DIA
DA CAÇA, DIA DO CAÇADOR
Choc, choc, reboliçou a porcada na rodia da fruteira,
amuntuado no puleiro negoçava a a cartucheira procurando motivo de presença, a
vista nuviada da idade me tirava do prumo negando o ponto nas brecha de luz
onde de vez por hora passava o vurto preto dos queixadas.
Jatobazeiro erado, de galha forte e espalhosa, jogava fruto
pra mais de uma rodia de vinte passos, sem butar a malinação dos macaco prego
que ainda trabaiava nesse motivo de espalhação, mata brenhada cheia de cipoal e
taquaril mal dava espaço de ver as foia seca do chão, e ai o coração desatina
desmantelando a gente na certeza de que nada tinha a ser fazer senão esperar a
oportunidade beirar os oio.
A oreia escangotada deixava a cartucheira pronta para o
pipoco, bastava agora só os porco dar o lombo ou a costela para que eu
colocasse ele no saco de linho, por motivo besta eles debandaram, o dia parecia
não ser dia de caça, a Mãe da Mata com suas treitas me fizeram descer antes do
prazo, tarvez foi mior, a coluna desalinhada escabrunchava latejando do tempo parado
de uma só posição no mutá improvisado.
Logo a botina tocou no chão estralando as foia seca em um
chuaaa que cortou a mata, juntei os trem e peguei rumo, trieiro aberto fazia a
tria ser menos cansativa, no meu labutante caminhar ia pensado de como a Mãe da
Mata tem suas estultices, tarvez para mó de aliviar a vida dos viventes dando
mais prazo pras cria, pra vida, e o tanto que é certo esse dizer de que tem o
dia da caça e o dia do caçador.
Ditado veio que pai retrucava ajeitando o pito quando vinha
da mata de saco vazio, era dia de mistura pobre, sem gosto de carne, mas que
era compensado pelo tempero vistoso de mamãe que sabia sempre um jeito de
enganar o lombrigueiro que reinava no bucho da gente, vovô também tinha o mesmo
dizer, entre ortos, que pode num ser bom de ouvir mas que é certo de ser uma
grandeverdade.
Essas matas tem mistério, trem tinhoso de se entender, to
veio e num sei ponto de explicação pra essas artimanhas, mermo com a arma
envenenada, mermo benzido de visagem já passei por uns apurado brabo, que seria
trem por demais pra um cabra sem fibra abondonar a atividade e só ficar no
terreiro da moradia.
Paquiando por essas noite de lua rápida ou mermo mateirando
a noite toda no encalço do astuto da floresta, a gente sente, que tem dias que
é da caça mermo, certa vez ajeitei uma fruteira que tava feito chiqueiro,
lameiro de paca e tudo que é trem mostrava o vai e vem dos vivente naquele
lugar, certo que seria noite de aprumo de sucesso, carreguei logo uns dez
cartucho, ia com intenção de paquiar, mas sabia que o mateiro e os porco
estavam fazendo trilha no local, com tanta boca de menino pra sustentar, era
bom encher as latas e garantir comer para o mês, no mais tinha umas empreitada
pra fazer e não ia ter tempo pra lida de mato.
Selei
a mula veia companheira das idas e vindas por esse meu sertão, minha amiga de
confidencias no caminho da venda onde uma vez por mês eu me afogava na pinga
até a sede da fazenda, mula castanha de pisado firme e boa de treita, juntei o
saco com a traia no areio, e pequei o rumo da mata.
Chequei cedo antes da três da tarde, ajeitei o puleiro,
marei a rede e me ajeitei, a mata silenciosa, parecia ser um aviso, alguns
cancão piaram de longe avisando que algum trem rompia na mata, logo chegou duas
cotias, que desconfiadas danaram a gritar e bater pé, pensando em garantir logo
algum trem, botei a cartucheira no rumo, aprumei a mira e tibruuuuuummm...Foi
cutieiro pra todo lado, só escutei o descalabro da corrida mata a dentro no
meio do griteiro de aviso uma para outra, cocei a cabeça tentando entender o
que tinha acontecido, na cachola veio um pergunteiro sem fim.
Como eu errei esse tiro ?
Foi o prazo de pouco o silencio voltou dominando tudo,
quando beirou as cinco escutei o romper da maloca de porco num estralar da foia
que anunciava uma maloca grande, mas foi só pra encher o burraio de vontade,
por motivo que desconheço, esses bicho refugaram e voltaram na mesma toada que
vieram sem beirar a fruteira, nem ao menos pude ver os lombo preto e repiado
deles, já danei num pergunteiro novamente...
Uai, o que fez esses bicho refugar... ?
Devagar o beiço da noite tocou a copa das arvores e a
escuridão foi invadindo devagarinho o mundo, agora com o pensamento mais queto,
calmei aconchegando o corpo na rede, e esperando o véu preto terminar de
chegar, o pensamento era sentir o pisado manso da gorducha chegando na espreita
do cipoal, ao menos uma leitoinha eu tinha a certeza de colocar na panela do
almoço amanhã.
A noite finalmente firmou e com ela o silencio, volta e meia
um rato estalava as foia com seu súbito desespero, num pulo besta e sem
sentido, outros andavam pelo cipoal, carregando uma piuna na goela, foi devagar
passando as horas inte que um estalo mais cadenciado, pisado de trem astuto
brenhou nos meus ouvidos, pela astucia era treita de mateiro, rodopiando a
fruteira com as antenas dos ouvidos atinando o ambiente, vez em quando ouvia o
fungado do seu nariz moiado e preto tentando sentir minha presença.
Bicho treiteiro de esperteza é essa tar de mateiro, canela
preta, de oreia vistosa sabe ser veiaco, e de esperto que é, comeu por trás da
rede, eu sem poder me virar apenas escutava seu queixo trabalhar no sabor da
tenra fruta, que cobria o chão da mata, foi pouco prazo, bicho vivido sabe que
do mesmo jeito que ele sabe onde tem comer, Dona Onça também sabe onde ele
come, então é de costume não demorar muito, logo do jeito manhoso que chegou
saiu, já beirava as nove quando duas leitoas chegaram, ouvi o furdunço do seu
vai e vem, quando senti firmeza, aprumei na rede, estiquei a cartucheira no
rumo, e devagar estalei a luz da lanterna, o dedo tremia junto com o coração, a
luz opaca logo revelou o tom marrom avermelhado repleto de pintas brancas, foi
o prazo do tiro... Tibruuuuuummm.
E foi paca pra todo lado, escutei a correria de desespero
mata a dentro, fiquei sem entender, faltava pouco pra saída da lua quando um
corujão piou seu pio agorento me saudando com um boa noite, pensei bem e
comecei a arrumar a traia, pois a clariação da lua já lambia o céu,
escabrunhado e triste naquele momento dava como perdia uma noite que era certo
de ser recheada de prenda, parecia inte treita da mãe da mata, cortei o trieiro
inté o colchete onde eu tinha marado a mula...
Ai foi que desatinei de vez numa brabeza que inté saiu um monte
de nome feio da boca, inclusive o do Cramunhão, que eu detesto de chamar, inda
mais estando nessas brenhas, a mula na sua danadisse consegui se soltar e como
não besta pra não bestar na boca das onças tratou de voltar pra casa me
largando no alheio, agora era seguir o rumo de pés, devagarinho com o saco na
corcunda fui rompendo, no meio do caminho pensei, tem o dia da caça e o dia do
caçador, inda bem que hoje foi o dia da caça, me imaginei, tendo que carregar
uma cotia, um mateiro e uma paca...Ufa que alivio me trouxe a treita proferida
pela Mãe da mata, que de tudo não foi treita, mas sim livração, logo gritei.
Feliz
dia da caça....kkk
E assim fui caminhando calmamente pela estrada pitando meu
pito e comtemplando a beleza da lua cheia que enchia o horizonte com sua
presença.....
Eita
como eu amo esse meu Goiás.
Bello 16-04-2016
LEMBRANÇAS
Ortro
dia mermo eu era menino, perambulando e traquinando no terreiro, grito de mamãe
apurando queta era um em riba do orto, agora os tempo é diferente por demais. Agora,
eu sou um veio, e veio vive disso, de lembrar do tanto que foi bom o passado e
de reclamar das mazelas dos dia de hoje, retrucava o sertanejo em um falatório
solitário.
O
pensamento de Seu Cicero ia longe, junto com seu olhar que se perdia no cinza
esturricado da pastagem, embalado pelo ranger cadenciado da velha cadeira de
balanço ele parecia viajar no tempo, de longe eu o observava, seu olhar manso
ia além da porteira do curral, ia além do pasto queimado de sol, parecia ir beirar
a mata fechada onde os bichos na treitisse faziam morada, mal piscava, vagava como
que relembrando a lida de espera, a
época da fartura das floradas e dos frutos que cobrindo a folhagem morta do
solo da floresta espalhavam sua doçura e seu cheiro pela mata, as imagens iam
vadiando na beira dos córregos, iam além da madrugada fria de neblinado, iam
nos dias perdidos em que nada aparecia para encher o bornal, levando a certeza
de que um dia de mata ainda é melhor que qualquer dia de trabalho.
Da
cozinha um cheiro de café denunciava que Dona Maria acabara de encher o bule,
pequei duas xícaras e devagar fui chegando em Seu Cicero, adorava ouvir sua voz
rouca contar as labutas do passado, adorava ouvir as lendas dos lobisomens, das
visagens e da mãe d’água a dona do ribeirão, do dono da mata e mandante dos
viventes e das treitas do saci, era sempre um grande emoção estar na presença
prazerosas de seus causos.
Cheguei
esticando a mão com a xícara de louça antiga que já tinha perdido inte a cor,
mas o café fumaçava e o cheiro era por demais gostoso, Seu Cicero sorriu
recebendo o café e esticando o braço me indicando o alpendre para me sentar,
não demorou muito puxou um pacote de fumo do bolso e uma palha seca de milho, e
iniciou a labuta minuciosa da confecção do palheiro, torcia o beiço como que a
careta fosse ajudar na perfeição da obra, logo que o trem tomou forma, ele
puxou a binga e acendeu, deu umas duas baforadas e sorrindo iniciou a prosa.
