CAUSOS E CONTOS

CAÇADA DE TATU - PACA DE 30 QUILOS





CAÇADA DE TATU


Com o olhar afinado assuntei a mata em busca de um pau pereira para encabar o enxadão, logo o olho fincou em um cabo na medida certa, bate aqui, bate acola, o trem já tava no ombro e em pouco prazo eu já  caminhava na picada voltando para o pouso, rompia a passo largo, a situação exigia pressa, pois meu sentido estava meio desatinado com tantos afazeres, o dia já pinguelava com a noite e puxava as horas num eito de alvoroço que bulia avexado os ponteiros do relógio.
         Os cachorros graniam rodolentos na ânsia de que essa noite teria caçada, Campeão o mais experiente, ao me ver encunhando o enxadão, danou em um sapateado desenfreado que tive que por varias vezes raiar com ele, olhava com aquele olhar longínquo de quem comeu e não pagou, choramingando de olho esbugaiado numa bulinância sem medida, cachorro caçador é assim, só de ver o bornal ou qualquer outro apetrecho da caça, dana numa alegria e numa pulação que desapruma a paciência de qualquer sujeito.
         Campeão era cachorro pequeno, magro, tatuzeiro de verdade, de cabo duro e focinho fino, sua incutição  era somente o cavador, num mexia com outros viventes, e isso o fazia muito especial pois evitava de tara coando outros bichos, já os outros dois, Putuca e Marrom, ainda estava em aprendizado, mas prometiam dar bom parceiros de caça.
Os bicho estavam agoniando atoinha, saltitavam esticando as guias, pedindo para sair do cárcere e entrar mata a dentro, estavam numa malinancia de encutição de pegar rastro de tatu, o mariz rachado e largo  abria e fechava numa baita fungação, pareciam estar afinando o faro, entre granidos e choramingos cavavam a terra unida com o sentido de que logo teria treita.
         No bornal um saco de pano com bolo de fubá, uma farofa de carne seca, água e uma garrafa de pinga brejeira, no fogo o carote quentava a água do café, Valdeci ajeitava a tralha, enquanto Tonho terminava o jantar, a empreita era encher o bucho antes de ganhar a mata, mas comer com consciência de pouco exagero para não ter desarranjo.
         Carapatim micuim estava de montueiro para toda banda, então a prevenição era salpicar bofo no corpo todo, o bicho miudinho fica nas folhas embolado aos montes esperando o desavisado esbarar, ai eles tomam tento de ranjar logo um ponto de pele fina para fincar o ferrão, ai no corsa num corsa vai pinicando tudo que é canto que embolora a ponto de vingar ferida, e pense num trem difícil de sarar, depois de tempo ainda fica minando aquela águinha parecendo ofendimento de aranha armadeira.
         Era noite de meia lua, ia no breu inté a madrugada só depois das uma da manhã é que a prateadeira do sertão ia subir e pratear todo mundo, tatu é bicho treiteiro, de atitude sistemática, qualquer mudança no tempo era motivo de quietação no buraco, as vezes nem saia, de certo que a farinha já estava reservada para a farofa do dia seguinte, então o negocio era ajeitar um verdadeiro erado e garantir a mistura.
         Aqui na região tatu verdadeiro tem moradia na mata fechada, tanto da beira d’água como no meiado dos capões de cerrado grosso, sempre procurando fazer buraco na rodilha de macambira, planta espinhenta que impede o avanço do inimigo, forma de defesa que a natureza lhe deu tenência, fica ali beirando e qualquer motivo sai em um disparate doido para o buraco, passando pelas brechas finas envolto de espinheira pra todo lado, se outro trem tentar entrar se espinha todo.
Evita mato ralo, que é moradia do desengonçado e mal afamado tatu peba, peba apesar de apreciado por muitos, eu deixo de passagem, tem gordura de gosto forte e sempre está enfestado de vermes, sem falar no desatino de vida que leva, sendo sempre desajeitado, e frequentador de carniça, andando em horário ermo sem prumo nem medida de noção.
         Buraco com morador tem sempre mosquito fazendo ronda na boca, dizia Valdeci, morada de aranha prova que o buraco é véio, e  no mais o bicho é malino, perambula furando aqui e acolá, na busca do de-comer, e nessa faz buraco raso que é intuito da sua natureza, mas é onde ele paga com a vida, indo buscar refugio da corrida do cachorro, entra onde acha salvamento, e o cachorro sendo bom acoa de forma a dar tempo do caçador chegar e com poucos golpes de enxadão rancar o tatu do buraco raso.
         Se o bicho espinica em buraco fundo á melhor deixar, a não ser que tenha disposição para cavar inté chegar do outro lado do mundo, jequi a tal da gaiola eu num uso nem aprovo, se o bicho conseguiu fugir tem o direito a vida sem vingança da minha parte.
Caçar tatu e no inicio das águas pois o bicho migra pros pontos mais alto, fugindo das enchentes, e muitas vezes faz ninho nas folhas, ai facilita demais a lida do cachorro, isso é uma treita comum do folheiro e se faz como sua maior fraqueza.
         Jaó já tinha aquietado, e agora quem fazia afinco marcando presença era um caboré que marcava território com seu continuo pio ecoando mata adentro, bicho treiteiro e cabrunhoso é o tal do caburé, corujinha miúda, que é temida por tudo que é passarinho, que durante o dia quanto topa com ele, faz marcação em um piadeiro que tremula parecendo treita de fim de mundo.
         Valdeci tinha ajeitado tudo, o saco de linho com todos os apetrechos, o enxadão, o bornal, uma traia de lanterna, pilha, e tudo mais da necessidade da lida, nessa altura eu já tava calçando a bota e colocando a perneira, caçada de tatu é trem perigoso, o cabra anda muito de olho besta na cachorrada e nem olha por onde pisa, e a noite muita cobra também está caçando, então todo cuidado é pouco, e no mais pense como essas brenha de mata são cobrenta.
