camisa maiada que imita mato e passou a mão na
porveira, saiu pela porta do barraco e gritando...
_Vamo
Paqueiro....E descemos serra abaixo, o sol calmo parecia não querer queimar a
terra, no campo a seriema fazia dueto, e nois pegamo rumo entrando pela mata, rodamos pra cá e pra
lá, subimos o estreito até o paredão e nada de trieiro, descemos rumo ao
jatobazeiro, tinha fruta no chão, mas nada ruído e nada de trieiro, fomo em
frente, passamos na pedreira e abrimos trieiro por uma parte fechada que a
gente sempre evitou, afinal era o lugar que mais tinha carrapato micuim,
aqueles pequeninho que oce empola todo ...Pense numa coceira bruta..
Rastei
barriga no chão inté coçar o umbigo, o lugar era tão estreito, que até cobra
ensaboada passava aperto pra entrar, e pra minha surpresa dei num trieiro que
tava lindo de se ver, varridinho, e pela largura era paca grande e gorda, aquele cheirinho da leitoa me lembrou minha
primeira empreitada, eita trem
ajeitado...Pra num mosquear fui devagar sem dar alarme, queria fazer surpresa
pro Veio, e no meio das pedras coberto por espinho, gaio, cipual e tudo mais
que dificulta a gente de andar, eu pude ver,
tava lá, linda ,,,,a maior toca de paca que eu já tinha visto....
Meus oios brilharam, e demorei a acreditar, resolvi
naquele dia não latir afinal era uma baita surpresa pro Zé, já tinha tempo que
nois andava sem sorte, foi quase um ano de lide sem petisco, então fui negaceando
devagar,palmo a palmo, queria ter certeza que a bruta tava ali dentro, já até
sentia o gostinho dela na ponta dos meus dentes, meu faro denunciava, era uma
butela, fui entrando devagar toca a dentro...De repente
...Bruuuuuuuuuuuummm....
Pulou na minha frente a maior leitoa que eu já tinha
visto, grande e gorda, regalou os dentes e braba que nem siri na lata, já
chegou gritando....
Ocê dinovo, a anos venho fugindo docê, num quento mais,
to pra ficar doida, ocê cabou com mimha
família, e agora quer acabar comigo também,
acabando comigo ai ocê acaba com tudo mardito Paqueiro, oce pode ser uma lenda,
mas eu tumbem sou, sabe purque???
Eu sou a urtima paca!!
A urtima, a única que conseguiu escapar docê esses anos todos, uma lenda
viva , mas agora cabou, ocê me pegou,
porque to gorda e encurralada, mas saiba que acabando comigo, acabou a
caçada....fim companheiro..fim entendeu, ocê vai aposentar, cabou mato, cabou
caçada, cabou paca, cabou tudo Paqueiro....Fim...
Naquela hora eu congelei, perdi a noção do tempo e minha
cabeça se embrenhou em todas as empreitadas vividas, acabou caçada..eu to morto
e o Veio Zé também, o que a de ser de nois, tamo perdido, nosso domingo vai ser
morto, vamo pegar barriga sentado no alpendre, oiando galinha limpar terreiro,
meu Deus o que a de ser de mim...Então me veio a idéia, como se o recado fosse
ouvido...
Vamo fazer um trato, pra mó di num acabar a nossa
farra, eu finjo que to atrás doce, e oce
foge, embrenha mato adentro e nois vai remoendo, e no fim eu do um nó e oce
escapa, e nessa nois vamo tocando o barco, oce se diverte, eu tombem, e o meu
veio tombem, o que oce acha comadre?
A paca sentou não acreditando na conversa, e
retrucou..Comadre!!!!...Encabulada mas sem saída respondeu com voz miúda..
_Bom
compadre, pra mim ta bão por demais, afinar to precisando correr e perder uma
gordurinha...kkkk.
E assim dispois do trato feito, nois uma vez por mês ia pra caçada, e era uma
farra danada, era dia de voltar rouco pra casa de tanto latir, e o veio Zé cada
vez mais se sentia motivado em pegar a comadre paca, que sempre por milagre
divino..kkk...dizia ele..Conseguia escapar.
_O bicha treiteira, mais uma hora nois pega ela.. Né
Paqueiro?
E por
um longo tempo nois perseguimos a compadre, mantendo firme o meu acordo, e os
anos se passaram, eu e ela envelhecemos e o Veio Zé já não caça mais, foi-se
dessa para melhor, a comadre a uns anos atrás, inté ajeitou um parceiro, que de
passagem vindo de outras bandas acabou fincando morada no Capão Redondo, e deu
uma filhotada danada pra mó de povoa o veia mata, inté as veis vó lá pra fazer
uma visita....Mas o mais importante de tudo é que vivemos os últimos anos de
nossas vidas com alegria e felicidade, e entendemos que muito mais importante
que levar a paca pra ser armoço, é estar no mato, sentindo o cheirinho da
relva, é ouvir o barulho da água que corre na cachoeira, é ouvir a juriti
cantar, e sentir a paixão correr pelas veias ao olhar de longe o velho e tão
amado Capão Redondo, aquele tapete verde que faz brilhar os oios da gente.......E
saber que vivemos o melhor dessa vida, e ter a plena certeza que a felicidade
existe.....Essa meu filho Paqueirinho é a historia desse seu velho pai, esse
cachorro mestiço chamado Paqueiro.....