Meu
pai veio de longe pra essas bandas dos Goiás, pai veio puxando uma tropa, com
mamãe de bucho cheio, eu já tava ali, pronto pra nascer por essas bandas, aqui
era um capoeiral lenhoso, cercado de mata e cerrado ermo, gente não se via e
bulinação de onça no gado novo era certa, lá de onde hoje é a porteira, pai
parou pra descansar bem debaixo do velho pé de jatobazinho do cerrado, e de lá
falou pra mãe o lugar da casa, e foi dai dessa prosa que começava a nossa
história.
Seus
olhos de menino brilhavam em um rosto maltratado pelo sol e pelo tempo,
pareciam jabuticabas maduras reluzentes a luz do dia, suas mãos calejadas
ajeitavam a calça de tergal listrada enquanto gesticulava tentando desenhar no
ar o ocorrido, volta e meia baforava o pito, e cuspia longe pausando a
conversa.
Pai
era sozinho, mas mãe era dura, uma onça na lida, naquele tempo o homem era pau
para toda obra ou fazia, ou fazia, e assim com pouco prazo a casa estava pronta,
devagar as coisas foramse ajeitando, da vila vieram uns poucos de caco
necessário, da capital uns moveis, e do lombo dos mascates as miudezas, o tempo
vare rápido a vida da gente e logo Dona Luzia, a parteira desapiava da mula
para socorrer mamãe no meu nascimento, e foi num piscar de oio que eu já estava
era correndo por esse terreiro, lembro que papai saia cedo na labuteira do gado,
num tinha tempo de ficar de bestagem comigo, e mamãe lidava na casa, cuidava
das criação miúda, lembro do mio pubado passado no moinho que virava cuscuz,
lembro do cheiro do polvilho molhado tostando na frigideira, lembro do ovo
caipira estralado na banha de porco, e de tudo isso sobre a toalha bordada da
mesa, o café colhido e torrado no terreiro temperava todos esses sabores.
Batuta
era nosso cachorro, presente do Coronel Amilton, era um embolado de americano
com mestiço, tatuzeiro aprumado que
passava as tardes a dormir no beiral da porta, com suas enormes orelhas
espalhadas pelo mundo, corríamos de um lado para o outro e com meu pé descalço
ajudei a socar a terra do terreiro, vi muitas vezes o romper das águas
aguarelar o mundo de verde, pintado de fulô toda essa natureza, e assim se deu
a passagem dos anos, quando eu percebi eu já era um rapazote, estava já pegando
o rumo da lida do terreiro, mãe danava a me gritar a todo momento e tudo o que acontecia
o dono da culpa era eu, o tal de Cicero josé.
No
fim do dia a imagem do meu velho pai chegando em casa era tudo o que eu queria
ver, seu cheiro misturado ao suor da montaria eu conhecia de longe, parecia que
tinha herdado o faro do Batuta, foi isso o que de melhor ficou marcado na minha
lembrança, era o seu abraço apertado, me perguntando se eu tinha cuidado de
tudo, seu olhar falava mais que suas palavras, bastava olhar que eu sabia o que
ele queria, pai era home sério, de prosa curta e andar manso, home de força,
que não tinha corpo mole pra labuta diária, que num se curvava perante
dificuldade, pai era home firme, cerne de aroeira, cabra macho de verdade, com
sobra de honra nas veias e firmeza nas ações.
Sempre
ao sair me chamava no canto e me dizia para cuidar de tudo, cuidar da mamãe,
pois sem sua presença eu era o homem da casa e tinha por obrigação a honra de
estar no seu lugar, aquilo era algo fantástico, parecia que nesse momento ele
me passava a coroa do seu reino, me dando a posse de toda nossa vida.
Aqui
nesse terreiro eu me criei, arapucando, bodogando, e traquinando a vida dos
bicho de pena que rondavam o milharal depois da colheita, estavam todos
aproveitando tudo que podiam, aqui nesse vai e vem eu gastei a sola do pé, do
anda, anda da minha infância, como a lida era pesada pai queria outro fio, mó
de ajudar, ai mamãe pegou barriga quando eu tinha meus sete anos, mas o Pai
celeste levou ela no parto junto com meu irmão, nesse prazo tudo se danou e o
mundo quietou por uns tempo.
Parecia
que o criador fez pouco caso da gente e uma nuvem negra pousou na fazenda, era
uma tristeza sem fim, papai ficou calado e eu passei a cuidar do comer,era
preciso subir no tamborete para alcançar os trem, os dias se tornaram longos e
o sorriso desapiou da vida da gente, foi com muito tempo depois que a luz
retornou, e que eu pude ver novamente a cor das flores, pude ouvir o barulho da
chuva moiando o terreiro, e com muito mais tempo é que pude ver o pai botar no
seu semblante um motivo de alegria, o sorriso voltava a brotar manso feito
broto na queimada.
Home
justo e sem safadeza ele tocou a vida sem se acasalar novamente, respeitava por
demais a lembrança de mamãe, e assim os anos foram se passando, e juntos
tocamos o gado, a lida, a vida e a juventude, ali o divertimento era pouco, podíamos
banhar no ribeirão, pescar mandi e piaba, nas aguas quando o ribeirão tomava
forma de rio aparecia piau e piapara, volta e meia papai chegava no fim do dia
com um porco ou veado escanchado no lombo do cavalo, obra da tropa de cachorro
que lhe acompanhava pelo campo, era o que melhorava a mistura e dava sabor na
farinha de puba.
Eu
era quem tratava, defumava e secava a carne, em época de falta de sol, fritava
na banha e juntava nas latas, comer naquele tempo era labuta, não vinha nada da
venda, a cana que a gente plantava, no moinho virava garapa e de garapa virava
melado e de melado virava a rapadura que adoçava o café que era colhido, secado
e torrado no fogão de lenha, o moinho trocava as peneira e moía de tudo, o
porco dava a carne, a banha, o arroz era colhido no banhado, colhido a mão,
batido, secado e era pisado no pilão todos os dias para o preparo da mistura.
Toda
labuta do plantio era estocada para o ano, o milho, o arroz, a banha, o café, a
rapadura, nada era perdido e tudo se reaproveitava, estávamos no fim da linha,
longe de gente, a vila era trem que pouco se visitava, o dinheiro era curto, e
a moeda maior era a barganha da troca entre os vizinhos que também pareciam não
existir, ficávamos as vezes por mais de seis meses sem ver gente.
Até
que um dia pai foi em uma viagem pro rumo da capital, venda de gado naquele ano
foi de fartura, e de lá Pai trouxe algo que mudaria minha vida, embrulhada em
um pano de lona bem amarrado de embira estava duas espingardas de cartucho de
cobre, uma 28 e uma 32, no alforje os embornal com chumbo, cartucho, e a
pólvora branca, e uns cacareco que ajudava na recarga do trem, ai nesse momento
um mundo se abriu perante meus olhos claros, e foi daí eu conheci o prazer e a
importância da caça.
Depois
disso notícia de fruteira ou florada não faltava mais, eu e Pai passamos a
desfrutar da parceria um do outro e da solidão nos dias de espera, não tinha
como a gente matar uma vaca e aproveitar toda a carne, então era mirar nos
bicho miúdo feito o queixada, a cotia ou o mateiro.
Adorava
sentir o cheiro da carne de mateiro seca ao sol, gosto mais ainda de sentir o
seu sabor na mistura do arroz, a Maria Isabel de mateiro, eita trem bom, lembro
na hora da minha juventude, sinto também a presença de papai, parece que papai
vem matar a saudade saboreando o cheiro que toma conta de tudo.
As
caçadas eram no domingo, era a noitada com a espingarda de armadilha ou na
espera de dia, de dia tudo anda, menos a leitoa pintada, mas de dia o mateiro
pisa, o catingueiro, o porco queixada, o caititu, a cotia, os bicho de pena,
como o mutum, a jao, o jacu, de tudo anda por essas mata, inte a gata.
Então
era o oio na lida e outro na mata, acompanhando a caída do tamboril, do jatobá,
da piuna, do ingá, das flor do ipe, da bonequeira, do pequi, da caraíba, da
faveira, todo mês o criador ajeita um motivo e não deixa faltar esperada, é
comida pro povo e pros bicho e assim os tempos foram passando com menos pressa
e mais felicidade.
Logo
tia Celina veio morar com a gente, sozinha precisava de apoio, e foi um alivio
a chegada dela aqui na fazenda, foi nesse tempo que eu me apartei das panelas e
do trato do comer, agora meu tempo era junto com o Pai cortando as campinas,
apreciando o correr desengonçado das emas, o andar preguiçoso e lento do Lobo
Guará, a saltitante e rápida fuga do veado galheiro, volta e meia se assustando
com o estouro da perdiz...Puruuuuuuuuuuuu.
Devagar
pelas patas do meu cavalo eu caminhava o mundo, já pitava meu palheiro e dividia
o gole de pinga para esquentar o corpo no início da manhã fria do mês de julho,
dali do alto da sela eu era o dono do sertão do Goiás, o menino tinha virado
homem.
E
foi em um anuncio feito pelo padre que eu chegaria a mais um ponto importante
na minha vida, foi dispois em uma procissão da quermesse eu conheci Maria, que
com a graça de Deus se tornou minha esposa e companheira, a época de fartura
logo me trouxe filhos, e veio o primeiro, o segundo e o terceiro, por último
veio Mariinha, mas o mundo cruel em um surto de malária levou minha bichinha.
Foi
a segunda nuvem negra que pairou sobre essas terras e não seria a última.
Mariinha foi como um anjo, e meu Pai depois desse dia nunca mais foi o mesmo,
acho que ele sentia que o tempo dele beirava o fim, ou que a dor da perda
pesava novamente sobre seu coração, nesse tempo ele danou a sonhar com mamãe e
dizia com seu olhar tristonho que em breve ele a encontraria.