         Tudo no jeito, soltamos a cachorrada que saltitaram de felicidade, fazendo festa, como que andando de lado batendo o toco de rabo duro e desbocando o beiço para mostrar os dentes, foi pouco prazo de caminhada e os três já pegaram no trabalho, começaram a rodar bem, se afastando a boa distancia, indo e voltando, batendo palmo a palmo toda área, trem que desatina e cachorro no pé da gente com preguiça de caçar.
         Descemos a beira da grota e logo saímos no fechadão, Campeão grunhiu e logo desatinou latindo em tom de acuação, Valdeci veiaco que era, tocou de rumo certo, desviando da cipoeira inté chegar onde os cachorros faziam guarda, com o facão cortou um vareta de mais de metro, e afastando a cachorrada que em desespero latia desenfreadamente cavando e grunhindo a beira do buraco,  para conferir presença enfiou no buraco, olhou, pos a mão na ponta dela e disse.
         _Tá emburacado e ta raso companheiro.
         Já tampando a boca do buraco com o tampão, evitando o bicho desburacar, deu o primeiro golpe de enxadão, que levantou logo um torrão de barro úmido, e com pouco deu no casco estriado do verdadeiro, eu com a cachorrada já apiada na guia pesei apertado porque eles iam ao cume da doidura wuerendo pegar o tatu,  mas eu estava com a mão na fivela pronto para soltar se caso o tatu saltasse e pegasse a macega na corrida, mas Valdeci já tinha controlado a situação, o verdedeiro tava pego, e pelo tamanho batia pra mais de seis quilos, furou a ponta do casco e passou uma linha  prendendo a cabeça, de forma a manter o bicho piado, porem vivo.
         Fizemos fara, foi marmelada, estava raso e deu pouco trabalho, logo soltamos os cachorros novamente e tomamos uma para comemorar com uma talagada de farofa, a promessa era de noite gorda, pelo menos era o que estávamos pensando, a noite estava escura do jeito que bicho gosta para andar, porem no horizonte volta e meia vinha o clarão dos raios de relâmpago que clareavam a escuridão da mata anunciando chuva para a madrugada.
         Saímos cortando o fechadão e a cachorrada danou numa  latição besta que já tava dando agonia, inté que pegaram na batida de algum trem e sumiram no mundo num tropelo de desorientação que deixou a gente preocupado, afinal eles não eram de correr com outro bicho, e nessa foi inte as 11:30, demoraram um eito para voltar, caminhávamos no emaranhados de cipó  assoviando e chamando os cachorro pelo nome, mas só dava para escutar alguns granidos ao longe, então resolvemos ir no rumo inté encontrar eles.
         Passamos para o outro lado da grota e saímos a beira do córrego, subimos já no sentido de voltar por cima beirando a cerca evitando assim mata fechada, por pouco Campeão apareceu com a cara lambida de quem não sabia dar explicação de nada,  passando mais um pouco chega os outros dois, raiei com eles brabo pedindo justificativa do que tanto acoavam num desatino de num ter paradeiro, ora latia em um canto ora em outro.
         Logo eles juntaram no pé, não estavam mais caçando, estavam encabrunhados com alguma coisa, mucharam a orelha e baixaram o rabo como que com medo, foi quando chegamos em um tabocal embranhado por um cipoeira doida que cobra ensaboada passava de apuro pra romper pro outro lado.
          De repente um dos cachorros saiu e logo danou a latir, Campeão e Putuca também se animaram e entraram na macega, foi quando danou uma choradeira de cachorro que não teve fim, era um hem hem hem danado dos cachorro apanhando.
         A moita fechada nada dava para ver do que acontecia lá dentro, mas a impressão que se tinha era que o mundo ia se acabar, Valdeci deu a volta chamando os cachorros que não paravam de chorar como se tivessem sido pego de cobra ou de outro bicho qualquer.
         _É o Caipora batendo nos cachorro home...Gritou agoniado, raindo com o desatino da visagem que castigava os animais.
         E num pé e outro trirou do bolso um pedaço de fumo e colocou por cima de um toco caído na mata gritando.
         _É fumo que ocê, quer?  Então toma.
         E essa treita foi-se por mais de meia hora, e corra daqui corre dali inte que quetou e os cachorros saíram de rabo entre as pernas  pra junto da gente, a caçada tinha acabado, nenhum dos três iam mais caçar, e para variar, o céu emburrou de vez e desabou em uma noite branca de chuva e vento,  que com muita dificuldade a luz da lanterna cortava a escuridão, subimos mais até encontrar a cerca, pois para nosso alivio podíamos caminhar pelo limpo do aceiro inte o pouso.
         Chegamos molhados cansados, com os cachorros tudo borocoxo, sem animo algum, também pudera depois de tamanha surra que tomaram do Caipora, não era pra menos, tem noite que é assim não é de caça, mesmo que muitas vezes o inicio indique bons resultados. Quando a noite é da caça e não do caçador, caipora vem amedronta e bate nos cachorro, ai cabou, é juntar a traia e voltar pro pouso.
         Mas valeu a caminhada e o banho de chuva, apesar da variada um tatu veio no saco de linho, e de bom tamanho para variar, e na hora do almoço quando coloquei no prato esmaltado umas boas colheradas de farofa de tatu, pude ver que até mesmo em noite branca onde o Caipora não permite caçada a natureza na sua generosidade não deixa a gente sem uma boa mistura...

