CAUSOS E CONTOS

FIM DAS ÁGUAS - O ONÇEIRO - PREMONIÇÃO - PROCRIAÇÃO - COM A PALAVRA O SENHOR DA MATA





FIM DAS ÁGUAS

As águas se aquietaram nas planícies do Goiás e a friagem chegou, a grota agora cobra seu preço, se não for de preparo certo volta antes da hora, o milho safrinha ainda vai dar de comer a muito vivente, os bandos de maritaca revoam esperando a hora da fartura, o horizonte se pinta de tons púrpuros com o pôr e nascer do sol, o cerrado ainda verde com seu capim alto amoita o campeiro que acaba de perder as pintas, alguns machinhos brotam o chifre aveludado em rumo de crescimento, e na agitada movimentação dos bichos os trieiros começam a ficar mais visíveis.
De longe o amassado do carreiro da anta já marca a campina, os rastros outrora firmados na estrada molhada agora se firmam no pó fino e seco, a barriguda linda floreia em tons de rosa e branco, o murici já acabou, outras flores chegam devagar, e a ventania balança a mata desafiando o ouvido e a paciência do mateiro que anda veiaco, pisando em toada mansa assim como muitos viventes da mata que perambulam aproveitando da ausência das folhas secas que estalam denunciando o caminhar.
A gata não mexe mais na criação, agora a vida dela começa a ficar menos trabalhosa, volta a lida pesada no carreiro da porcada, que desce da serra e cortam as grotas buscando alimento, porco é bicho perseguido que não tem trato nem hora com ninguém, bandoleiro chega e some por bom tempo, mas no andar da bicharada tudo para e se cala quando o esturro do macho preocupado com seu território ecoa na mata durante a madrugada, inté o grilo não se atreve a cantar.
A poeira ainda não pintou as arvores que beiram as estradas e as marcas das enxurrada deixaram vincos nas estradas mais ermas, a mata verde se destaca ainda úmida e revitalizada pelo trabaio de São Pedro, porem tudo agora tende a mudança, estamos beirando junho o meio do ano, em três meses de estiagem o Centro Oeste vai mudar de cor, vai a tons de cinza ao marrom palha.
É o fim das aguas no Goiás, as Emas correm em bandos, o pica pau do campo faz festa, a perdiz perambula por entre o capinzal, enquanto isso a gralha do campo acompanha meu caminhar me marcando e gritando, é aviso de que tem movimento, tem vivente ou coisa diferente por ali, logo as seriemas se acasalam e vão ao auge da falta de capricho ao fazer o ninho mais mal feito da mata para colocar seus ovos.
Na toada do Jeep a poeira do estradão se apruma deixando a saudade, na frente acompanhando a estrada a esperança de mais um ano de aventuras e vitórias, com a certeza de que tudo de novo vem no horizonte pintado com as cores do frio no nascer do sol nesse meu maravilhoso Goiás....

