FIM DAS ÁGUAS
As
águas se aquietaram nas planícies do Goiás e a friagem chegou, a grota agora
cobra seu preço, se não for de preparo certo volta antes da hora, o milho
safrinha ainda vai dar de comer a muito vivente, os bandos de maritaca revoam
esperando a hora da fartura, o horizonte se pinta de tons púrpuros com o pôr e
nascer do sol, o cerrado ainda verde com seu capim alto amoita o campeiro que
acaba de perder as pintas, alguns machinhos brotam o chifre aveludado em rumo
de crescimento, e na agitada movimentação dos bichos os trieiros começam a
ficar mais visíveis.
De
longe o amassado do carreiro da anta já marca a campina, os rastros outrora
firmados na estrada molhada agora se firmam no pó fino e seco, a barriguda
linda floreia em tons de rosa e branco, o murici já acabou, outras flores
chegam devagar, e a ventania balança a mata desafiando o ouvido e a paciência
do mateiro que anda veiaco, pisando em toada mansa assim como muitos viventes
da mata que perambulam aproveitando da ausência das folhas secas que estalam
denunciando o caminhar.
A
gata não mexe mais na criação, agora a vida dela começa a ficar menos
trabalhosa, volta a lida pesada no carreiro da porcada, que desce da serra e
cortam as grotas buscando alimento, porco é bicho perseguido que não tem trato
nem hora com ninguém, bandoleiro chega e some por bom tempo, mas no andar da
bicharada tudo para e se cala quando o esturro do macho preocupado com seu
território ecoa na mata durante a madrugada, inté o grilo não se atreve a
cantar.
A
poeira ainda não pintou as arvores que beiram as estradas e as marcas das
enxurrada deixaram vincos nas estradas mais ermas, a mata verde se destaca
ainda úmida e revitalizada pelo trabaio de São Pedro, porem tudo agora tende a
mudança, estamos beirando junho o meio do ano, em três meses de estiagem o
Centro Oeste vai mudar de cor, vai a tons de cinza ao marrom palha.
É
o fim das aguas no Goiás, as Emas correm em bandos, o pica pau do campo faz
festa, a perdiz perambula por entre o capinzal, enquanto isso a gralha do campo
acompanha meu caminhar me marcando e gritando, é aviso de que tem movimento,
tem vivente ou coisa diferente por ali, logo as seriemas se acasalam e vão ao
auge da falta de capricho ao fazer o ninho mais mal feito da mata para colocar
seus ovos.
Na
toada do Jeep a poeira do estradão se apruma deixando a saudade, na frente
acompanhando a estrada a esperança de mais um ano de aventuras e vitórias, com
a certeza de que tudo de novo vem no horizonte pintado com as cores do frio no
nascer do sol nesse meu maravilhoso Goiás....
Bello
21-05-2015
O
ONÇEIRO
Zé Gato era o nome que todo mundo chamava o velho José Firmino,
muita gente nem se assuntava o porquê da alcunha ¨Gato¨, apelido que veio dos
tempos da sua juventude onde exercia a profissão de Gateiro, profissão hoje
pouco conhecida e por muitos até inimaginável, Zé Gato caboclo natural de
Manaus, amazonense de alma e coração, homem franzino de estatura mediana,
bigode largo e sotaque misturado, nada mais agradável que ouvir ele narrar sua
trajetória por esse mundo de meu Deus, ouvir seus causos e contos, era uma
verdadeira aula sobre a história da caça no Brasil.
E ele contava mais ou menos assim.....
Naqueles tempo meu filho, o trem de labuta era a borracha,
trem pesado e sofrido, mas era o que dava renda, lembro que quando a gente
chegava na mata cortando rumo em busca de novos pontos, a primeira tarefa era ajeitar o Tapiri, uma
cabana pra servir de morada pelo prazo de serviço do seringal, as grandes
picadas cortavam para todo rumo onde tinha seringueiras, e todo santo dia por
volta das cinco da manhã eu já estava na lida sangrando as arvores e apregoando
as tigelas, o leite que virava borracha na indústria pelo mundo afora, se
misturava com o sangue e o suor do povo da floresta, era pra média de 14 horas
diárias de trabalho no lombo de um menino de pouca caixa, roupas surrada e pé
no chão.