Nessa
mesma hora surgiu pela porta da velha casa um menino espuletado, era o netinho
do veio Zé, o Zezinho, e com o estilingue na mão gritou....Vamo paqueirinho,
simbora anda...
Parando
logo a frente ele abaixou e disse em tom brabo..
_Oia
Paqueirinho tenho uma empreitada procê......Mas se ocê faia, e romperam mata
adentro rumo ao capão......kkkkkkkkkkkk...É assim companheiro, é o fim chamando
o principio, pra poderem se encontrar.kkkkk. Mais ai é uma outra história, que
dispois eu conto procêis....kkkkkk...........................
Bello
19/12/12
A VOZ DO MUNDO
A
natureza nos ensina, basta apenas observar, buscar e entender, a natureza fala,
gesticula e grita, basta apenas querer ouvir, as vezes os olhos precisam buscar
a magia do toque de Deus, as vezes é preciso deixar a sensibilidade falar mais alto, mas a vida
agitada do consumismo e do sonho implantado, faz da maioria cegos. Como dizia o Messias....São cegos guiando
cegos.
Devagar
bem devagarinho, com passos lentos e cadenciados a visão chegou na minha retina
e meus olhos passaram a ver, meus ouvidos a ouvir, meu olfato a sentir e minhas
mãos a tocarem a mais perfeita criação divina...O movimento e as vozes do mundo.
Vejo
a flor que brota vistosa na montanha, me falando que a beleza esta nos olhos de
quem vê, pois muitos passarão por ali, outros viverão ali, mas não a contemplarão,
vejo o pássaro como o João Graveteiro, transando o seu ninho com a maestria de
um grande artista, com gravetos três vezes maiores que seu próprio corpo, me
dizendo que mesmo sendo pequeno é capas de realizar grandes obras, temos a
capacidade das artes da fé e do amor.
Vejo
quando a pequena coruja defende seus filhotes mesmo contra grandes predadores,
que não importa nossa força, nos fazemos forte pelas mãos de Deus, pelo amor
que nos transforma em gigantes.
Contemplo
a pequena planta que teimosa nasce em meio as pedras, suas raízes buscam as
pequenas fendas para se fixar, consigo escutar claramente ela me dizer, que da
vida, nunca podemos desistir, quando pensamos que tudo está perdido é que
percebemos que na vida nunca tudo se perde.
O
vento do norte sopra por sobre as arvores espalhando suas sementes para
perpetuar a espécie, mesmo estando ali fincada ao solo, o universo e o mundo
trabalham para que sejas eterna, para que prolifere sua espécie, e não nos
falte a sombra e o fruto, suas folhas mortas caem para alimentar o solo que é o
pai da mata, e escuto a voz da terra me dizer .
Estou
viva e também trabalho pela humanidade e por você.....
A mãe
terra respira e se movimenta, e nos aconchega mesmo fazendo o que fazemos
contra ela, porque diferente do homem ela só traz o bem, o homem por sua
natureza má, perdeu a compreensão sobre sua própria existência. Como dizia o
Messias...Vocês que são maus sabem dar boas dadivas aos seus filhos...Imagine o
Pai que é bom.
Deus
é o tudo, o inicio, o meio e o fim....É o ar, as aguas, as matas e tudo mais
que movimenta todo universo.
O rio nasce frágil, fraco e pequeno. Assim
como os homens, muitas vezes em um humilde filete d’água, mas persiste e ganha
força quando encontra aliados córregos e ribeirões....Ensinando
aos homens que nunca se vence uma guerra lutando sozinho é preciso ter aliados
...E sua águas seguem seu caminho, correndo
vale abaixo, hora calmo, hora caudaloso. Dizendo ao homem que nosso caminho não depende somente do nosso
desejo, mas estamos sujeitos as intempéries do mundo. No lugar limpo sem obstáculos ele fica calmo.... Ensinando ao homem
que é preciso se resguardar na bonança para que se tenha força nas potestades....Mas quando encontra barreiras cria
correntezas e se faz forte...Ensinando ao homem que a força nasce nas intempéries.....E ele segue seu destino e encontra o Mar...Ensinando ao homem que
tudo acaba no grande Pai....E suas águas
viram vapores e vão ao céu...E no circulo das águas retornam a nascente....Ensinando
o homem que TUDO ACABA ONDE COMEÇOU.
Pois
quando a nuvem negra no horizonte
derrama seu véu de chuva por sobre o mundo, e o ciclo das águas toma seu rumo,
a natureza me mostra segredo do universo, de que tudo vive em constante
movimento, a força vital de todo universo, afinal a terra girando, suspensa no
espaço, obriga que todas as formas se
movam também.