Bello 21-05-2015






O ONÇEIRO


         Zé Gato era o nome que todo mundo chamava o velho José Firmino, muita gente nem se assuntava o porquê da alcunha ¨Gato¨, apelido que veio dos tempos da sua juventude onde exercia a profissão de Gateiro, profissão hoje pouco conhecida e por muitos até inimaginável, Zé Gato caboclo natural de Manaus, amazonense de alma e coração, homem franzino de estatura mediana, bigode largo e sotaque misturado, nada mais agradável que ouvir ele narrar sua trajetória por esse mundo de meu Deus, ouvir seus causos e contos, era uma verdadeira aula sobre a história da caça no Brasil.
         E ele contava mais ou menos assim.....
Naqueles tempo meu filho, o trem de labuta era a borracha, trem pesado e sofrido, mas era o que dava renda, lembro que quando a gente chegava na mata cortando rumo em busca de novos pontos,  a primeira tarefa era ajeitar o Tapiri, uma cabana pra servir de morada pelo prazo de serviço do seringal, as grandes picadas cortavam para todo rumo onde tinha seringueiras, e todo santo dia por volta das cinco da manhã eu já estava na lida sangrando as arvores e apregoando as tigelas, o leite que virava borracha na indústria pelo mundo afora, se misturava com o sangue e o suor do povo da floresta, era pra média de 14 horas diárias de trabalho no lombo de um menino de pouca caixa, roupas surrada e pé no chão.
 As coisas iam bem, ai de repente o trem começou a pretear, era as beira do ano de 1912 como contava meu velho pai, veio uma corrente de dificuldade na lida da seringa, e o trem foi apertando cada vez mais, lá pra chegada de 1919 não enxergando outra saída meu veio pai ajeitou a traia e mudou de profissão, tangeu pro rumo das pele de bicho que começava a ter valor melhor que a borracha, foi quando ele encontrou minha mãe e os dois juntos nessa labuta se embrenharam nas matas vivendo da atividade de coureiro, eu nasci em 1920, dentro da mata amazônica, cercado de bicho, por mão de parteira, dizia minha mãe que nessa noite onça esturrou pra todo rumo, como que anunciando minha chegada.
 Cresci descalço, banhando nos igarapé, fugindo de sucuri, trepando em arvores, e desvendando os segredos da mata, foi na carne da caça, no leite da castanha, e na boa vontade das fruteiras que eu minha mãe me alimentou,  eu acompanhava meu pai pra todo rumo que ele tomasse, lembro que quando fiz 15 anos no ano de 1935, foi quando minha mãe morreu de malária, foi um ano difícil, mas eu já tinha tino de homem, regalava postura e já estava na labuta a algum tempo, era eu cuidava do trato e da remessa do couro, cuidava do comer e tudo mais, e ainda no intervalo da labuta lidava com a caça das lontras e ariranhas.
Lembro que a gente tratava tudo e mandava pro porto, e de lá as peles iam para as casas aviadoras e exportadoras de Manaus, lá um povo prendado qualificava cada peça, o que tinha de melhor era mandado para os Estados Unidos e para a tal das Europa, o que não tinha muita qualidade, ficavam por aqui mesmo, iam para o sul.
Mas quem ganhava dinheiro mesmo eram os atravessadores, esse povo que explora o pobre sem ter um tico de tino de dó nem piedade, e a luta era difícil, era o de comer, da pólvora e do pito.
Lembro por demais que nos anos 50, danou a aparecer fotos de gente famosa vestindo casaco, sobre tudo e uns chapéu engraçado de couro de gato, era o que existia nos exterior de vestimentas luxuosa,  trem fino com preço de ouro, todo mundo queria couro de gato, foi ai que o Gateiro começou a aparecer, foi surgindo notícia de cabra tinhoso o suficiente para desvendar os mistérios da caça da onça, do maracajá e de outros pintados, mas não era lida pra qualquer um não, tinha que ser astuto, veiaco, tinha que ser Gateiro.
Foi assim que devagar nascia a fama de uma nova profissão, a pele fina passou a ser motivo de cobre alto, o povo chamava de pele de luxo, de fantasias, mas tinha que ser pintado, então as pele mais cobiçada era a do maracajá-açu, que o povo também chama de Jaguatirica, do maracajá-peludo , da onça-pintada , as que não era pintada mais que tinha muito apreço era o da ariranha e da lontra, os gato d’água, já a Onça Parda tinha pouco valor, mais ajudava a encher a bolsa.
Intão a demanda aumentou por demais, porque um casaco de luxo de maracajá-açu comia aproximadamente oito peles, o do maracajá-peludo, entre dose e quatorze, e de onça-pintada, cerca de três ou quatro peles, isso fortaleceu o ofício de GATEIRO, agora a moda era as pele de luxo, uma pele de onça de primeira qualidade, garantia ao Gateiro uma boa renda dava pra mais de seis salários mínimos da época, pela primeira vez eu via a cor do cobre, e fazia plano de ter algo nessa vida.
Ai um bando de gente se embreou na lida do Gato, mas poucos ficaram, alguns viraram comida de onça, não era simples assim não, tinha que ser treiteiro, astuto, afinal gato num é bicho besta, e no mais tem área grande.
Os anos passaram e devagar eu ia me aprumando, a profissão de Gateiro passou a ser reconhecida e valorizada, e eu fiquei firme nela, fui me aprimorando na lida com armadilha, pele boa era pele lisa sem furo, era buscar aprendizado, mas tudo tem seu tempo, lá  nos meio do ano de 1933 foi a época de ouro do Gateiro,  lembro que do ano de 1939 o trem começou a cair, veio a guerra, e o trem foi mirrando devagar e cada vez mais o mundo danou a mudar, uma nuvem negra tomou conta de tudo, mas o derradeiro fim veio  em meados de 1950, uma nova forma de pensar começou a invadir as Europa e o povo danou a ter dó da matança de bicho.
Logo os político da capital sentiram a necessidade de participar disso também, foi quando saiu uma lei nova que mudava o rumo de tudo, a tal da Lei de Proteção à Fauna isso em 1967 ou 68, mas mesmo assim até na década de 1970, ainda tinha alguns sobreviventes na atividade de Gateiro, mas tudo já chegava ao fim. Usar pele de gato passou a ser cafona, motivo de vergonha na roda da granfinagem....Findou-se assim a profissão de Gateiro.