E
foi em uma noite chuvosa, em que o céu se estourava em relâmpagos que ele me
deixou, foi-se dormindo, sem choro nem dor, sem lamentos ou palavras,
simplesmente se foi, e assim no seu silencio de partida levou parte do meu
peito, meu pai era e sempre será o meu herói, o meu tudo, o meu exemplo o meu
chão, meu pai me ensinou a ser o homem que sou, e dele herdei a honra do seu
nome e da sua história, foi a terceira nuvem negra que firmou sobre nossa roça.
Mas
o tempo astuto a tudo modifica, as crianças cresceram e tudo foi mudando,
devagar foi chegando a modernidade, lanterna de pilha, chegou o rádio, a tal da
TV, o povoado tomou prumo de cidade, e as rodovias agora acordavam a gente com
o barulhar de motores que carregavam a produção, um tal de trator agora
revirava a terra dos Goiás fazendo a revolução do campo, eu não queria muito
mas algumas novidades de mais me agradaram.
E
o tempo galopou, ligeiro e sem prumo e divagarinho curou as feridas, mas
ficaram muitas dores, desvivaram o meu
sertão, a honra agora é trem raro, e palavra num vale nada, tanto faz, ser
justo ou injusto num tempo em que nada tem muito sentido, porem cabe a cada
homem, simplesmente ser homem e honrar sua família.
E
agora tamo nois dois aqui proseando no terreiro onde meus filhos e netos
ajudaram a bater a terra, cada um tomou seu rumo, eu e minha veia voltamos a
viver sozinho, o rio que corta a baixada não tem mais peixe, os bicho tão
reduzido por mó da desmatada feita pras lavouras, porem a esperança é viva,
sempre viva...
Mas
vamo entrar, lanchar e preparar a traia e ir pra espera, hoje a lua ponta as
10:00 e é dia de leitoa pintada...Simbora....Logo o ronco da caminhonete C10
movida a gaz nos colocou na estrada, e nosso sorriso denunciava que a lida
continua, hoje, ontem e sempre, pois eternamente somos o que somos.
Bello
01-04-2016
PÉ DE MATEIRO
A
estrada curventa de pouca rodagem era sinal de lugar ermo e pouco pisado de
gente, o que me faz feliz, é saber que ainda tem muito paraíso preservado perdido
por esses Goiás, para se ter uma ideia, o último vivente que avistamos pra mais
de seis léguas atrás, ia ao lombo de uma égua castanha, com seu chapéu largo e
pito de paia na boca, tocando meia dúzia de bezerro nelore pela estreita
estrada de terra batida.
Casa
não tinha, era um lugar esquecido, o que eu não entendo é. De onde aparece
tanto colchete? Pareciam dar cria sem controle pelas brenhas da macega que
rompiam mundo afora, na estreita estrada que somente era marcada por dois
rastros profundos da trilhada do carro de boi, deixados pela lida do sertanejo
local.
Lá
na frente uma estreita ponte de madeira rustica daquela conhecida por encurta
família que parecia medir uns dez metros de comprimento, e isso nos fez parar, o sol já estava tinindo
no beirar das 11:00 horas, tinha que conferir a velha ponte e passar devagarinho,
afinal estávamos em um caminhãozinho 608, trem meio pesado, tinha que ser feito
tipo burro tinhoso em carreiro de onça, devagar e sempre atento, a água do
riacho que corria abaixo da ponte estava cristalina, povoada de pirapitingas e
piabão, era um convite perfeito sem tirar nem colocar, para esfriar o corpo
cansado de tanto chacolejo da buraquenta estrada, sem falar de uma noite
inteira de rodagem.
Descemos
para averiguar a ponte e a beira da mata um pequizeiro me chamou a atenção, tinha
que ir aprumar o movimento da bicharada enquanto a turma atravessava o 608,
firmei os olhos no rumo dele e rompi sem muito pensar, no meio do caminho o
cheiro meloso da mirindiba madura atinou no meu nariz feito ferroada de vespa, o que fez desviar meu caminho mais para beira
do mato, foi quando fui surpreendido por uma cotia que desatinada correu mata
adentro resmungando minha presença, eita susto tremendo, mas aquilo era um bom
sinal, sinal de muita vida selvagem.
Olhei
novamente a mata e voltei ao meu objetivo, o pequizeiro, e fui rompendo
sentindo o cheiro do mato, das águas que corriam no ribeirão, da flores e de
tudo mais que estava ali em volta, de longe ouvi o zumbido de um enxame de
abelhas que estavam perambulando de passagem, inté que chequei a sombra do meu
objetivo.
As
flores brancas pousadas sobre o capim já sentiam o aprumo do sol, enrugando e
perdendo forma, no chão o sapateado dos veados que tanto vinham do campo como da
mata ciliar do ribeirão, paca também estava fazendo presença, e pelo regaço do
trieiro era pra mais de três, uma batida bem funda, feito pela sapateira no vai
e vem da madrugada, descia o barranco da mata com destino ao poço onde o pé de
mirindiba exalava um convite de fartura, um verdadeiro banquete de comer,
saboroso e apreciado por todo morador da mata.
Depois
de averiguar direitinho o pequizeiro, desci o trieiro da sapateira inté a
mirindiba, baixei ali comi umas duas só para sentir seu doce gosto descer a
garganta, com o calor que estralava as folhas secas, comer mais seria certo um
desarranjo no bucho de fazer melar o trieiro, e a ultima coisa que um mateiro
precisa é um desarranjo na espera.
O
furdunço era de tudo quanto é trem, a areia branca do ribeirão, apresentava
perfeitamente o rastro da anta sapateira, uma fêmea de certo, pois os pés e as
mãos tinham o mesmo tamanho, os queixadas vinham da serra e tinham beirado a
pouco tempo, por certo no nascer do dia, no vai e vem com seu casco fino furaram
a areia pra todo lado, ao passo que faziam a limpa das frutas caídas por
estarem no ponto, para todo lado deixam pedaços pequenos da fruta no bagaço do
mastigar, coisa que seria aproveitada pelos pequenos pássaros que frequentavam
o lugar, baixei e fiquei matutando as entradas e quem estava vindo comer.
Pela
beira d’água as pacas vinham sorrateiras em trieiros finos e limpos, que
perdiam forma ao chegarem a fruteira, sem falar nas cotias que estavam entrando
pela parte de cima da mata, inda tinha rastro de mutuns, dos jacus, e de outros
mais, o trem estava mais marcado que terreiro de forro na roça no dia seguinte.
Jorjão
já estava fazendo arruaça na água, de
longe escutei o barulho, tinha pulado do meio da ponte espantando os peixes e
jogando gotejo d’água pra todo lado. Eita que bateu uma vontade danada de
molhar o corpo, o suor corria aprumando na minha testa, e a camisa molhada
grudava no meu peito, morada desse
coração mateiro, mas ai fui chegando devagar e foi só o prazo de tirar a bota e
o palheiro do bolso e rumar na água doce e cristalina do ribeirão,.
A
espinha arrepiou. Eita água fria da gota, parecia vir do polo norte de tão
gelada que a bruta estava.
Depois
de muito mergulhar, nadar e pular da ponte, já bem aliviados do calor, sentamos
na areia branca procurando uma brecha de sol no meio da sombra das umbaúbas
para esquentar um pouco, e danamos a prosear, e nesse meio tempo que estávamos
ali, escutamos o estampido da corroída vinte amarrada de arame explodir mais a
frente no meio da mata fechada, era o esfomeado do Paulão, que logo pontou com
dois jacus amarrados na cinta, com um baita sorriso no rosto maltratado da lida
no sol dizendo...
_Quenta
a água que o cumer tá na mão....
Foi
uma farra arretada, num piadeiro sem serventia que Paulão já conhecendo os
companheiros nem deu motivo de ligação, acostumado que era com a gente, que durante muitos anos nos tornamos
companheiro de lida, estava bom demais ali, mais ainda faltava pra mais de oito
quilômetros para o local do pouso, e já era hora de ligar o Mercedes 608 e
tocar caminho.
No
sacolejo da buraquenta estrada improvisada, a caçamba misturava a traia
terminando de acomodar os trem na marra, sem falar no bucho da gente, inda bem
que fui prudente na mirindiba quentada de sol, se não, o resultado ia ser de
amargar o beiço.
A
estrada começava a pegar corpo, e logo foi preciso descer com a foice afiada
para abrir caminho até encostar na mata fechada, lá na frente um plano ajeitado
de areia branca a margem do ribeirão. “O pouso do Tamburil”, nome dado pelo
amigo Jorjão ao local a muitos anos atrás na sua juventude, e era assim que
todos nós chamávamos o ponto, lugar que a muito tempo era nossa rota em empreita de mês de setembro,
lugar aprumado de sombra durante todo o dia, a copa gigante do Tamboril que deu
nome ao lugar, mantinha a temperatura ajeitada aliviando a quentura do auge da
seca do centro oeste.
Num
estardalhaço um bando de Cancão anunciava a nossa chegada, Cancão é pássaro
grande, de cor branca e preta, aureola do olho de cor amarela, quando pia num é
atoa, tem gente ou bicho passando, denunciam qualquer movimento na mata, assim
como outros pássaros que marcam movimento, muito comum como é o caso da gralha
do campo, que danam a gritar nas campinas quando avistam movimento, sempre
fazem algazarra ao presenciar algo diferente, então se na esperada escutar a
algazarra deles se apruma, que vem trem.
O
tempo vinha em galope e tínhamos que trabalhar em parceria, descemos a tralha
para ajeitar o acampamento, ajeita daqui, estica dali, logo a trenheira foi
tomando forma de pouso, e com pouco tempo estava no ponto de começar a preparar
o almoço, estava todo mundo agoniado de fome, porque o bucho já tinha colado
nas costas, então fui ajeitar a mistura, depois de passar na agua quente,
sentei em um tamborete para depenar os jacus que Paulão, o fominha, tinha
abatido a beira da ponte, o cheiro do arroz já rondava o pouso e a cerveja
gelada escorria goela abaixo.
Jacu
na panela de pressão lembra galinha caipira, se num for melhor, inda mais com o
tempero mineiro, pra completar era pegar uma gairoba e picar dentro depois de
pronto e dar mais uma pressão pra mó de amolecer um pouco, com uma boa pimenta
o trem fica pra mais de chique.