No
céu azul a águia corta os ventos com seu majestoso vôo, com a sabedoria da
solidão, nos ensinando que muitas vezes estar só em alguns momentos também é
preciso, e que o impossível também é possível, Os objetivos, que devem ser
claros e justos pois as sementes lançadas germinarão e cada fará sua própria colheita.
Durante
anos na minha cegueira, eu me perguntava.
_Meu
Deus, porque ainda mantem vivo esse mundo de desigualdades e mazelas?
E durante
muitos anos essa pergunta vagou meus pensamentos, até que um dia em uma viagem, encontrei um homem sentado no posto de gasolina que parei para almoçar, ele estava sujo,
maltrapilho com sua barba longa e cabelos sobre os ombros, um saco cheio de
coisas velhas pairava ao seu lado, ele me fitou com seu olhar melancólico, atônico,
que me tocou.
Almocei
e fiz uma marmita pra ele, ao passar entreguei em sua mão, ele simplesmente me
olhou nos olhos, e recebeu. Sai caminhando quando ele gritou..
_Ei
moço....Sabe porque Deus ainda mantem esse mundo vivo? Porque ainda tem pessoas
boas que valem a pena, pessoas que cultivam o bem.
Então neste momento eu entendi que Deus
acabara de falar comigo e responder minha pergunta que há muitos anos me atormentava,
usando a voz daquele simples homem, que até hoje eu acredito ser um anjo que
foi enviado somente para me dizer...EU
SOU TEU DEUS E EXISTO, E ESTOU AQUI, E TE ESCUTO E MANTENHO O MUNDO VIVO PORQUE
AINDA EXISTE PESSOAS QUE VALEM A PENA.
Então essas são a voz do mundo, pois não
estamos falando só, falamos todos nos, as arvores, os animais, a agua, o vento,
as estrelas, o universo, cada um a sua maneira e com a sua voz.
Cada
detalhe, cada ação, tudo tem um longo ensinamento, bem aventurado aqueles que
podem ver, bem aventurado aqueles que podem ouvir, porque esse é o caminho para
conhecer a própria existência, é preciso sensibilidade, mas é muito importante
querer ouvir, se o mundo lhe fala, pare contemple e escute a voz de quem levou
bilhões de anos para perpetuar a obra do criador. A vida.....
Bello30/12/13
kkkkkk... maravilha de conto kkkkk
ResponderEliminarMuito bom, esse tipo de conto não pode morrer continue a nos maravilhar com essas estórias .
ResponderEliminarEsse conto é o melhor q ja li ate hoje!
ResponderEliminarDevo trabalhar na continuação..kkk..Achei muito legal um causo contado pelos bichos, narrado pelo cachorro..kk
ResponderEliminarCaraca bello que bom ver que tem mais gente que escuta essas vozes silenciosas, como eu costumo dizer, sorte daquele que sabe ouvir o silencio barulhento da mata!
ResponderEliminarEspero que lendo oq vc escreveu em "a voz do mundo" aprendam a parar e aprendam a ouvir oq diz a mãe naturesa!
To esperando a estória do paqueirinho e do zezinho! Kkkkk
Loga ta saindo, o corre corre da vida as vezes num dá prazo, mas muito obrigado..Baita abraço..
EliminarMaravilha, bacana D+!
ResponderEliminarPuxa Bello! Fiquei tocado com "A voz do Mundo". Poucos tem um sentimento assim. Bom demais da conta!
ResponderEliminarApreciei deveras também o sentido da empreitada pois me deixei levar pra onde vc estava. Ainda mais que sempre vejo um "soldadinho" em minhas andanças. Taí.... um bom motivo pra lembrar dos teus causos quando ver um. Abração, cumpadi!
Valeu amigo, é bom saber que gostou, e pense num avoante bonito o Soldadinho, a natureza sempre nos surpreende..Baita abraço, ajuda ai a divulgar o blog..
EliminarGostei de cada uma a sua maneira... O paqueiro me fez rir e aprender que cada animal tem seu objetivo e importância.E que até mesmo na hora da morte como a paca não podemos perder a esperança; haverá sempre uma saída. Lindo conto.
ResponderEliminarParabens lindos contos poesia pura para meus ouvidos.
ResponderEliminarObrigado amigos
ResponderEliminarLinda a história da Rainha da Floresta, pena que teve um fim tão triste...
ResponderEliminarIsso nos leva a certeza que todo vivente não está na terra por acaso, como você disse: "Deus fez o mundo grande pra mó de ter ponto de morada pra todo vivente".
Sou do Maranhão, mas hoje estou morando no Pará, terra de muito bicho e de muita natureza intocada, que aos poucos vai perdendo espaço para as lavouras e pecuária. Infelizmente...
Um forte abraço.
É amigo, mas exite um Deus que a tudo vê, a tudo sente e de tudo sabe, quem sabe o homem tendo mais sentido da vida, aprenda a preservar mais, a temer mais esse Deus que a tudo criou, e fez lugar para cada criação de forma a que possamos todos viver, usufruir com inteligencia, para nunca faltar...Grande abraço.
EliminarE mais de 3 anos depois estamos aqui novamente para reler os melhores causos da roça.
ResponderEliminarEm 2019 nos veremos meu amigo. Forte Abraço.