Ai como os trem tanou a tomar outro rumo, resolvi bater perna por esse mundo veio e vim parar aqui nesses Goiás, foi dai em diante que de Gateiro, virei onceiro, agora quando uma fazenda tinha problema de onça pegando criação o povo me procurava, afinar meu trabaio era caçar onça, desonçei muita fazenda que tinha criação bulida, ganhava dinheiro por cada onça que eu matava, o couro pouco valia mais ainda rendia uns cobre a mais, pra enfeitar parede de gente da capital, naquele tempo era o que eu podia fazer pra mor de pôr mais prazo na atividade, afinal tinha que apurar o comer de cada dia.
A proza estava muito boa e o velho Zé estava empolgado no assunto quando Dona Chica chegou com o café coado na garapa e uns pãozinho de queijo de quebrar o queixo, Zé Gato sentado na sua cadeira de balanço a sombra da velha varanda de telha de caco, balançava calmamente fazendo ecoar o rangido do vai e vem no piso de madeira, enquanto apreciava o café. Em cada volta de sua pele enrugada pelo tempo deveria conter um bom causo, seu olhar calmo cristalino parecia refletir suas histórias.
 Na casa humilde da fazenda que comprou com sangue de onça, pouco tinha de moveis, a velha casa já bem maltratada pelo tempo e que agora era somente sustentada pela aposentadoria rural e um pouco de leite que se vendia, os poucos utensílios espalhados pela casa exibiam as marcas do tempo, ali se retratava um lar simples, mas cheio de histórias e vida e era a sombra da velha varanda que ele gostava de contar suas aventuras, os causos do seu tempo de lida mateira, o que o tempo lhe ensinou, as armadilhas que a vida pregou, os ensinamentos que aprendeu, e ali também acalentava seus erros e acertos.
Agora a velha Papo Amarelo que tanto falava alto, era apenas um enfeite na parede da sala, a numerosa e boa maloca de cachorro latia no passado, ali sentado na cadeira de balanço o contador de causos dissipava todo o seu conhecimento de lida na mata, de homem da floresta, se seringueiro, de gateiro, de onceiro de Zé Gato.
No bornal surrado de pano grosso pendurado por traz do portal tinha a história de um homem fantástico, cheio de sonhos, de sabedoria, capaz de entender seu tempo e o resultado de tanto descaso com a natureza.
Na sala a pra prateleira arqueada, a cristaleira trabalhada a mão, no canto um oratório trazido das bandas de Manaus, pendurada acima do portal que cruza pra cozinha a velha zagaia, que ganhou quando trilhou o pantanal do Mato Grosso, ao lado toda coberta de poeira a velha esturradeira lembrança de todo um passado.
Zé Gato dizia que aprendeu a usar a zagaia com um tal de Saulo, pantaneiro experiente que foi ajudante de Sasha Siemel nos anos de 1930, dizia que a luta no chão com a Gata grande, a pintada tendo somente uma zagaia na mão era uma necessidade de homem de sangue grosso, nada superava essa batalha, enfrentar toda fúria e astucia da onça frente a frente, olho no olho, era dançar com a morte no limite da destreza do onceiro. Mas isso era uma outra história.
E a esturradeira Zé, me conta a história dela companheiro, ele me olhou soltou um sorriso maroto e começou a prosa.
Oia cada trem desse tem história de encher o tacho, mas vou te contar alguns segredos da esturradeira, num é só ir fazendo uma assim não, tem magia. Tem segredo.
         Esturradeira se for de sopro ai é que leva treita mermo, a de cabaça tem ronco fino eu não gosto, prefiro a de gomo de bambu gigante, mas toda ela tem segredo no preparo se não, huhum, o trem num ronca que presta, mesmo a de bambu fica rouca sem tom certo, por isso tem que ser bambu benzido, arrancado na lua certa, no mês certo, é na cheia, pra depois da hora grande e no mês de março, logo dispois do dia da São José, que ta tenro, com água santa no gomo.
         Mas tumbém tem o curso certo de mais de duas chaves e meia, e tem de cortar de serra, num pode bater facão que faz trinca e põe a perder, e vai serrando e rezando o terço de forma a acabar na urtima reza, ai tem que enrolar ele num pano branco, virgem e deixar secar na sombra por sete meses.
         Nesse tempo ninguém pode pegar ou ver ele, o gomo deve de ser resguardado do oio de gente ruim, dispois é abrir o buraco do pio, que deve se ser feito de faca fina e com rodopio para direita, vai rodando inté abrir a cava, e vai testando, pra mõ de aprumar o ronco  no tom certo.
         Ai sim a assopradeira fica fina, e chama longe sem resmungo das dona da terra, que logo vem bater no ponto pra assuntar quem tá chegando no seu território, mas tem que esturrar no chão, a bicha é veiaca e qualquer motivo é motivo de desconfiança.
         Agora se for de puxar ai já entra outra forma de coisar, já é toco de buriti novo, com couro de cutia feema, despelado e esticado, mas tem que curtir no sal da cinza do carvoeiro, que ai ronca bonito, o puxador tem que ser de goiabeira bem retinho, e pra dar puxada de repique, tem que ser encerado com cera de abelha miuda, ai vai a destreza do tocante, pra esturrar certinho, tanto no ritmo como no tempo de repique.
As vezes no caminho da conversa ele parava a narrativa, e olhando distante ficava por um bom tempo calado, talvez buscando fragmentos do passado que ficaram engastalhados nas brenhas dessas matas que tanto trilhou por esse mundo de meu Deus, talvez revivendo momentos tão mágicos que resvalaram pelas brechas dos dedos, talvez pensando no tanto que nossas matas foram devastadas.
Foi quando ele parou e me fitou nos olhos dizendo:
É meu filho, as armadilhas ficaram para traz, não carece mais de couro sem furo de bala, o tempo mudou, onça virou raridade, já não é mais época de matar onça, o Grande Pai é sábio filho, e nos dá o tempo necessário para amolecer o coração da gente, e o tempo traz a idade que nos faz nascer novos pensamentos.
Era uma época de fartura filho, que a gente não soube preservar, mas era assim do jeito que eu lhe contei, era o que tinha pra fazer naquela época, sem receio ou medo de pecar, hoje com os meus bem vividos 92 anos não tenho mais nada a fazer, só tenho que esperar a morte chegar, a mesma morte que tanto desafiei durante minha vida inteira, em um tempo em que o pensamento era ter a onça como inimigo, e se arriscar no lombo do perigo,  sem saber do perigo que corremos naquele tempo de extinguir um animal tão belo e fantástico das matas brasileiras.
Inda bem que a Mãe Natureza na sua sabedoria guardou umas gata erada por essas brenhas desse meu Brasil, e nunca vai faltar uma noite escura recheada de esturros pelas grotas do imaginário desse povo que tanto ama a lida mateira....