As coisas iam bem, ai de
repente o trem começou a pretear, era as beira do ano de 1912 como contava meu
velho pai, veio uma corrente de dificuldade na lida da seringa, e o trem foi
apertando cada vez mais, lá pra chegada de 1919 não enxergando outra saída meu
veio pai ajeitou a traia e mudou de profissão, tangeu pro rumo das pele de
bicho que começava a ter valor melhor que a borracha, foi quando ele encontrou
minha mãe e os dois juntos nessa labuta se embrenharam nas matas vivendo da
atividade de coureiro, eu nasci em 1920, dentro da mata amazônica, cercado de
bicho, por mão de parteira, dizia minha mãe que nessa noite onça esturrou pra
todo rumo, como que anunciando minha chegada.
Cresci descalço,
banhando nos igarapé, fugindo de sucuri, trepando em arvores, e desvendando os
segredos da mata, foi na carne da caça, no leite da castanha, e na boa vontade
das fruteiras que eu minha mãe me alimentou, eu acompanhava meu pai pra todo rumo que ele
tomasse, lembro que quando fiz 15 anos no ano de 1935, foi quando minha mãe
morreu de malária, foi um ano difícil, mas eu já tinha tino de homem, regalava
postura e já estava na labuta a algum tempo, era eu cuidava do trato e da
remessa do couro, cuidava do comer e tudo mais, e ainda no intervalo da labuta lidava
com a caça das lontras e ariranhas.
Lembro que a gente tratava tudo e mandava pro porto, e de lá
as peles iam para as casas aviadoras e exportadoras de Manaus, lá um povo
prendado qualificava cada peça, o que tinha de melhor era mandado para os
Estados Unidos e para a tal das Europa, o que não tinha muita qualidade,
ficavam por aqui mesmo, iam para o sul.
Mas quem ganhava dinheiro mesmo eram os atravessadores, esse
povo que explora o pobre sem ter um tico de tino de dó nem piedade, e a luta
era difícil, era o de comer, da pólvora e do pito.
Lembro por demais que nos anos 50, danou a aparecer fotos de
gente famosa vestindo casaco, sobre tudo e uns chapéu engraçado de couro de
gato, era o que existia nos exterior de vestimentas luxuosa, trem fino com preço de ouro, todo mundo queria
couro de gato, foi ai que o Gateiro começou a aparecer, foi surgindo notícia de
cabra tinhoso o suficiente para desvendar os mistérios da caça da onça, do
maracajá e de outros pintados, mas não era lida pra qualquer um não, tinha que
ser astuto, veiaco, tinha que ser Gateiro.
Foi assim que devagar nascia a fama de uma nova profissão, a
pele fina passou a ser motivo de cobre alto, o povo chamava de pele de luxo, de
fantasias, mas tinha que ser pintado, então as pele mais cobiçada era a do
maracajá-açu, que o povo também chama de Jaguatirica, do maracajá-peludo , da
onça-pintada , as que não era pintada mais que tinha muito apreço era o da
ariranha e da lontra, os gato d’água, já a Onça Parda tinha pouco valor, mais
ajudava a encher a bolsa.
Intão a demanda aumentou por demais, porque um casaco de luxo
de maracajá-açu comia aproximadamente oito peles, o do maracajá-peludo, entre
dose e quatorze, e de onça-pintada, cerca de três ou quatro peles, isso
fortaleceu o ofício de GATEIRO, agora a moda era as pele de
luxo, uma pele de onça de primeira qualidade, garantia ao Gateiro uma boa renda
dava pra mais de seis salários mínimos da época, pela primeira vez eu via a cor
do cobre, e fazia plano de ter algo nessa vida.
Ai
um bando de gente se embreou na lida do Gato, mas poucos ficaram, alguns
viraram comida de onça, não era simples assim não, tinha que ser treiteiro,
astuto, afinal gato num é bicho besta, e no mais tem área grande.
Os
anos passaram e devagar eu ia me aprumando, a profissão de Gateiro passou a ser
reconhecida e valorizada, e eu fiquei firme nela, fui me aprimorando na lida
com armadilha, pele boa era pele lisa sem furo, era buscar aprendizado, mas
tudo tem seu tempo, lá nos meio do ano
de 1933 foi a época de ouro do Gateiro, lembro que do ano de 1939 o trem começou a
cair, veio a guerra, e o trem foi mirrando devagar e cada vez mais o mundo
danou a mudar, uma nuvem negra tomou conta de tudo, mas o derradeiro fim veio em meados de 1950, uma nova forma de pensar
começou a invadir as Europa e o povo danou a ter dó da matança de bicho.