Bello 18/06/2014













PACA DE 30 QUILOS
           
Estávamos no auge da seca no centro oeste, meados de outubro, no céu nuvens mais escuras já ensaiavam união para as primeiras chuvas, marcamos uma empreita de rachar o coco e azedar a pinga, íamos passar uma noite no grotão do taquaral, lugar bonito de doer os olhos, isolado, preservado e de acesso bruto, dava média de uns dois quilômetros de serra abaixo, com traia nas costas, carro não chegava e trieiro só o feito pelas antas que subiam no rumo do cerrado, um taquaral gigantesco cercava a mata, que se abria em frondosas arvores até chegar a beira do Rio das Brancas, tinha lugar de descer garrado nas arvores, pense num rala brabo.
            Depois de um bom tempo de caminhada, regado a água gelada do cantil, chegamos a beira do rio, mais suado que tampa de chaleira, mas animados a encontrar uma boa espera,  logo na curva do rio um Tamboril ajeitado, tava mais pisado que salão no fim de festa, trieiro vinha e voltava afundando as folhas , meu parceiro animou porque logo ao lado uma Mirindiba em fim de queda adocicava o banquete dos bichos, foi logo descendo a mochila e se ajeitando pra subir.
Meu parceiro ficou ali, sortudo não teve que molhar a bota, traia ajeitada empoleirou logo na primeira fruteira que arrumamos, eu, sofredor que sou, ainda tive que atravessar o rio moiando o saco e me embrenhar na mata do outro lado sozinho até achar algo que tava bom pra subir..
            Chegamos cedo, com matula pronta,  a idéia era esperar o dia todo, dormir e se encontrar no outro dia cedo, para o pior de tudo, subir a ladeira rumo a caminhonete, pra descer todo santo ajuda, agora pra subir !!!!!!
            Chequei do outro lado do rio com a roupa e a mochila em um saco plástico, pense numa água fria, andei uma média de uma hora e achei minha espera e tava boa por demais, um jatobazeiro, único, mas em baixo um descedor pra bebida,  trieiro e bosta de mateiro pra todo lado, só pra se ter uma idéia, essa área tem média de 1800 alqueires, tudo reserva, e o caseiro da fazenda morando lá a vinte e quatro anos nunca tinha ido lá, grotão brabo, pelo outro lado nem estrada tinha, isolado mesmo o trem, ali devia ter paca de cabelo branco e bengala, bicho ali morria de veio, e com certeza a lendária de quinze quilos, talvez estaria ali engordando no jatobazeiro.
            Do outro lado um tabocal que dava medo, mais fechado que festa de rico, trem tão bruto que cobra ensaboada passa aperto pra atravesar, na beira do rio uma praia mostrava o movimento da bicharada, rastro de anta a guati, paca, cutia, mateiro e da gata tumbém, e pense numa gata grande, ajeitei a traia, no chão olhei pra cima procurando o lugar correto de apoitar a rede, tinha que ser confortável, afinal era tempo demais empoleirado, encontrei um ponto bom, analisei as formas de tiro, era o lugar correto.
            Coloquei a mochila no chão e com apenas seis tree step eu cheguei no ponto desejado a mais de cinco metros de altura, com aquela gatona andando por ali, de certo espreitando os mateiros, não queria da sorte ao azar e ficar de janta pra ela, armei a rede, puxei a traia, e me arranchei , lugar perfeito, com descanso pras pernas e forquilha boa pra apoiar a mochila, arrumei uns galhos pra pendurar o mijador, o cantil e minha garrafa de café, subi a balestra, conferi as flechas colocando em ordem de acordo com as pontas indicadas pra cada bicho, as pontas pra pena primeiro, adoro uma jaó,  pra variar, depois de tudo arrumado como ainda tava cedo resolvi tomar um banho na pedreira perto da corredeira pra esfriar o corpo, de lá via meu parceiro ajeitando seus trem, e gritei pra atinar a cabeça dele.