Bello 19-01-2015










PREMONIÇÃO

O dia amanheceu carregado, nuvens bandoleiras perambulavam no horizonte, o ar estava pesado, naquela madrugada o galo não cantou e quando bateu a meia noite a Mãe da Lua, o Urutau, piou sete vezes no beiral do alpendre o seu pio agourento, que o povo diz  trazer mensagem de tragédia, e isso deixou Nanias preocupado e sem sono
Foi uma noite difícil, se revirando de um lado para outro, e depois da meia noite e de tal ocorrido, o silencio se fez estranho,  inté os grilo fizeram menção de ficar calados, o dia demorou a chegar e logo que o sol brotou no pé da serra Nanias levantou e foi cuidar dos afazeres da roça.
            No curral as vacas estavam inquietas, impacientes, e naquele dia deu pouco leite, Nanias estava cismado, um aperto estranho rondava seu coração sertanejo.
Chegou na cozinha com o balde de leite na mão reclamando que num dava pra fazer um queijo e que a vacada num beirou curral, Dona Maria já tava na treita do almoço. “Comer da roça tem que sair cedo”.....A fumaça que saia do fogão de lenha embrenhava cozinha adentro ,e ao mesmo tempo defumava uma banda de tatu verdadeiro que estava dependurada acima do fogão e que seria a panelada do dia.
            Na mesa a vasilha de feijão, logo Dona Maria sentou-se para catar, e olhando para o marido logo sentiu sua aflição.
            _ Que foi home?
            _Nada não muié..... Respondeu Nanias....
E tirou do bolso uma palha de milho e o pacote de fumo, e se colocou a preparar o palheiro, caminhando de um lado para outro, depois do palheiro pronto sentou no batente da porta e acendeu o cigarro.
            Dona Maria logo retrucou de dentro da cozinha:
_Oia home o leite coalhou, que diacho é isso..?
Dona Maria não queria falar, mas passara a noite em sonho de aflição, e isso não era bom, era noticia ruim que vinha por ai.
Nanias se assustou e foi conferir, realmente o leite tinha coalhado, tirou o chapéu, coçou a cabeça e ficou matutando...Deve de ser obra do saci, tem um monte de bambu trincado no bambuzal essa semana deve de ter nascido uns dois, e assim logo eles danam a aprontar.
Dona Maria logo caiu na resmungancia, não acreditava nessa crendice besta.
_Home larga de bestagem, esse trem de saci num existe, isso é crendice besta de gente a toa, vou é fazer uma prece pra minha santinha, acho que vem tempestade por ai.... E continuou a catar o feijão.
Em cima da velha penteadeira do quarto, uma imagem de Santa Luzia, antiga, já desgastada na pintura, presente de sua finada avó, envolvida com um terço e algumas flores já murchas em um vaso velho de louça branca.