Paulão
era um verdadeiro tarado pela lida da caça, seu apelido Fominha, não era a toa,
tinha uma agonia desenfreada a ponto de muitas ocasiões se meter em boas
enrascadas devido a seu desespero por abater uma caça, boa pessoa, companheiro
de fé, mas forgado demais, porem beirando o terreiro alheio no meu ele cantava
fino, porque eu não dava moleza pra ele não, tinha que trabalhar.
O
lugar era muito bonito, a mata fechada rompia no mundo num cipoal entrelaçado
feito ninho de graveteiro até a beira do rio a mais de quatro léguas, banhado
por muitos córregos e pelo Ribeirão maior o qual na beira fizemos pousada, e
dali ia se emendando pra todo os rumo que Deus criou nessa terra inté dar a
volta nesse mundão de meu Deus, mas isso não era problema, Paulão e Jorjão
conhecia aquilo tudo como a palma da sua mão, e falava dos pontos de fruteiras
com a certeza, de que era de bom trepeiro e de que seria esperada de ganho certo.
Ali
mesmo, em pouca conversa já havia traçado rumo para todo mundo, nas abertas e vastas campinas antes da mata
criar corpo tinham uns poucos pequizeiros, e isso era bom, dava ponto batido de
movimento de bicho, na mata 6 mirindibas marcadas, agora era apenas decidir
quem e onde cada um passaria a noite, dizia Paulão....
Mas
antes de esperar eu queria dar uma olhada e ver o que estava melhor, então logo
após o almoço saímos para dar uma olhada nos pequizeiros, o primeiro a flor
tava mirada, já no fim, mas logo adiante uns 800 metros encontramos um de boa
copa e repleto de flor, com piseiro de dar gosto, esse tava marcado, junto com
o outro da ponte, que apesar de longe se desse prazo eu queria esperar lá,
voltando pela parte de cima do cerrado encontramos mais um pé, esse tava
mirrado, eu queria um na beira da mata fechada, então rompemos mais adiante e
encontramos o paraíso, um pequizeiro médio, de boa galhada, e que daria um bom
trepeiro, a cinco metros da mata fechada e pisado por todo lado de tudo que é
vivente da mata.
Esse
estava pra mais de perfeito, era o que eu ia ficar, então como tinha outro pé
florido perto, o certo era marcar o outro pé com um saco de linho branco enfiado em uma
cruz, de forma que quando o veado vier mude de rumo e venha bater no que estou
esperando, tática veia que a gente usava sempre e que vinha das treitas do
velho Jorjão, e funcionava que era uma beleza.
Depois
de uma boa volta, retornamos ao acampamento, na minha cabeça já estava definido
onde eu passaria a noite, em um lugar desses dava para escolher, mais cada um
tinha sua cota, um bicho de couro por noite, pena era liberado no mais era
definir direitinho onde cada um ia ficar.
É
de vital importância que o companheiro saiba o ponto um do outro, em caso de
demora, pode ir ver se aconteceu algo, e prestar ajuda, espera é trem perigoso,
e no mais tem muito causo de acidente, logo avistamos o pouso e Jorjão deitado
na rede esperava nossa chegada para o acerto final, como falei decidir onde cada um iria esperar, inté a lua sair e o horário de chegada ao pouso.
Papo
vai, papo vem definimos cada ponto, estávamos todos entusiasmados com a
empreitada, inda mais quando Jorjão danou a contar causos do local.
_Nego,
essa é a Floresta dos Mateiros, nunca na minha vida vi lugar para ter ele igual
aqui, sem falar nos outros trem, aqui a mata tem motivo de espera, no fim da
tarde Jaó pia de doer ouvido, as cotia fazem festa num fuzuê danado, só ocê
vendo, a noite essa mata ganha vida num mexe folha que faz medo, é trem bulindo
pra todo rumo, é tatu verdadeiro revirando folhada, é sapateira torando cipó no
peito, é paca pisando fino, bandeira abrindo pro cerrado, o trem é de deixar
mateiro veio com espinha arrepiada, coração acelerado e boca azeda.
Foi
o bastante para animar ainda mais a turma, logo cada um estava com a tralha
pronta e rumando para seu ponto escolhido, na mochila, uma lanterna de mão para
acoplar na velha 32-20, um repelente, uma garrafinha de plástico de pinga pra
esquentar o frio, uma matula de farofa, agua, uma roupa de frio, a rede, o
palheiro, o mijador e muita esperança e disposição para passar boa parte da
noite empoleirado, a lua estava prevista
para sair as 22:30, inté a hora grande era pra todo mundo estar no pouso, caso
não chegasse inté a meia noite e meia era motivo de ir atrás do companheiro.
Segui
meu caminho feito saruê em terra de raposa, de alerta ligado, parando e
olhando, com os ouvidos mais abertos que os olhos e a arma engatilhada, já
beirava as 15:00 horas e já com o sol querendo fraquear, os campeiros e
catingueiros já estavam andando, mas no caminho não topei com nada a não ser um
casal de Seriemas que correram desembestadas cerrado afora, depois de uma boa
caminhada avistei o pequizeiro a beira da mata, seu verde se destacava na
paisagem amarronzada de setembro, estava repleto de flores brancas, tenras e
cheirosas, e isso era a certeza de um bom resultado.
Sem
perder tempo logo me ajeitei, bom de pequizeiro é a facilidade de subir, porem
pense num trem pra escorregar se tiver molhado, sem falar na galha que é por
demais fraca, cabra pesado tem que ter cuidado, no mais fazer tudo com muito
cuidado, historia de esperador que morreu ou que ficou entrevado por conta de
queda de arvore de espera num é pouca.
O
procedimento é assim, primeiro se olha os lugares de possível entrada, onde ta
mais batido, depois escolhe o galho do armador ( lugar onde vai prender o punho
da rede ) de forma a dar ponto de tiro, é bom pensar num descanso pros pés,
afinal são muitas horas de aguardo, pode fazer um estribo na galhada ou na
própria rede ou mesmo prender uma madeira de apoio, por isso sempre leve um
pedaço bom de corda, se precisar preparar um mutá, ou outro apoio qualquer não
vai passar aperto, sem falar na corda de piar a prenda e a de subir a tralha.
Com
uma corda mais fina com um peso amarrado ao meio, lança-se no galho mais
próximo do armador, nas pontas se amarra a mochila e a arma, sempre desarmando
a mesma para não acontecer acidente de disparo, ai sobe na arvore somente com a
rede, depois de armar e se ajeitar puxa a traia com a cordinha, e assim também
faz pra descer, desce primeiro a traia com a cordinha e depois desamarra a
rede, joga ela e desce da arvore.
O
povo antigo tem o dizer que se tiver onça te negaceando, ela vai pular na traia
quando oce baixar, ou na rede quando você jogar, então dá tempo de anestesiar a
gata, outro conselho que dou é sempre deixar as coisas amarradas de forma a não
cair, pense numa coisa boa, depois de suar um bocado e sentar na rede, a
lanterna cai....
Falando
nisso lembrei de um causo de um amigo que foi esperar paca em um pé de jatobá,
o poleiro era difícil demais de subir, foi uma labuta de hora, ai depois de empoleirado
suando mais que tampa de chaleira, e quase morto com a respiração a pulso
sentou na rede, logo escureceu, e assim que a noite chegou ele foi mexer na
mochila e a lanterna caiu, pense, sem lanterna e ter que descer no escuro,
perdeu a esperada, sem falar no risco de cair descendo no escuro, as vezes duas
lanternas é uma boa pedida, afinal quem tem duas tem uma.
Sempre
é bom ser prevenido, no mais, melhor carregar um peso a mais que ficar na ânsia
da falta.
Já
nas alturas, sentado e aprumado na rede com a espingarda no colo, mandei a mão
no cantil e joguei um bocado de água goela abaixo, lá distante o sol bem baixo
já lambia os montes, dando liberdade pra noite ir chegando devagar, caminhava
para 18:00 quando entrou um catingueiro macho, miúdo e desconfiado, olhei e
como não deu gosto, nem liguei muito, fiquei somente prestando atenção no seu
movimento, afinal observar é o melhor jeito de aprender.
Depois
de catar uma flor aqui outra ali, o catingueiro meio que desconfiado, girando
as orelhas em busca de barulho e levantado o focinho em busca de cheiro, saiu
de fininho no rumo do outro pequizeiro, e quando deu com o saco de estopa
armado mudou de rumo desconfiado, eles costumam marcar um roteiro e nesse
caminho vai frequentando os pé que marcou.
O
dia ainda teimava em clarear o campo quando uma campeira com a barriga
estufando chegou, pelo jeito da prenhes era para parir por esses dias, comeu,
rodou, rodou, e seguiu rumo devagar, como que já sentindo o peso do fiote já
formadinho na barriga, setembro é mês de prenhice, se abater fêmea mata dois,
então só macho jovem, ou fêmea miúda ainda sem vicio, o macho veio também não é
bom negocio não, porque esta no cheiro da cruza e não tem quem aguenta a
catinga de gaieiro.
Meu
intuito era uma melancia criada pra mais de 10 quilos, que pelo batido da
vareda miúda que saia da mata, era certo que uma gorducha tava fazendo a festa
na flor do pequi, como tava perto da mata e do córrego era mais que certo a
chegada dela antes das 21:00 da noite, como diz o velho Genaro.
_
Descrenso de paca dispois das 21;30 em dia de lua rápida...
Logo
que o sol deitou no horizonte, um vento frio varreu a campina e com pouco prazo
o breu da noite tomou conta de tudo,
logo veio a buia do rumo do cerrado, trombando o capim, chuap, chuap,
foi dando volta, dando volta e logo entrou um macho veio de galhada branca que
a catinga cobriu o mundo, tanto que raiei com ele pra pegar rumo, eita trem que
tava fedendo...Ele assustado saltou e perna pra quem te quero, deve de ta
correndo inté agora..
Deu
beirando as 20:00 abri a garrafa de café, tasquei um bolo de farofa na boca e
rumei café por cima pra mó de ajeitar a descida na goela, fiz isso inté encher
o bucho, dispois preparei o palheiro e meti fogo, fiquei pitando olhando as
estrelas, era o primeiro dia, num tinha pressa mesmo, havia tempo de sobra e
bicho era o que não faltava.