            Oia, se a pintada entrar por traz oce nunca mais será o mesmo, cuidado hem,  afinal uma pintada entrando por traz é brabo viu...kkkkkk
            Ele deu uma rizada e com a vinte na mão retrucou...Aqui pra ela, é 3T, e SG....kkkkk
            Eita água que tava boa, dentei na pedra com o corpo metade dentro d’água e ali fiquei por um bom tempo olhando o correr da água que criava espumas,  mas tava correndo a hora, sai me enxuguei, tirei uma camisa seca, vesti me ajeitei e voltei ao trepeiro, já batia por volta de 11:40 da manha, tirei a matula de farofa de carne seca, comi um bocado, bebi uma água, dispois um café, ai fumei um cigarrinho, afinal ninguém é de ferro, armei a balestra pendurei e ronco, cai a dormir.....
Fui cochilando e acordando até escurecer e cedo já beirando as 18:00 acordei de vez com uma mateira quebrando um jatobá, parecia um tiro, inté assustei do tamanho da bruta, coisa linda demais, ajeitei a Strayker no rumo, bem no coco do suvaco, ai lembrei da serra que teria que subir, era uma butela, muito grande, pensei no peso e abortei o disparo, vou ver se fico com um trem menor, pensei, e danei a contemplar a beleza e astucia daquele animal, sua cor, sua musculatura, fantasticamente lindo.
Ela rodou um bocado, e depois de comer bastante seguiu seu caminho, logo o sol terminou de se esconder e a escuridão tomou conta da grota, o barulho do rio aumentou, e aos poucos o frio veio chegando, pisa aqui, pisa acolá, e a noite tomou vida, logo desceu uma anta que mais parecia um boi de tão grande, comeu um pouco, perambulou um bocado entrou no rio e seguiu rumo.
As sete horas escutei a vinte do companheiro cortar o silencio da grota e ecoar rio abaixo...CABRUMMM...Pensei oi, chegou trem lá, com pouco tempo duas leitoas passaram barrulhando mais que anta, e eu flechei uma que rolou e parou a beira de uma pedra dando o ultimo suspiro, a outra correu um pouco e logo voltou, mirei, parei e pensei bem, uma ta bom, vou subir essa serra amanha com duas leitoa nada, recuei a balestra e pendurei, pensei comigo, hoje vou curtir a mata, e ver os bicho passearem uma ta bom por demais.
As sete e trinta, outro pipoco de vinte, pensei oia, outro trem, as oito, outro pipoco, oia esse cabra ta danado, mas três prenda, quero ver como ele vai fazer, ai passei um rádio, alertando o companheiro, de que quem sabe matar, sabe limpar e carregar, pega leve ai, ele sorriu, e retrucou, três leitoa companheiro....kkk
            Com pouco antes das nove mais dois disparos, tornei a passar o rádio novamente, companheiro, olha a ladeira, chega uai, ele respondeu, errei os dois tiros, era mais uma leitoa...
            Chega companheiro, uma pode ser pouco, duas é bom, três já é demais, quatro amigo passou do exagero, toma uma ai e fica feito eu só curtindo a mata, dispois amanha cedo tem labuta pesada...
            Ele entendendo o recado, me deu boa noite, e foi-se seguindo a noitada, as onze chegou mais um casal de mateiro, desconfiados pisando manso e parando pra ouvir,  eu fiquei ali só curtindo tudo no Nigth vision, lá pra meia noite uma jaguatirica desceu a serra passando mansa por baixo do trepeiro, desconfiada sempre olhando para cima, a lua dava sinal de vida, guardei o monóculo NV, tomei um café com sanduíche, fumei um cigarrinho, pequei a pistola deixei em ponto de uso e me empacotei no saco de dormir...
            O frio chegou com força e apesar de bem agasalhado doía até o osso, pense, dormia e acordava toda hora, a noite demorou a passar e eu de vez em quando me perguntava. Home o que oce ta fazendo aqui?.....Putz, podia ta em casa cheirando a muié no quentinho, mas tô aqui nesse frio batendo queixo, o que é o amor pelas esperas...