João, irmão mais novo de Nanias vivia em uma fazenda a umas duas léguas dali, e naquela noite tinha ido pra espera em um grande pequizeiro que os campeiros estavam fazendo passagem, naquela noite a lua saia justamente a meia noite, hora de descer do trepeiro. campeiro naquela noite não andou e bicho nenhum fez buia, estava um silencio danado.  E a meia noite em ponto o pequizeiro balançou todo, um calafrio atravessou feito tiro de pólvora a espinha de João. E uma inquietude tomou conta dele, nem rede ele tirou, pegou apenas o bornal e a velha 28, trançou a bandoleira no ombro e desceu assustado, pegando o rumo do barraco.
Chegando na casa, viu o gado estourar, a bezerrada tinha saído do curral, e um cheiro estranho tomava conta da cozinha, entrou guardou os trem e foi deitar, não pregou o olho, e tudo ali em volta parecia distante, inté que o dia clareou......... João não sabia dizer o que sentia, mas um sentimento de perda rondava seu peito e sua cabeça.
Logo com o nascer do sol ele levantou, procurou o cavalo para selar e ir atrás do gado, andou inté as 9:00 e nada de achar a montaria, alguma coisa estranha estava acontecendo e João sabia disso.
Voltou pra casa com o sol já alto, tomou um café, preparou um palheiro e sentou no velho banco de madeira a sombra do jatobazeiro que refrescava a casa, lá no galho mais alto um Bem-te-vi gritava sem parar, como quem anunciando algo ruim, o povo antigo dizia que o cantar dele trazia noticia de morte.
João ficou pensativo, olhando para o céu em busca de respostas.
Há umas quatro léguas dali,, o terceiro irmão, Joaquim morava a beira de uma bonita mata de arvores altas e verdes, em frente uma grande  lagoa de agua boa e muito peixe, ,naquela noite ele estava disposto a pescar e ajeitou toda a traia, as iscas e tudo que era preciso para uma boa pescada, e antes do sol se esconder já estava na canoa com a isca na água, passou a boca da noite pescando e nada de beliscar, a lagoa parecia morta e isso se foi até as 10:00 da noite, naquela noite nem sapo coaxou, tava estranho e logo Joaquim sentiu que tinha algo estranho, e danou a reclamar.
_Uai, cadê os peixes dessa lagoa, to intendendo não...
Com a mistura fraca precisando de carne, desistiu da pescaria e embrenhou numa nova empreita, entrou na canoa e com a lanterna em punho saiu em busca de uma capivara, remando devagar e aprumando o foco em busca de olho de bicho, rondou toda parte direita da lagoa e quando bateu a meia noite, um baita peixe pulou fazendo um grande estrondo na água, foi nessa hora que um vento forte soprou balançando a mata e criando marola na lagoa, a velha vinte disparou jogando chumbo pra todo lado, foi um susto medonho, seu coração sentiu medo, uma sensação que aquele homem rustico não costumava sentir.
Logo o tempo quietou, e ele ainda cismado, pegou a vinte, abriu, conferiu e sem entender o que tinha acontecido,  trocou o cartucho balançando a cabeça em tom de desaprovação,  continuou a lumiar, deu a volta completa na lagoa e não achou nada, rastro e pisseiro das bruta é que não faltava na beira lamacenta dos guapo, nem jacaré, nem um olhinho, foi quando ele pensou.
É melhor voltar pra casa, trem quando desatina assim é obra de coisa do outro mundo, nem é bom teimar, então João amarrou a canoa, catou a traia e seguiu o trieiro que dava a beira da porta da sua humilde casa, a lamparina tava acessa e sua mulher  Otacilia, fazia uma prece com ramos de jurema em frente a imagem de São Sebastião ao qual era devota...
Que vento esquisito foi esse home...Quando deu meia noite, ouvi bater na porta, quando perguntei quem era não respondeu, bateu palma novamente, e ai senti o cheiro do cachimbo de seu pai, e logo ouvi a voz dele...
Sou eu João Antônio, seu sogro....
Me assustei home, o que seu pai tava fazendo aqui uma hora daquelas, e eu não escutei roncado de carro, nem tropeço de criação, e quando abri a porta num tinha ninguém, então fui fazer uma prece, algo ruim aconteceu..
E passaram a noite em vigília orando e pedindo respostas, logo o sol surgiu por detrás da mata e um bando de periquitos danou em gritaria,
E  assim os três irmão estavam sentindo algo que avisando , coisa boa não tinha acontecido, foi quando a meio dia chegou a noticia, e aos três no mesmo tempo.
Seu pai João Antônio tinha ido esperar, e aos seus 80 anos caiu da espera a meia noite, e lá faleceu, seu neto o encontrou as 6:00 da manha, ao seu lado uma grande paca com um bem aplicado tiro de 28 na nuca, como ele sabia que o velho patriarca tinha morrido a meia noite.
Seu relógio parou com a queda e os ponteiros marcavam a hora grande da noite, 12:00, meia noite, o choro foi grande e maior ainda o desespero, Seu João Antônio foi velado no mesmo dia com a presença de seus três filhos e seus onze netos, foi enterrado ali mesmo em suas terras, em uma cova a sombra da grande gameleira, um cruz de madeira rustica enfeitada com flores do campo foi fincada sobre a sepultura.
Ali todos choraram e lamentaram a ausência do pai, avô e líder da família, mas tinha na cabeça a certeza de que ele morrera feliz, e que toda natureza parou na hora de sua partida, porque todos sentiram, os filhos, as noras, o vento, os peixes, a mata, as águas, os insetos e os bichos.
Com toda certeza era premonição, pois antes de sair ele disse ao neto.Zé Carlos......Que fez questão de dizer a todos os presentes as ultimas palavras do avô.
_Filho, vou esperar, me encontrar com Deus, e na espera que falo com ele, que sinto a presença dele, que sei que ele ta vivo, que fala e anda em tudo que é planta e vivente, e quero que quando chegar a minha hora,  ele me leve esperando, porque nesses meus 80 anos de vida nunca encontrei coisa melhor de fazer, do que esperar. Tem hora pra voltar não....
E colocando o bornal de lado e a 28 nas costas seguiu rumo a beira do córrego, assobiando e cantando com toda felicidade que um homem pode carregar no coração.