A
fumaça fazia caracol por entre as galhas tortas do pequizeiro desviando das
grandes folhas arredondadas e indo de encontro ao brilho das estrelas que
iluminavam a noite sem a ajuda da mãe lua, lá nas brenhas do cerradão o lobo
guara gritava e esperava resposta, volta e meia o corujão passava no seu tic
tac em busca dos ratos no capinzal, ao longe o coaxar dos anfíbios na mata
fechada se misturava ao cantar dos grilos da campina, e eu ali apenas me
entregava a sinfonia da natureza, relaxado, sem pensar em nada, com o olhar na distante
estrela que brilhava no espaço.
Foi
quando a buia miúda no capim chegou aos meus ouvidos, devagar aprumei na rede,
como os olhos abertos e revirando a cabeça eu procurava identificar o que era e
onde estava, pisou manso, parou, por um bom tempo, depois pisou novamente, já
vinha dando muita volta para ser paca, fiquei sem saber o que era, porem já com
o rumo do trem acertado fiquei na expectativa de acender a lanterna, mas queria
ter a plena certeza da sua localização para não perder a prenda, ai pisou manso
novamente e isso foi o suficiente.
Sem
pestanejar acendi a lanterna com a 32-20 no jeito e no rumo, os olhos grandes e
azulados brilharam e logo a silhueta baixa e comprida revelou uma parda grande,
uma onça suçuarana o puma, a bicha tava por demais gorda e era tão sem vergonha
que nem ligou pra luz, tanto lugar pro
trem andar tinha que vir bagunçar a festa logo no meu pequizeiro, o negocio
tava bom por demais, mas que agora chegou ao fim, raiei bravo com ela e ela nem
ligou muito, saiu andando devagar desconfiada olhando para traz como quem
diz...
_Oxente,
aqui é minha casa. Tá doido tá?
Aquela
esperada estava perdida, agora com o cheiro da gata nada mais encostava, e dito
e feito, já desatinado de doido, fiquei buscando a buia da paca gorducha na
minha mente, de repente escutei de longe um romper no capim seco, acelerado
porem precavido...
Era
ela, meu coração acelerou e na boca beirou o gosto azedo da agonia, de repente
uma carreira desaprumada e sem parar, ela foi embora, a gorducha inté beirou
mas logo voltou a mata, sentindo a murrinha da predadora, então vendo que minha
esperada não teria mais resultado, e revoltado
com a perda da gorduchq pacona concha, ajeitei a tralha, desci e fui para o
pouso, mesmo que inda meio desconfiado de topar com a parda forgada no meio do
caminho, mas com a vontade de vingança encravada nos olhos, pensei.
Vou voltar e te pego gorducha, ocê num me
escapa.
Evitei
ficar chateado com o acontecido, ao contrario, estava muito feliz por estar ali, só de ver o
catingueiro, a campeira prenha, o galheiro fedido e a parda gorda, toda viagem
já estava paga, sem falar em ouvir a buia melindrosa da paca gorducha, voltando
pra mata ao sentir o cheiro da gata, isso é a magia da mata, ouvir, ver,
sentir, estar ali em meio às origens, no seio da mãe natureza e isso é maravilhoso.
Fui
devagar, com a lanterna de cabeça lumiando o mundo, bom demais esse trem, essa
lanterna que prende na cabeça e clareia tudo deixando a gente com as mãos
livres para descer do poleiro e carregar a traia, cada ano que passa as coisas
vão melhorando cada vez mais, afinal o mundo esta ficando pequeno pro bicho
homem, e assim fui rompendo o campo inté o pouso, matutando na cabeça um tanto
de trem besta que no fundo só toma o tempo da gente mas é bom pra danar.
Cansado
da viagem meu corpo pedia cama, então tomei um banho para aliviar o calor e
tirar o suor do corpo, fiz um lanche e deitei. Acordei as 5;45 da manha, como o
despertar da passarada que fazia o chão da mata tremer, em melodias e formas
das mais diversas, o converseiro dos parceiros indicava que a noite foi boa,
abri o zíper da barraca e logo dei de frente uma mateira jovem pendurada ainda
escorrendo e esfriando a carne, do outro lado uma paca já pelada, dei um bom
dia a todos, e fui ao córrego lavar o rosto, o cheiro do café já rondava o
acampamento, o trem estava pra mais de ajeitado.
Pedi
permissão ao dono da mateira e tirei o contra filé, passei um sal e jóquei na
banha quente, para comer com pão, logo chegou Jorjão que tinha ido buscar uma
lenha, e todos sentamos para o café, regado de queijo coalho, pão esquentado na
brasa, contra filé de mateira e café preto.
Rancaram
meu couro porque voltei de mão abanando, num lugar daqueles, mas depois que
contei o leriato do que tinha acontecido a briga foi porque num tinha chumbado
a gata, um defendia a morte do felino e outro defendia a vida, inda bem que de
três dois tinha a mesma opinião, manter a gata viva, no mais isso não importava
muito, o que valia era o que se passava na minha alma, eu sozinho prestarei
contas das minhas atitudes ao Pai Maior.
Estar
na mata não me dá o direito de tirar vidas a troco de gosto, é preciso ter
respeito e entender que tendo bom senso, o lugar estará sempre preservado, e no
mais como dizia meu avô ...Tem trem que não é caça.
A
parte da manha estava destinada a caminhada até as 10:00 e depois era para
estar no pouso para tratar do comer, descansar e as 15:00 ir para as esperas,
descrente do pequizeiro, porque era certo a murrinha da gata ainda espantar os
visitantes, resolvi ir ver uma mirindiba
que estava a direita do acampamento na divisa da mata fechada e do cerrado,
gosto muito desse tipo de lugar, ele parece mais promissor, a orla da mata
sempre anda de tudo, depois de mais de uma hora de caminhada saímos ao ponto
porque Paulão mesmo conhecendo tudo por ali, variou um bocado para achar o pé
da fruteira, nesse meio tempo passamos por um pequizeiro miúdo que também estava pra mais de promissor, na
mirindiba o problema era o piseiro da anta, que de certo ia perturbar o tempo
todo, mas no mais tinha rastro de tudo que é trem, tava bem batido, tanto de
veados, pacas, cotias, cateto, anta e outros trem de pena, um trieiro de paca
que vinha afundando a terra macia me fez escolher aquele local para a próxima
noite.
Voltamos
ao pouso para ajeitar o almoço, file de pernil de mateira com bacon defumado,
arroz branco e feijão preto, sem falar na farofa e no tomate picado, comemos
feito gente grande, inté que a conversa ficou miúda, cada um no seu canto
fazendo o quilo, para logo depois pegar o rumo da sua espera, deitado na rede
enrolando o pito, estava pensando na gorducha que vinha pisando mansa doida
para encher o bucho com a flor tenra e branca do pequi, e que voltou em
carreira cismada por causa do raio da murrinha gata parda, mas matutei comigo
mesmo, tem problema não, eu pego ela depois, há si pego.
Logo
deu hora e aos pouco o povo foi levantando, ajeitando mochila, quentando agua
pro café da noitada, cafezinho na rede é bom demais, inda mais pra mó de atiçar
a vontade do pito, devagar conferi os trem tudo e depois de tudo certo e
ajeitado segui o meu caminho, pois tinha pra beira de mais de 40 minutos de
caminhada inté a fruteira, de sorte que é de fácil subida e não precisa fazer
mutá, basta chegar subir e empoleirar.
Com
a mochila nas costas e a arma de bandoleira passada no ombro, fui descendo
cantarolando, sem me preocupar muito com a hora, afinal ainda tinha 5 dias de
hospedagem naquele maravilhoso lugar.
Logo
estava na espera, não era nem três da tarde e eu já estava deitado na rede, com
os ouvidos atentos e os olhos abertos esperando a chegada de algo que fizesse a
32-20 abrir a boca, logo chegou um casal de Mutum, com seu pio fino, o macho
preto com seu topete ajeitado, balançava a cabeça a cada passo da mesma forma
que soltava um pio, seguindo ele, a fêmea carijó, desconfiada olhando de lado
tentava descobrir que bicho esquisito era esse deitado numa rede verde no alto
da arvore.
Mutum
é bicho monogâmico, só faz uma parceria na vida, num gosto de mexer com ele
não, se for pegar tem que ser o casal, no mais prefiro uma Jaó ou um Jacu, inté
mesmo uma inhambuzinha.
Falando
em Jacu lá dentro da mata um bando grande fazia uma sinfonia doida num gritasseiro feio de doer, quando
beirou as 17:30 as jaós começaram a sinfonia, uma cantava aqui outra respondia
ali, e foi aumentando a piação que parecia que o mundo era só de jaó, escureceu
sem vir vivente de couro, quando bateu
19:30 entrou umas 5 pacas, num vai e vem sem medida, quando o ouvido acusou o
ponto acendi a lanterna e era uma pequena, logo desliguei, esperei novo ponto,
andou, rosnou danou a brigar, com
certeza era dois macho grande labutando território, então não perdi tempo
acendi a lanterna e estacionei uma castanha no meio da testa da grandona que
nem fez mensão de bater pezinho, ai foi paca para todo lado, sem falar em outro
trem que rompeu mata a dentro quebrando tudo, se num era a porqueira da anta eu
mudo meu nome.
Não
demorou muito outra sapateira veio do cerrado derrubando o mundo, no rumo da
fruteira, pense num trem desajeitado, dizem os mais velhos que na hora de fazer
a Anta o Pai Maior juntou um pedaço de cada trem que tinha sobrado e deu no que
deu, orelha de cervo, tromba de elefante, corpo de jumento e outros trem mais.
Minha
prenda tava garantida, como tinha marcado bem o trieiro do caminho, já ajeitei
a tralha e tratei de ir para o pouso pelar o pacoçu e já jogar no tempero para
o dia seguinte, aqui é assim, quem sabe matar, sabe carregar e sabe limpar, era
como dizia o finado Sr. Joaquim.