            Aos poucos o sol botou a cara, me senti aliviado, queria me aquecer,   a neblina ainda cobria o rio e mal dava pra ver a mata do outro lado, pensei comigo, vou descer, ajeitar as coisas, mas só vou atravessar o rio quando  o sol esquentar mais, danei a organizar as coisas, desarmei a balestra, baixei a traia, desamarrei a rede, e fui descendo e tirando os tree steps.
            Já beirava as oito e a neblina se dissipava aos poucos, eu queria sol, pequei a leitoa, tirei o fato, pés e cabeça e ensaquei, para diminuir peso, e fiquei  ali sentado a beira do rio, comendo uma sanduíche com suco, depois um cigarrinho e fui dando corda esperando criar coragem tinha que atravessar uns 15 metros com a água dando na cintura, pense numa água fria nas bolas...
            Enfim como não tinha outro jeito tirei a roupa ensaquei para não molhar e segui rumo, quando sai do outro lado tremendo mais que vara verde, vi de longe meu companheiro já desempuleirado ajeitando sua traia, a arvore que ele tava parecia uma arvore de natal enfeitada de paca, tinha três leitoa pendurada, uma em cada canto.kkk
            Bom dia companheiro, quer ajuda ai?
            Bom dia, carece não, já ta quase tudo ajeitado...
            Sentei em uma pedra e ele me mostrou o rastro da suçuarana que passou querendo roubar uma leitoa dele, por isso, desceu e pendurou todas em boa altura, dispois apressado, ensacou o corpo e arrumou jeito de se esconder do frio.
            Traia arrumada, sentamos a beira do rio esperando o sol esquentar um pouco nosso corpo que ainda reclamava do frio da noite passada, e ali proseamos sobre os barulhos da espera, os bichos que passaram e tudo mais que tinha desafiado nossas mentes e imaginação naquela empreitada.
            O sol já começava esquentar e precisávamos subir antes das nove evitando um sofrimento maior, sem pestanejar encaramos a tarefa de a subir a serra, o trieiro estreito dentro do tabocal parecia não ter fim e logo pedimos arrego, sentamos com a respiração ofegante, olhando um para o outro, o companheiro só balançou a cabeça....
            É brabo compadre....
            Esperamos uns 10 minutos e continuamos a subida, e assim se foi, parando a  cada etapa para descansar, quando chegamos no fim do taquaral estávamos banhados de suor, e o cansaço era gigantesco, mas ainda faltava mais umas subida em cerrado ralo até chegarmos a caminhonete, nesse ponto já não tínhamos mais força e a cada dez passos caiamos ao chão ofegantes.
            Foi nessa hora que o companheiro me olhou serio e disse:
            É compadre num sabia que tinha paca de trinta quilos....
            Uai compadre, tem não, eu nunca vi...
            Tem sim compadre, essas aqui lá embaixo podiam ter uns nove quilos mais aqui te garanto, estão beirando os trinta...
            E caímos na rizada..kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
            É compadre da próxima vez, só uma mesmo, afinal como você falou, quem sabe matar, sabe limpar e sabe carregar e carregar 30 quilos é bem melhor que noventa....kkkk.
            Tem coisas que é assim, se aprende na pratica, depois de enfrentar uma boa grota, nada melhor que uma prenda pequena, na mochila, e muitas lembranças na mente que muito sofrimento e a lembrança de uma empreitada sofrida.
Bello 20/07/12


2 comentários:

  1. Parabéns Bello muito bom.
    E continue a nos maravilhar com suas "estórias "!
    Abraço .
    Valter Jr.

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  2. Parabéns pelo causo amigo, muito bom e viva a de 30kg!!

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