Bello 27/12/13











PROCRIAÇÃO – COM A PALAVRA O SENHOR DA MATA

( OS BICHO DO MATO SEGUNDO Zé Preto.)



Sentado a sombra da velha gameleira, estávamos a prosear, tínhamos acabado de levantar, e no fogão a agua fervia para passar o café, os pássaros faziam algazarra por todo lado, de longe a pomba verdadeira cantava na copa do pé de jenipapo, o cheiro do café já vinha na ponta do nariz, Tião ajeitava um ovo frito com torradas, foi quando cruzou o céu um casal de araras aos gritos.

Zé Preto tirou o chapéu, levantou e cessou a conversa, com a mão sobre as vistas parecia querer prolongar aquele momento, foi quando começou a falar......................
ARARA CANINDÉ, tem bucho amarelo, e costa azul o bico torto e forte por demais, voa alto barulhando sem parar, gosta de ir longe, e não pode ver fruta e coquinho , quando chega as beira de Dezembro ela prepara o ninho no oco das palmeiras, sempre procura lugar alto, e nasce na maioria das vezes, dois fiote, sem muito prazo já começa a beirar a boca do buraco, barulhando também,  com uns 25 dias já inicia o bater de asa, as vezes coloca no mês de março também.
Eita bicho bonito de se ver cortando o azul do céu, sempre aos pares, bicho de um único acasalamento, casamento que vai por toda vida, se um morrer outro fica sozinho inté a hora dele chegar, nunca mais aninha.
Todo bicho é vida e beleza na mata, nem tudo se devem bulir, cada coisa tem seu tempo e sua serventia, é o movimento, a voz, o sentido da mão do criador, tem que ter respeito, tem que ter olho e ouvido, pra depois colocar no coração, o espíritos da mata estão ali, de olho, cuidando do que é seu, se você tiver respeito a mata te respeita, caso contrario, a mata te rejeita, bicho do mato é trem sagrado que Deus colocou pra mó de melhorar a mistura, mas nem tudo é pra isso, muitos são para embelezar a vida, acalmar os dias difíceis, e acalentar a alma da gente.
Vou falar dos vivente que povoa as matas, as campinas, o cerradão, um pouquinho de cada bicho, coisa que durante anos, esses oios de veio preto guardou na cachola,  coisa que se você prestar atenção vai aprender o que muito estudioso num aprendeu nos livro e nas escola....
JACU tem muitos tipo, mas aqui só tem o verdadeiro e a cigana, a cigana tem unha na asa, e o verdadeiro é grande e castanho escuro, saltita de galho em galho fazendo festa, sempre aninha em meados de setembro mais vai por no mês de outubro pra novembro, as vezes vai de dois a quatro ovos.
Anda de bando, fora do tempo de cruza, seu cantar, um coc coc estalado ecoa na mata no amanhecer e no fim do dia, tem jeito engraçado, e quando anda balança a cauda e a cabeça ao mesmo tempo, adora uma mirindiba, mas come de tudo um pouco, já vi de bando grande pra mais de 30, tudo junto, seu voo tem barulho bom e a gente conhece de longe quando ele ta chegando.
MUTUM, é o peru do mato, tem mais de um tipo, bicho bonito de piado fino, sempre de casal, quando tem mais de dois é os fiotes que ainda acompanha os pais,  igual Canindé, é casal pra vida toda, trem assim tem que respeitar, se um morre outro nunca mais aninha, bicho sistemático, põe pouco, sempre de um ou dois, mas já vi por de tres e vingar todos.
Quando fica curioso dana a piar, e dana num abre e fecha da cauda sem parar, ouriça o penacho da cabeça e balança de um lado para o outro desconfiado, se amansar fica feito criação, comendo no terreiro, o macho preto com seu bico amarelo que chama atenção, a fêmea já e diferente, é marrom com a barriga carijó, eita trem que eu acho bonito.
JAÓ é a menininha dos meus olhos, redondinha de tom quase azulado, seu canto parece choro, faz a gente pensar na tristeza, na época de namoro canta a madrugada inteira, inda mais quando a lua ta grande, ave de coração puro, mansa,  faz a gente gostar dela logo no primeiro encontro.
Em setembro começa o namoro e o canto se estende pra todo lado, os machos pra chamar a atenção e conquistar a amada, dançam para as fêmeas, levantando a asas e correndo de um lado para o outro, aminha no chão entre o cipoal ou raízes,  bota inté quatro ovos, branco meio esverdeado. Andam pela mata vistosa em passos largo, as vezes só, as vezes em grupos de quatro ou mais, estão sempre atenta, hora olha para um lado hora pra outro, procurando motivo, se agoniada pega voo num pof, pof bonito de se ouvir.
PACA é o xodó da mata, a princesa, prenda cobiçada, mas a bicha é veiaca, tem ouvido e faro apurado, é andadeira de noite escura, pontou a lua ela se esconde,  na maioria do tempo anda sozinha, sempre beirando os córregos e os rios, gosta de nadar eé boa no trem,  e pra fugir dos predadores corre pra agua, tem um folego danado e inté consegue ficar mais de 15 minutos mergulhada sem respirar.
Bicha de campo pequeno,  tendo comida perto trilha pouco, mas se faltar comer, vai longe, a bicha gosta de mudar, não se prende muito a uma área certa não, pode se dizer que paca não tem morada derradeira, por qualquer motivo muda o rumo, inté mesmo dependendo das estações do ano, do comer, da perseguição da gata, ou sem motivo nenhum mesmo, é bicha mudadeira.
A gente pensa que não vai longe,  mas ela tria mais de 500 metros por noite, se tiver precisão vai mais de légua, inda mais se for noite escura, que é quando a bicha enxerga melhor, seus olhos são feitos para escuridão por isso a maioria se ofende com luz e pula longe. Tem coisa melhor no mundo que espera de paca, a bicha tem pisado manso e cadenciado, e é treiteira,  só tria no sujo, mas tem compromisso, se tiver vindo num faia fácil não, e é a coisa mais linda em matéria de educação, come sempre com jeito, sem fazer bagunça, se começa por um lado sempre mantem o mesmo caminho.
Lá pra beira da mata onde tem aquele monte de babaçu, é morada delas, moram nas tocas achadas ou cavadas com suas unhas fortes e afiadas, é tão  veiaca que é, sempre faz suspiro, suspiro são outras saídas escondidas no meio das folhas,  muitas vezes mais de dois, suspiro é lugar de fuga se tiver alguma  intriga, ela espira feito diabo que foge da cruz e descamba mato afora.
Paca é bicho que vive quieto, ajeita toca geralmente em canto difícil de se chegar, faz suas necessidades na água, então quase não deixa motivo, a mão ser os amontoados de caroço que faz, e seus delicados trieiros, só fica barulhenta na época do vicio, entrando no cio a brigaiada é feia. É bicho bruto e intolerante, só se ajunta na época de namoro, então fica batendo pé e rosnando atrás das fêmeas. Também é uma espinheira que tem no pinto do pacuçu que num deve de ser fácil a cruza...kkkkkkkkkkkkkkkkkk...
Os povo fala que beira 15 quilos mas eu nunca vi com mais de 12, sempre o povo aumenta o peso da prenda, e no mais, quem num gosta de contar vantagem.
 A leitoinha pintada pode prenhar inté duas vezes no ano, sem data certa,  vai depender se tiver muita ou pouca comida, bicho procria bem só na fartura, a barrigada dura uns 5 meses, e pode nascer  inté de dois fiote, tem causo de gente contar que de vez a outra pode nascer de três, eu nunca vi, mas num duvido, o normal mesmo é nascer de um, o fiote  já nasce com dente, e na cor de paca mermo, com uma semana já come sozinho, tempo de mama é curto e logo se aparta  do peito, mas ainda fica com a mãe por um bom tempo..
Paca é bicho sistemático, inté com os próprio fiotes, então é bem comum andar machucada de dente, mas tem sangue bom, ferida cura rápido, e por causa das encrencas ela logo sai em busca do seu canto,  os macho mais velhos logo são expulsos pelos mais novos, é por isso que de vez em quando vem bater no trepeiro um machão veio solitário, gordo de queixo largo, esse muitas vezes sem território certo vive vagando feito Quati mundéu.