Subi
a serra com destino ao pouso era cedo ainda, mas a regra era um bicho, não
tinha conversa era seguir a regra, então a ideia era chegar ao pouso e preparar
um comer no jeito, que a barriga fazia pedido de um trem com mais sustância, sem
falar em uma boa dose de brejeira pra mó de animar a cabeça, chegando no
pouso acendi o lampião e aticei o fogo,
logo a labareda subiu espalhando fagulhas que estralavam no espaço, nesse meio
tempo fui ao córrego enchi o panelão de agua e pus a ferver, enquanto chegava
na fervura, lasquei um pedaço de queijo e uma boa dose de pinga pra riba,
sentei cantarolando uma moda, puxei o fumo e a palha e tratei de confeccionar
um pito.
Volta
e meia metia lenha inte que as borbulha tomaram conta da panela, então com a
cuia, apoiado em uma taboa cortada de motosserra, fui molhando a leitoa e raspando, a bichinha que
foi ficando alvinha de dar gosto, inté que o trabalho ficou perfeito , bonita
como quem ia a uma festa, abri a buchada tirei os fatos, a pele que envolve
tudo ali, fiz uma analize na buchada pra ver o que ela tava comendo e fui ao
córrego lavar as mãos e a bicha, ficou chique demais, a buchada e os outros
trem que iam fora coloquei no saco para enterrar no dia seguinte.
Arranquei
a beira da barriga, parte que eu mais gosto, passei um sal com alho e meti no espeto, aproveitando a
brasa vermelha e estalante que me convidava para tal feito, logo o trem dourou,
e o cheiro subiu, foi quando escutei a passada cortando a beira da mata e a voz
rouca cantando Milionário e José Rico, era Paulão chegando com um mateiro,
canela roxa, nas costas, suado feito tirador de esprito, de longe me vendo já
fez festa com o cheiro da carne assada.
-
Homeeeeeeeeeee desce uma que o cheiro desse tira gosto faz merecer..kkk
Foi
só a farra, larguei o que tava fazendo para ver o mateiro que Paulão derrubou,
era um macho criado de anca larga e pelo bem vermelhado, a beira do pescoço e
as patas bem escuras, era o verdadeiro canela roxa, uma peça de fazer gosto, um
verdadeiro troféu, como dizem os antigos um verdadeiro caçador só se faz
caçador depois que derruba um mateiro.
Afinal
mateiro é bicho veiaco, mestre das treitisse, anda feito visagem, passa num
montueiro sem fazer barulho, e some sem ter motivo de porque, os antigos tem
muitos causos de mateiro, que envolve forças do além os trem do outro mundo,
dizem que o bicho tem inté trato com o tinhoso, que tem hora que num anda feito
trem vivente mas que avoa sem pisar nas
folhas, por isso não faz barulho, mateiro é bicho sem pressa, as vezes pra
romper poucos metros demora para mais de hora, é trem de faro e ouvido de
vidente, sente a presença do esperador inexperiente de longe.
Tratamos
de tomar uma e comer o tira gosto que já estava pra mais do que no ponto, e
como Paulão chegou, pequei mais um pedaço e coloquei para assar enquanto a
gente tirava a camisa do mateiro, toma uma, toma outra a pinga corria goela
abaixo, e assim fomos inte que acabamos o serviço, a hora passou e nada do
Jorjão chegar, deitado na rede ali mesmo adormecemos, atiçados pelo efeito da
mardita, de repente o silencio do sono foi quebrado pela voz do companheiro Jorjão.
_Neeeeeeeeeego
tem base não, catanhei um materão bem castanhado e o bicho sumiu, eita bode
treitero, passei mais de 3 hora procurando o bicho e nada, amanhecendo o dia a
gente tem que fazer um pente fino lá, num tem trem pior que atirar em bicho
saber que castanhou e perder ele, tem base não, tem que achar esse trem, tenho
certeza que foi pilotada certeira.
Logo
levantamos, Paulão atiçou o fogo, e eu sentado na rede pedi para o Jorjão
contar o causo, tirei o fumo do bolso e a palha e danei a enrolar um pito
enquanto ele tomava uma para iniciar a narrativa.
Nego,
tava garranchado inté alto, tinha piseiro de muito trem, mas a pisada mansa
desse mateiro me fez azedar a boca, sabia que era trem bruto, e veiaco, e por
isso controlei o respirar em cadencia pausada pra mó do coração acalmar, e esse
bicho fez volta, ora pisava, ora quetava, de vez escutei ele comendo umas
piuna, mas longe de ponto, e assim foi por mais de hora, inté que senti que
tava alinhado com minha Itajuba, então acendi a lanterna devagarinho apontada
pra cima e fui baxando devagar, inte que os olhos azul dele viraram farol, e
cochilando o gatilho para tirar a folga fiz ponto na cruzeta dele e soltei a
castanha.
Esse
bicho berrou num eito e sumiu num quebra pau retado, inté que quetou, desci,
procurei até e nada, isso era umas 23:40 para 00:30, ai ajeitei os trem desci e
procurei até agorinha e num achei nada, nem rastro nem sangue, nada.
Como
faltava pouco para o sol mostrar a cara, Paulão resolveu passar logo um café, e
começar a quentar o pão, desfiou um pernil de paca assado que tava na panela e
estralou alguns ovos dentro, o mexidão estava pronto e com cheiro de abrir
goela e o café já cheirava longe também, o pão torrado na brasa estava
estralando, e o sol já vinha jogando cor no breu da noite e mostrado a beleza
da mata que a escuridão da noite lutava para esconder.
Passarinhada
danou a tagarelar pra toda banda, e como
estava todo mundo de bucho cheio e com o pouso ajeitado, era hora de meter a
mão no facão e ir a procura do mateiro
que Jorjão baleou, descemos a mata em um trieiro aberto de pouco que parecia
não ter fim, fazendo volta para todo lado, inté que saímos em um plano de
arvores altas e mata mais aberta, seguimos mais um pouco e a mata danou a
fechar novamente, inte que no meio de uma ingazeira de cipó demos no grande pé
de mirindiba.
Logo
ele veio mostrar onde estava e onde o bicho entrou, onde ele atirou e os
prováveis rumos que o mateiro poderia ter tomado, então nos dividimos para varrer
um raio de mais de 150 metros, cada um cobrindo 5 a 10 metros de lateral, agora
era questão de honra achar essa prenda.
Jorjão
estava agoniado, e não é pra menos, realmente o caçador de verdade sente muito
quando atira em uma caça e ela vai embora ferida, é uma sensação horrível que
tira a graça de qualquer mateiro.
Então
começamos a busca, em linha seguimos para o norte, e olhando tudo que é buraco,
abrindo moita, fuçando a macega subimos até bater no leito do córrego e nada,
resolvemos votar, ai partimos novamente do ponto do tiro para o sul, foi quando
olhando por baixo de uma moita Paulão arranjou um bocado de sangue, mas nada do
mateiro rompeu a frente, abrindo cipoal por toda volta e nada de sangue, voltou
ao local que estava sujo de sangue, e pra surpresa, o mateiro estava a dois
metros de altura morto em meio ao cipoal, na ânsia da morte ele pulou e se
engastanhou bem no alto, tem base um trem desse.
Foi
ai que escutamos o grito do Paulão...Encontrei, tá aqui meu povo.
Então
nos direcionamos para onde o companheiro estava, eu chequei primeiro, logo
depois Jorjão, que quando Paulão mostrou o lugar que o mateiro tava foi o
motivo da rezenha.
Já
vi pé de tudo que é trem, pé de jaca, de melancia, de tomate, mas PÉ
DE MATEIRO, esse eu nunca vi.........kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
E
foi uma farra danada, e Jorjão a todo tempo afinava, pois sabia o que tinha
acontecido naquela noite, sabia na sua experiência de caçador veio que escutou
a pilotada da castanha estourando no couro do bicho e rompendo tudo quebrando
osso e acertando os órgãos vitais do animal, pois sabia ter paciência, sabia
cochilar o gatilho, esse sim é o verdadeiro mateiro, o sertanejo forçado a vida
da cidade, mas que todo seu conhecimento estava nas coisas do mato, e a todo
tempo ele repetia.
_Eu
num falei, erro não nego, só coloco castanhada certa.....
Então
visto que a hora já fazia o bucho reclamar, nos apressamos e logo tiramos o
bruto de cima do cipoal, um jumentão que num tinha mais para onde crescer,
depois de piado, passamos em um varão por entre suas perna e subimos pra o pouso reversando no carrego,
afinal o trem parecia pesar pra mais de 70 quilos.
Tiramos
o dia para vadiagem, depois de descamisar o bruto, e de colocar o contra filé
na frigideira regado de sal, alho e um pouco de açúcar na banha, caímos na boa
pinga e no contar dos causos, foi ai que me despertou novamente a vingança, ou
a questão de honra que tinha ficado na minha primeira esperada, então como hoje
era a ultima noite de espera eu ia voltar ao primeiro pequizeiro e pegar a
gorducha de mais de onze quilos, que me fez passar gosto e lavar minha honra.
Contando
o causo, Paulão jurava que era paca concha, daquelas cinzentada para mais de
onze quilos (na realidade a paca concha que o povo fala, é a mesma paca, afinal
só existe uma espécie, é apenas uma forma carinhosa de chamar as que crescem
mais e isso o que manda é a linhagem e a região), segundo Paulão era por demais veiaca, daquelas que num aceita
luz, puladeira, acender lanterna era o mesmo que tacar uma pedra nela, ia sumir
no mundo e nunca mais voltar.
Mas
eu tinha um plano que num ia falhar, chequei cedo no pequizeiro e com a ponta
do facão catei a maior quantidade de flor que eu pude, juntei tudo num ponto
certo, subi me ajeitei e logo a noite chegou, num demorou muito o catingueiro
chegou, comeu umas flores que ficam esquecidas e foi ao anontuado fazer a festa,
depois saiu e o silencio voltou a reinar.