Seu rastro confunde desconhecedor, porque tem quatro dedos nas patas dianteiras e cinco nas traseiras, mas é fiel ao sua vareda, seu trieiro, saindo dele só por motivo de fruteira nova, sempre triando a mata nas noites sem lua, a fêmea tem cabeça cumprida e fina, o macho queixada larga e cabeça redonda, aqui nos fundo da casa tinha uma que ficou veia nos caroço de manga pra mais de 15 anos, já fazia parte é da família, acho que morreu de veia.
CUTIA é trem tentado, a bicha alegra a mata no seu vai e vem no inicio e no fim do dia, mas a bicha é treiteira, anda na madrugada também, tem sete tipos diferentes de cutia e vai mudando o tipo muda a cor também e o tamanho, mas tudo é cor fugida, muda de acordo com a luz, tem quatro dedos no pé e três na mão, cava feito tatu, faz  toca em meio a macega da mata ou na beira d’água. Veiaca faz um monte de respiro entre os tuneis, em caso de fuga tem por onde fugir parece que aprendeu com paca..
Trem bonito de se ver sentada comendo leva a semente na boca com as pata da frente parecendo gente, e roda pra cá, roda pra lá, sempre mordiscando com velocidade..Tic..Tic..Tic....
Pense numa bicha boa pra nadar, cutia é bicho que ajuda a mata, ela sai enterrando tudo que é coisa para na época da vaca magra procurar, e nessa muita semente germina, o que tem de arvore erada na mata que foi plantio de cutia não se faz conta.
Parideira que é danada, pare inté três fiotes e  duas vezes no ano, e num tem época certa também não, é o ano todo, a barrigada vai de 3 meses e meio, pra mais ou pra menos, os fiotes mamam inté 4  meses, e num demora muito o aconchego o normal é apartar com prazo de seis meses..
Apartou e o trem logo já entra no vicio de novo, o macho pra chamar a atenção da namorada, fica batendo as patas traseira, do mesmo jeito que ele faz quando tá cismado, ou quando escuta algum barulho diferente na mata.
Quando ta cismada ela grita e some na carreira sem olhar pra trás, anda sempre sozinha, as vezes se acompanha dos fiote já criado, ou então no  namoro, fora isso num gosta muito de companhia não..
CATETO anda com a lua, é bandoleiro, trilha pouco, mas num tem rota certa, isso faz muito mateiro achar que ele vai longe, mas num vai não fica e vadiando na mata,  de porco do mato tem dois tipo, o Cateto e o queixada, são primos aparentado, mais de atitude e tipo bem diferente.
Cateto tem peso de mais ou menos trinta quilos, pode ir mais um tico mas é difícil passar de quarenta, bem menor que queixada e no pescoço tem um colar branco, em uns ele se aparenta mais, em outros quase num se vê, tem gente que diz que é cruza com queixada, mas para mim eles num se mistura não.
Os bandos são menores, às vezes trilha  de dois mas pode inté chegar a mais de cinquenta, as vezes trilha só mesmo, principalmente o macho, mas olhando macho e fêmea é tudo igual, num tem época certa de cria não, dão fiote o ano todo inté duas barrigada, as vez nasce de um, de dois, mas nasce de três e quatro tumbem,  mas de normal é de dois, logo que pari a porca já entra no vicio novamente, e o trem, a cruza é pra mais de vinte dias , é bicho que rende rápido, porque já nasce treiteiro, com pouco já ta correndo, pois tem que acompanhar o bando, senão fica pra trás, pega apoio por pouco tempo, desmama e aparta cedo, lá pros três meses já vai cuidar da vida senão vira comida de onça
O trem tem chefe, mas nasce fiote de tudo que é macho do bando, na maloca acaba ficando sempre mais fêmea do que macho, logo mocinha com oito meses em diante já ta pegando barriga, que vinga com cinco meses mais ou menos, demora mais que porca de casa, cateto é porco do mato que num é porco, tem formação diferente no bucho
Bicho desatinado come tudo que encontra e bem diferente do que falam,  não viaja longe fazendo mudança como os queixadas, os catetos ficam sempre beirando a mata em que nasceram, são fieis a sua pátria, mas se forem perseguido desatinam mundo afora e só volta depois de muito tempo.
QUEIXADA é bicho bruto, anda de bando grande já vi vara de porcada com mais de cento e setenta, mas trilha de pouco também, de longe a gente escuta a zoada, o bater do dente, é bicho perigoso, se cercar gente pode inté matar.
Diferente o cateto, tem queixada branca e estrala o dente, motivo do seu nome, os macho é grande em vista da fêmea, pari o ano inteiro também, mas em janeiro tem mais fiotada, novembro também, sempre o numero de fêmea no bando é maior que o de macho, igual cateto.
É bem maior que o primo cateto, bate os cinquenta quilos pra mais, é turma bagunçada os macho formam par com duas ou três fêmeas, mas acaba que dando bobeira outros cruza com elas também, a barrigada é pra média de cinco meses e nasce sempre de dois, mas se for porca de tutano, pode nascer de mais.
É bicho andador, viaja longe, e não se prende a nada, de tudo come, inté carniça, os bicho tem tanto motivo que dependendo do bando muda inté rumo de nascente, as vezes eles somem em viajem longa, vez que não, aparece empretecendo a mata, barulhando com seu ronco, de pelo arrepiado batendo dente..
Onça num larga eles, sempre ta na resenhando na batida, as vara de queixada faz vareda funda, e num teme presença de gente, quando bate na roça o estrago ta feito, e não tem remédio, destrói tudo que vê na frente, anda o dia cedo e de tardinha, nas horas quentes vai pros lameiros, anda na boca da noite e na madrugada, é bicho treiteiro sem hora certa.
Em fruteira você logo sabe que eles tão passando, porque revira a terra pra todo lado e repisando tudo, bicho de carne boa,  diferente do cateto, tem gordura entranhada na carne, que é bem mais gostosa.
 Esperar no carreiro tem que ter ciência, tem que pegar o ultimo, pra evitar desavença, e só descer quando a vara de porco sumir no mundo, queixada é trem que tem trato com visagem, é  montaria de caipora, num é bicho de confiança não.
ANTA é trem sem respeito, é o maior animal das matas, pode beirar mais de 330 quilos, bicha misturada, pé parece de capivara, corpo de jumento, pescoço de cavalo, orelha de veado e focinho de elefante, muita gente fala que o Pai do mato ajeitou ela com resto de outros bichos, gosta da mata fechada, lugar fresco de aguada, onde fica durante o dia banhando, mas perambula por tudo que é canto, sobe serra onde outros bicho evita.
Corpo de anta é lavoura de carrapato, onde anda vai infestando tudo, bicho grande precisa de muito trato, por isso come de tudo um pouco  folhas, frutos, brotos, ramos, planta d’água, inté pasta feito boi, mansa pelo tamanho, tem faro bom mas pouca visão.
Não perdoa uma roça, anda no sol frio, no amanhecer e entardecer, mas prefere perambular a noite, sempre sozinha, só se ajunta no vicio ( no cio ), é de tempo longo, nasce sempre um único fiote, todo malhadinho, parecendo uma melancia, a barrigada dura um ano, o fiote demora pra apartar da mãe, mama inte ficar adulto um ano e meio pra mais, ai toma vergonha e se aparta indo cuidar da própria vida.
O macho veio urina no mesmo canto marcando território, e na fuga derruba tudo que tem na frente, anda no silencio quando quer, que impressiona um bicho grande desses pisar manso, faz um monte de barulho diferente, ela grita, assobia, tose, chama a fêmea assobiando.
A bicha deixa trieiro largo e é fiel a ele, costuma cortar os chapadões e grotas que de longe a gente vê morro a cima o caminho dela, o trieiro de anta.