E o tempo passou, beirando as 20:30 horas a buia fina saiu da mata, foi chegando devagar,
cortando o capim com pisada de paca pesada e logo parou no montuado, não
demorou escutei o mastigar, quando acendi a lanterna com a 32-20 apontada no
ponto onde montuei as flores, a pacona pulou, e no vulto ví o filhote seguir a
mãe e parar sem ação a luz da lanterna, era sem duvida a maior paca que já vi
na vida, mas quando vi o filhote a esperada acabou, a gorducha venceu, saiu
devagar com sua cria no rumo da mata.
Eu
ajeitei a tralha e desci, voltei feliz para o pouso com o coração em plena alegria,
no caminho ainda na campina topei com a campeira parida ao lado do seu filhote
todo pintadinho, foram duas cenas que
minha alma jamais vai esquecer....
Na
mente a certeza que a mata continuava viva,
que a bicharada estava cumprindo a função da existência, crescendo
reproduzindo e esperando a gente pra a nova empreitada...
Como
dizia os companheiros Jorjão e Paulão tem o dia da caça e do caçador e hoje foi
o dia da caça....
O
dia amanheceu e era hora de ajeitar toda traia, colocar no 608 e pegar o
caminho da cidade, afinal a família nos esperava e a vida tinha que continuar.
Bello
25-05-2014
PACA DE BURACO
Zé é caboclo tinhoso, nascido e
crescido em terra mineira, a beira do São Marco, rio de água corrente cercado
de mata fechada e ribeirões de corredeiras espumantes povoados de piraputangas,
conhecedor das matas, trieiros e manhas da bicharada, aprendeu tudo desde menino,
com seu pai, caçador respeitado naquelas bandas de mata e com seu amado avô
velho mateiro de grande conhecimento.
Certa
ocasião, andando a beira do Ribeirão das Éguas, deu com um trieiro de paca que
lhe chamou a atenção, trieiro fundo e marcado de paca gorda e erada, tratou de
fitar o olhar nas arvores em volta, procurando trepeiro, logo arranjando um Ipê
frondoso que parecia ter nascido pra preciosa função, já com facão em punho rompeu mata a frente pra
arrancar os varão pra ajeitar o mutá, quatro peças era o ideal, escolheu
madeira boa de aquentar peso, Pau Pereira, voltando encostou os varão no Ipê e
olhando pra cima imaginou a rede posicionada, fez a analise do ponto e logo
achou o lugar certo para colocar o milho.
No
outro dia logo cedo, aproveitando a deixa de ir ao campo olhar o gado, e já
preparou a canga com o milho, ajeitou tudo e seguiu viajem, passou pela vereda,
curou um bezerro, esticou um arame e por fim chegou a beira da mata, rompeu
cantarolando uma moda antiga de Tião Carreiro e Pardinho, numa felicidade de
dar gosto, o céu azulim, chamava a passarada ao canto e no meio da mata podia
se ouvir o pio da Jaó.
E
seguiu trieiro, inté que já ouvindo o ronco do ribeirão pode avistar o frondoso
Ipê, do bolso, sacou o fumo de rolo, o
velho canivete sem ponta com cabo de osso e com capricho na paia do milho
ajeitou o palheiro, sentado a beira da sombra de uma Imburana, puxou a binga e
lascou fogo, enquanto a fumaça subia, o zé
sorrindo já pensava na leitoa que em breve estaria estalando a pururuca
no forno do fogão de lenha, recheada pelo tempero magico de Dona Helena, mulher
ajeitada de cozinha, com mão temperada e
olhar maternal, que conhecia como ninguém os segredos de preparar uma boa carne
de caça.
O
sol já começava a esquentar e os varões já estavam todos amarrados, lá de cima
do mutá, ele olhou o ponto certo de ajeitar o milho, desceu afastou algum galho
que podiam desviar o tiro e amarrou com
arame pra não cortar e ficar cheiro de corte, e rezando uma prece derramou o saco de milho no
chão pintando de amarelo o verde da mata, logo a sede apertou, foi até a beira
d’água e se fartou sentindo o gostinho gelado da nascente que brotava serra
acima.
A
barriga começava a reclamar avisando que o relógio já estava as onze, então
montou o cavalo e seguiu o rumo de casa, já pensando na pelota de mateiro
ajeitada na lata com banha de porco que o esperava, ai foi que o estomo roncou
com gosto, vez em quando ajeitando o chapéu, e brincando com a cuca que volta
em meia retornava o pensamento para a leitoa que talvez essa noite já comeria
no ceveiro.
Com
período de 23 dias daria lua, a cheia tinha chegado ao dia 18, então dia 22 ela
tava mostrando a cara lá pras 9:45, era o tempo certo, logo cedo ele ajeitou a
capanga, a faca, a velha lanterna de foco baixo e amarelo, a rede, uma
garrafinha de pinga pra mó de esquentar se o frio apertar, e a estimada Flobé,
rabo de cotia herdada de seu velho e amado pai, estava enrolada em um pano de
flanela e guardada atrás do portal da
cozinha, em local seguro e estratégico, sua mão calejada da lida pegou com
carinho a arma, sentado no tamborete da cozinha, com seus olhos claros e
mansos, foi desenrolando e olhando com todo amor do mundo a companheira de
empreita que tanto lhe trouxe alegria, assim como foi para o seu velho e finado
pai, a coronha ainda brilhosa e o cano de preto tratado a óleo, e ainda a
bandoleira feita de couro de mateiro canela roxa, trançada pelas mãos hábeis do
seu avô.
Dona
Helena companheira carinhosa já tinha preparado a matula, com pelotas de
mateiro e farinha, e uma garrafa de agua fria tirada do filtro de barro que
ficava coberto com um lindo pano de crochê feito por ela mesma, acima
pendurados em ganchos os copos de alumínio brilhavam de tão bem areado. Já de traia pronta
e com sol baixo beirando as cinco, Zé montou no cavalo e seguiu o rumo da mata.
Na sua cabeça vinha a todo o momento a imagem da bruta chegando, do barulho da
pisada mansa, como querendo enrolar o ouvido manhoso do velho esperador, afinal
aos seus 72 anos a experiência falava alto, começou as lidas ao lado do pai e
do avô ainda menino birrento, e com eles aprendeu a ouvir, sentir o cheiro, a
conhecer o rastro, a época da fruteira, distinguir o fazedor do trieiro, jeito
de bicho mexer, de andar, de barulhar, sabia o leriato da mata como ninguém,
mas o que ele não imaginava era que algo novo vinha por desafiar tudo que ele
já tinha visto nessa vida de lida de esperador.
Beirando
a mata, soltou o cavalo, bicho manso e ajeitado, era apenas assobiar que ele
vinha, e cavalo amarrado a beira da mata é banquete de onça, e o bicho estando
solto tem chance de correr e se livrar da treiteira amarela de bolinha preta,
ajeitou a capanga no ombro, um pouco de milho no saco, e com a estimada
Flobé em punho e já municiada, rompeu
mata adentro, lá na sombra do grande Ipê, viu que pelo comido do milho era uma
única leitoa que estava se banqueteando ali, e como ainda tinha um pouco de
trato, amarrou o saco no alto de um cipoal para na hora de descer reabastecer o
comedor, botar comer novo no dia de subir é erro de novato.
Desarmou a Flobé, subiu, amarrou a rede e se
sentou ajeitando os pés para puxar a
tralha, subiu tudo com a cordinha, velha companheira das lidas, pendurou o
bornal e a espingarda, nesse momento um grande alivio tomou conta da sua alma,
tirou o chapéu, secou o suor da testa e tratou de ajeitar um palheiro antes do
sol se esconder por trás dos montes.
A
tardinha um bando de quatro Jaó fazia algazarra nas folhas secas da mata, junto
com algumas juritis enganadeira de esperador que faz imaginar que seu ciscado é
pisada de trem de couro, lá mais pra dentro da mata um casal de Mutun, piava
seu pio fino e olhava desconfiado de longe, o esperador na rede, como quem
diz....Que trem é esse?...., Mas o velho mateiro conteve o dedo, pra mó de num
deixar peneiro e bicho na ceva a fim de espantar a leitoa.
O
tempo correu depressa e a noite veio chegando de mansinho, e aos poucos o verde
se escureceu, a mata de tão fechada impedia de se ver as estrelas, e um
silencio medonho tomou conta de tudo, experiente os ouvidos rompiam longe,
buscando barulho, imaginando o caminhar, a vida que com o escurecer, movimentam
e enfestam os trieiros da mata a beira do pequeno ribeirão.
Logo
um trem pisou avexado do outro lado da agua, pelo caminhar da buia parecia um catingueiro cismado com
alguma coisa, logo o silencio voltou a reinar, lá pras oito da noite, escutou a
buia mansa, no rumo do ceveiro, o coração danou a bater em disparada, a boca
começou a azedar, e um leve tremor tomou conta das suas pernas, era a tinhosa
leitoa pintada, que vinha mansa, logo se ajeitou devagar, como em câmara lenta,
empunhou a velha lanterna abaixo da telha e ficou a ponto de tiro.
A
leitoa velhaca, deu volta inté as hora, de vez em quando parava e ficava um bom
tempo quieta, outrora, batia pé desconfiada, logo o Zé encabulou, tem trem
errado ai ? E nessa labuta foi-se tempo, quando faltava pouco pra lua sair, ele
escutou o estalo do milho no mastigar da paca, devagar acendeu a lanterna.
Tibummmmmmmmmmm.....Foi
um pulo só, e uma carreira desenfreada mata a dentro.
Diacho
de paca veiaca, trem atirado, num pode nem ver luz, resmungou sem parar,
enquanto desamarrava a rede e ajeitava a traia pra voltar pra casa.
Saindo
da mata num assovio chamou o cavalo que prontamente chegou, selou o bicho, montou
e seguiu caminho sem parar de resmungar, de minuto em minuto repetia..
Eita
paca veiaca, é trem atirado, tem base não.
E
assim seguiu a labuta e durante quase três meses, a paca lhe deu o baile, foi o
maior baile que tomou de uma paca durante toda sua vida, aquilo já tinha virado
causo pessoal, causo de honra, ou inté trem mais complicado, ele tinha que a
todo custo pegar a tinhosa, comentando o causo com seu compadre o conselho foi
de botar armadilha, o Zé pulou longe..
De
jeito nenhum, quero pegar na bala, é causo de honra home, inda faço uma aposta
se eu num pegar ela do meu jeito arranco meu bigode e nunca mais deixo crescer,
e oce sabe que sou home de palavra forte, e tive bigode a vida inteira.
Já
beirava o meio dia, e Dona Helena ajeitava a comida na mesa, do velho fogão de
lenha, o cheiro da galinha caipira com gabiroba ia longe mexendo com o estomo
alheio, arroz com pequi, e salada de jiló, sentado no alpendre com o pensamento
longe o Zé matutava a empreita da paca veiaca, mil ideias surgiam, mas a frente
no terreiro um porquinho malhado fuçava o barro em busca de algumas guloseimas,
quando de repente enfiou a cabeça em um pequeno buraco ficando somente com a
bunda para fora.
Foi
um baita estralo na cabeça tinhosa do mateiro Zé....Paca de buraco...Veio a
ideia, de cavar um buraco de forma a que o milho ficasse bem no fundo, fazendo
a tinhosa entrar cabeça adentro de forma que não ia atentar a luz da lanterna,
nesse momento inté a fome sumiu, seu pensamento ia longe na treita que pretendia
para a paca esperta, quando foi quebrado pelo grido de Dona Helena....Zé o cume
tá na mesa, vem logo home senão o trem esfria.
Dispois
de encher a pança ele sentou a rede na varanda e voltou a matutar de como seria
a forma de ajeitar a treita para ensacar a paca veiaca que já vinha lhe fazendo
de besta por quase três meses, home tinhoso, nunca tinha passado por isso, é
claro que a vida de esperador já havia lhe trazido muitos desafios,
principalmente os mateiros que pisam manso e só gostam das altas madrugadas,
mas paca ter lhe engabelado assim, nunca, e isso foi demais pra ele.
Antes
mesmo do sol esfriar ele afiou o facão, ajeitou o bornal, selou o cavalo e
rompeu para a espera, chegando lá, afastou as folhas para o lado e com o facão
afiado foi cortando a terra devagar em forma de uma pequena cisterna, separou a
terra e foi juntando e colocando em um saco pra num deixar motivo pra veiaca,
com mais ou menos uma circunferência de 35 x 35 de largura e com 40 cm de
fundura o trem ficou chique por demais, bem acabado, com fundo reto, paredes
firmes, ai ele encheu inté o meio de milho e cobriu com folha, a próxima lua
boa era pra beira de dezoito dias pra frente, e a esperança era a paca não
estranhar e começar a comer ali ainda essa noite.
A
ideia era não voltar mais lá, pra mó de num deixar cheiro, e só ir na lua certa
pra esperar, mas a curiosidade com uma semana atinou sua cabeça de modo que não
aguentou a curiosidade e acabou indo conferir o mal feito, chegando lá nada, a
bicha nem tinha mexido, e assim foi, mais um mês, inté que ela começou a comer
de novo, a angustia estava grande e o desafio havia virado uma obsessão. Então
a alegria tomou conta do seu coração quando ele viu que tinhosa tinha voltado a
comer, caprichosa levantava apenas algumas folhas sem bagunçar o comedor, e se
fartava do milho inté encher a pança e dispois sumia mata a dentro.
Finalmente
deu lua, e tava tudo no jeito, a paca tava comendo bem no buraco, e flobé
afinada, tinha passado a tarde treinando pra mó de num perder a viajem, antes
mesmo das quatro horas a traia já tava toda ajeitada em cima da mesa, Dona
Helena passava com olhar de desaprovação, porque a paca veiaca já tava inté
dando pitaco na vida sentimental dos velhos companheiros, o Zé num falava de
outra coisa, já não comia direito nem dormia a noite toda sem cair em pesadelos
e gritar desesperado...Te pego veiaca....
Logo
que o sol esfriou ele já tava empoleirado, inte a roupa ele deixou dois dias no
mato pra mó de mun levar cheiro de casa pra espera, apiou do cavalo, e soltou o bicho, tirou a roupa que veio de
casa, com uma garrafa d’água se molhou pra mó de tirar o suador do caminho, e
vestiu a roupa que tava no mato, inté a bota ele trocou, e foi de ponta de pé
subiu rápido pra deixa motivo de cheiro no caminho, não pitou nesse dia e mal
piscava o oio, para num fazer barulho.
A
ansiedade era tão grande que noite demorou a chegar, a lua tava pra sair as
10:00 hs, então era mais que suficiente o tempo pra veiaca encostar e ele
colocar ela no saco despois de anestesiar a bruta com a agulha da rabo de cutia
calibre 22Lr. Lá pras beira das oito horas uma pisada mansa passou por traz do
Ipê, hora andava hora parava, o Zé nesse momento só não conseguiu parar o
coração, estava imóvel, feito estatua, respirando devagar um pequeno erro podia significar mais uma
vitória da veiaca paca, e assim se foi, rodeava, rodeava, parava, andava, sempre
devagar, mansa tinhosa, inté que beirando as nove e meia, já com caibra de
tanto ficar imóvel ele escutou o estralar do milho nos dentes afiados da
roedora, se conteve esperou um pouco mais e entre um estralar e outro imaginou
ela enfiando a cabeça no buraco pegando um milho e tirando a cabeça para
mastigar, então calculou a hora certa e quando o coração firmou e comandou a
ação, ele acendeu a lanterna.
Tava
lá a bruta com metade do corpo dentro do buraco, bicha grande e de marrom
escuro que mais parecia um fiote de capivara, mas lá estava ela com a bunda pra
cima se acabando no milho, assim que ela mostrou a cruzeta, ele
disparou...Taaaaaaaaaaaaaaaaaapppp..
E
foi um baita pulo e a leitoa rolou inte apoiar em uma moita de taquaral que
circulada a curva do ribeirão, nessa hora o veio Zé não se conteve ainda
tremendo, com o coração acelerado e a boca azeda, gritou de alegria........Vai
venhaca, brinca com eu, brinca...Aqui é Zé, Zé de Dona Helena, fio de Bastião e
neto de Seu Gonçalves...Brinca com eu brinca.....kkkkk.....
E
ajeitou a traia rápido, queria descer e conferir o feito, quando chegou perto
ficou assustado com o tamanho da bruta, a famosa paca concha de 15 kilos, a
bicha era grande, gorda e toda marrom, não tinha uma pinta sequer, de branco
somente a barriga mermo, ficou ali durante um bom tempo examinando o troféu,
inté que com a alma lavada colocou a bruta no saco e seguiu para o rumo de casa,
Dona Helena mulher treinada e conhecedora da causa, já estava com a agua
fervendo no fogão de lenha, pra pelar a
leitoa, quando o Zé cruzou a soleira da porta com da dita cuja na mão,
segurando pelas patas traseiras a bruta encostava o focinho no chão, de tão
grande, e marrom escura sem pinta alguma. Assustada com o tamanho e o tipo da
paca...Exclamou Dona Helena....Que paca grande e diferente é essa Zé?
Sorrindo
o velho mateiro respondeu....
É
paca de buraco minha veia, paca de buraco...kkkkkkkk
Bello
27/10/13
Fui criado no campo ao meio dos bichos e de grandes causos contados pelos mais antigos. Adoro causos assim, li com tanta satisfação seu conto que inté imaginei no teu lugar, sentindo e cheirando cada trilha ou pisado dos bichos. lembro ainda dos dizeres do meu saudoso avô; O bom caçador tem que saber o cheiro que cada bicho tem. A vida do campo não tem igual. Sinto, estar morrendo com a vida na cidade. Pois, com emprego que tenho não mais posso me dar o luxo de sentir a buia no cerrado ou mato. Assim, me resta o dedilhar nas teclas da evolução em busca do prazer incomparável de ler os contos de uma boa caçada.
ResponderEliminarBom demais amigo...Abraço..
ResponderEliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarCaro amigo a caça no Brasil constitui crime ambiental, salvo a do javali desde que seguindo a legislação corretamente por isso removi o comentário, no caso do javali o cano cai bem...Muito obrigado por visitar o blog espero que tenha gostado dos contos e causos que tem o intuito de resgatar a cultura e as historias dos sertanejos do Brasil..Grande abraço.
EliminarObrigado amigo, gosto muito do seu blog, já li todas as histórias, é bom saber que ainda existe pessoas como você que guardam um coração de mateiro e nossas raízes, e divide isso com outras pessoas. Quando puder me mande um email pra gente da uma proseada (thiago_leao08@hotmail.com). Grande abraço!!!
ResponderEliminarPrimeiramente, peço licença para comentar. Pois cada causo é uma maestria; coisa de mestre.Mas o causo que li, ré-li varias vezes e que me fez dar atenção a todos eles foi esse...Pé de Mateiro. lindo
ResponderEliminarÉ muito importante os comentários, e é com grande satisfação que o blog tem levado os leitores a viajar no tempo, em um tempo que o próprio tempo sente saudades, Rever os sertanejos, rever os mateiros e lembrar do tempo de criança onde sentados ouviam os antigos causos contados por esse país...
EliminarBoa tarde amigo.
EliminarQuanto vai ter novos causos?
Já li todos mais de duas vezes srsr.
Você escreve muito bem, é como se eu estivesse na empreita.
Parabéns!
Tem dois causos novos no forno e ta ficando bom...A MORTE DA RAINHA e O MATEIRO, acho que vai gostar.OBRIGADO e grande abraço.
EliminarEi homi, cadê o causo que você falou? Disse que estava no formo, nessas horas já esturricou uai kkkk.
EliminarForte abraço
Tiago Melo
Entrou dois causos novos..A treitisse das Gatas e Na serra dos queixadas..Bom demais..
EliminarHomi, esse aí eu já li de duas vezes cada srsr. Visito seu blog quase diariamente parceiro. Seus causos são de deixar o cabra se sentir na empreita. Forte abraço parceiro!
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOlá Sr. Aberlado, meu nome é Bruna e faço parte de um projeto de extensão da Universidade de Brasília chamado Museu do Cerrado e gostaria de entrar em contato com o senhor. Meu e-mail é brunajy.unb@gmail.com . Fico no aguardo do seu contato.
ResponderEliminarAtenciosamente,
Bruna.