CAPIVARA é trem atoa,  vive em bando, que varia de tamanho, que vai de dois inté um mote bom, mas isso vai do tempo, nas aguas elas apartam, mais na seca se ajunta novamente, tem o machão que é chefe, os demais e as fêmeas, o macho marca o território com o caroço que tem acima do nariz,  de 80 a 100 hectare, e num aceita intruso. Que logo sai briga.
Quando late grosso é perigo, quando assobia está chamando, quando ronca ta aceitando a ordem do líder, no vicio o macho fica atrás da fêmea pra todo lado inte cobrir, mas só cobre dentro d’água, e é nas aguas que nascem os fiotes que variam de quatro a oito, a fêmea tem dez peitos tem gente que diz que pare dez, mas eu nunca ví, o povo fala demais.
Sei que a barrigada dura quatro meses , e os bicho já nasce com dente e comendo mato, o apego de peito é curto, desmama com três meses e oia que o trem rende com um ano e meio de vida já ta parindo.
            Onça gosta mesmo é de porco cateto ou queixada, mas  pega ela também, mas a sucuri é seu pior inimigo, Teve uma que nois criou aqui que viveu mais de 11 anos, capivara tem vida comprida, a banha é o ranço dela, mas é remédio, bom demais pra reumatismo e asma,
VEADO é bode do mato, bicho atinado que tem seus segredos, vamos prosear sobre eles, aqui também tem muitos tipo, tem do Cervo, o butelão, que o povo chama de Sussuapara, tem do Mateiro grande da Canela Roxa, do Mateiro pequeno de canela sem cor, , tem do Catingueiro menorzinho e  do miudim, o Veado Anão, tem do Campeiro, o chamado Galheiro mas por outros rumos tem outros tipos.
O cervão Sussuapara gosta dos brejos, anda sempre com os toco dentro d’água, ta pouco, mas a gente ainda vê eles nas várzeas da lagoa, o bicho é grande, vai pra mais de 100 quilos, tem galhada pra mais de oito pontas, chega a ser branquinha de base grosa, gosta de comer broto, e num permite chegada de gente, mas o povo num gosta de mexer com ele não, a carne forte faz o caboclo soar o cheiro dele, e no mais o trem ta mirado, tem que deixar se criar.
O Mateiro grande tem canela roxa, anda na mata fechada, tem chifre reto uma ponta só, pra mó de nào arranjar enrosco, é comedor de fruta, trem cismado, ganha mundo por qualquer motivo, anda na mata devagar, com orelha em abano procurando oque num quardou, chega e sai feito visagem, é bicho treiteiro, mas tem trieiro certo, cumpre direitinho a caminhada, mas gosta das madrugadas, momento que o mundo para e inté o vento fica manso.
O Mateiro pequeno, anda na mata fechada tumbém, tem chifre de uma só ponta no rumo do lombo, mas tem canela lisa, menorzinho, é mais ativo, mas é veiaco que só vendo, comedor de fruta, flor, mas pasta tumbém, é mais farturoso, tem muito nessas brenha de mata fechada da beira do rio.
O Catingueiro já é mais abusado, num tem muita vergonha não, perambula por entre os abertos e os fechados, vorta e meia anda no campo aberto feito Campeiro e num tem horário, mas gosta do raiar do dia e do entardecer, comedor de fruta, gosta de milho, flor e capim novo.
Tem tumbem o mais muidim, o Veado Anão, trem difícil de se ver, tem demais, mas o bicho é treiteiro, dizem que sobe inté em cipoal pra mó de driblar os cachorro,  bicho de focinho curto e chifre deitado, tem cheiro forte, e pé fino, anda furando foia, é cismado por mais da conta, comedor de fruta e flor, esse é o verdadeiro fuboca....kkkkk.
De veados nesses rincões  tem 8 tipos, mas o que prevalece aqui é o Galheiro, o Campeiro, eita bicho que tem nome, uns chamam Rabo Branco, outros Suaçutinga, veado do campo, solitário, o bicho gosta dos aberto, das grandes vargens e dos campos, geralmente anda sozinho mas faz maloca na época do vicio, as vezes ve gente e logo corre, as vezes deita e estica o pescoço ficando quieto, só corre se chegar perto demais e bicho manso mas esperto, quando a gente topa com ele, hora sai feito louco hora fica olhando feito menino besta.
De dezembro a janeiro o macho aumenta o cheiro, mas quando chega de julho até setembro o bicho fede forte, chegou a época do acasalamento e da cruza que vai de janeiro a julho.
O vicio inicia beirando meados de janeiro, quando os fiote estão pra largar o peito, geralmente o trem apruma para uns 25 dias, é época dos macho cair na briga, pra mó de acasalar.
Campeira.de cada 10 umas 6 pega bucho, no inicio é andadeira, mas depois do quarto mês ela queta mais, e vai diminuindo a andança inté pari, os fiolte nascem o ano todo mas é entre agosto inté inicio de novembro que é mais comum., a barrigada de fiote dura por volta de sete meses, o bodinho nasce Pintadim,  feito beira de barriga de paca, mas o trem perde a pinta na primeira muda de pelo.
Por isso no auge da seca quando o pequizeiro pinta de branco o chão e o cerrado brota o capim da queimada, é época de recria, num pode bulir com fêmea, se matar uma, mata dois, época certa é dispois da desmama.
É nesse tempo que o macho cai o chifre, logo dispois do namoro,  quando ta sem chifre fica isolado e se encontra um rival,  briga iqual femea com as patas dianteiras, feito cavalo empinador, mas as galhas logo ponta na cabeça  e volta a crescer, pois logo precisa estar limpo para o próximo ano, perto de julho o chifre ainda esta coberto de couro o tal do velame, mas só troc a de galha o bicho novo, pra mó do chifre ficar justo no tamanho, ou quando quebra na briga ou quando ta veio, tem uns que demoram a trocar, na fase de dono de terreiro fica inté mais de três anos sem troca.
            A mãe esperta demais esconde  o cabritim , enquanto sai para campear e volta na hora de amamentar, desmama ele  com 3 meses a quatro, mas bem antes disso já começa o vicio de novo, é nessas hora que a onça treiteira acha o esconderijo e pega o fiote, fora outros inimigos que podem dar cabo dele.
É bicho bonito de se ver no campo, de se ver correndo com seu grandes saltos, anda sempre atento, buscando cheiro e barulho diferente, usa os outros bicho de vigia, quando ta perto dos Quero-quero ou das Curicacas, eles ficam mais calmos e baixam a vigília, mas se alguém der sinal de alarme, a corrida é bruta.
A cor do pelo muda de acordo com a estação do ano, na seca fica mais clara, mas isso depende muito de cada um, mas a mãe natureza sabe que tem que mudar a cor do bicho pra ajudar ele a se esconder dos que o perseguem.
Então fio, antes de sair pra lida, veja se num tá na recria, quem preserva tem pra toda vida e ainda sobra pros que ainda nem chegaram, inda mais porque no céu vive o Pai Maior, que tudo sabe e tudo vê, ele colocou os bicho no mundo pra gente acalentar a mistura, mas homem que é homem tem que ter princípio, ter justiça, ter brio....Homem que é homem respeita o tempo da natureza repovoar seu mundo.

Bello  08/01/14
 

3 comentários:

  1. verdade... na espera (pra tirar fotos) a gente lembra de Deus toda hora, de tudo que ele criou, árvore, folhas, mato, o bichos... sempre tem uma novidade da sua criação e nada é mais satisfatório do que está ali. Feliz do João que eternizou sua vida no mato.

    Parabéns pelo conto amigo, esse é mais um que enche os zóio dagua.

    ResponderEliminar
  2. Uma geração inteira de amantes da natureza, o pai e os três filhos, gostei muito dessa história....

    ResponderEliminar
  3. Que histórias lindas amigo.
    Sou maranhense e moto no Pará atualmente.
    Tenho 22 anos e sou apaixonado pelas matas, pelos seus segredos...
    Todos os dias leio seu blog e me vejo nesses causos tão bem vividos.
    Parabéns, e continue nos alegrando.

    ResponderEliminar