Logo
os político da capital sentiram a necessidade de participar disso também, foi
quando saiu uma lei nova que mudava o rumo de
tudo, a tal da Lei de Proteção à Fauna isso em 1967 ou 68, mas mesmo
assim até na década de 1970, ainda tinha alguns sobreviventes na atividade de
Gateiro, mas tudo já chegava ao fim. Usar pele de gato passou a ser cafona,
motivo de vergonha na roda da granfinagem....Findou-se assim a profissão de
Gateiro.
Ai como os trem tanou a tomar outro
rumo, resolvi bater perna por esse mundo veio e vim parar aqui nesses Goiás,
foi dai em diante que de Gateiro, virei
onceiro, agora quando uma fazenda tinha problema de onça pegando criação o povo
me procurava, afinar meu trabaio era caçar onça, desonçei muita fazenda que
tinha criação bulida, ganhava dinheiro por cada onça que eu matava, o couro pouco
valia mais ainda rendia uns cobre a mais, pra enfeitar parede de gente da
capital, naquele tempo era o que eu podia fazer pra mor de pôr mais prazo na
atividade, afinal tinha que apurar o comer de cada dia.
A proza estava muito boa e o velho Zé estava empolgado
no assunto quando Dona Chica chegou com o café coado na garapa e uns pãozinho
de queijo de quebrar o queixo, Zé Gato sentado na sua cadeira de balanço a
sombra da velha varanda de telha de caco, balançava calmamente fazendo ecoar o
rangido do vai e vem no piso de madeira, enquanto apreciava o café. Em cada
volta de sua pele enrugada pelo tempo deveria conter um bom causo, seu olhar
calmo cristalino parecia refletir suas histórias.
Na casa humilde
da fazenda que comprou com sangue de onça, pouco tinha de moveis, a velha casa
já bem maltratada pelo tempo e que agora era somente sustentada pela
aposentadoria rural e um pouco de leite que se vendia, os poucos utensílios
espalhados pela casa exibiam as marcas do tempo, ali se retratava um lar
simples, mas cheio de histórias e vida e era a sombra da velha varanda que ele gostava
de contar suas aventuras, os causos do seu tempo de lida mateira, o que o tempo
lhe ensinou, as armadilhas que a vida pregou, os ensinamentos que aprendeu, e
ali também acalentava seus erros e acertos.
Agora a velha Papo Amarelo que tanto falava alto, era
apenas um enfeite na parede da sala, a numerosa e boa maloca de cachorro latia
no passado, ali sentado na cadeira de balanço o contador de causos dissipava
todo o seu conhecimento de lida na mata, de homem da floresta, se seringueiro,
de gateiro, de onceiro de Zé Gato.
No bornal surrado de pano grosso pendurado por traz do
portal tinha a história de um homem fantástico, cheio de sonhos, de sabedoria,
capaz de entender seu tempo e o resultado de tanto descaso com a natureza.
Na sala a pra prateleira arqueada, a cristaleira
trabalhada a mão, no canto um oratório trazido das bandas de Manaus, pendurada
acima do portal que cruza pra cozinha a velha zagaia, que ganhou quando trilhou
o pantanal do Mato Grosso, ao lado toda coberta de poeira a velha esturradeira lembrança
de todo um passado.
Zé Gato dizia que aprendeu a usar a zagaia com um tal
de Saulo, pantaneiro experiente que foi ajudante de Sasha Siemel nos anos de
1930, dizia que a luta no chão com a Gata grande, a pintada tendo somente uma
zagaia na mão era uma necessidade de homem de sangue grosso, nada superava essa
batalha, enfrentar toda fúria e astucia da onça frente a frente, olho no olho,
era dançar com a morte no limite da destreza do onceiro. Mas isso era uma outra
história.
E a esturradeira Zé, me conta a história dela
companheiro, ele me olhou soltou um sorriso maroto e começou a prosa.
Oia cada trem desse tem história de encher o tacho,
mas vou te contar alguns segredos da esturradeira, num é só ir fazendo uma
assim não, tem magia. Tem segredo.
Esturradeira se for de sopro ai é que leva treita mermo, a
de cabaça tem ronco fino eu não gosto, prefiro a de gomo de bambu gigante, mas
toda ela tem segredo no preparo se não, huhum, o trem num ronca que presta, mesmo
a de bambu fica rouca sem tom certo, por isso tem que ser bambu benzido, arrancado
na lua certa, no mês certo, é na cheia, pra depois da hora grande e no mês de
março, logo dispois do dia da São José, que ta tenro, com água santa no gomo.
Mas tumbém tem o curso certo de mais de duas chaves e meia,
e tem de cortar de serra, num pode bater facão que faz trinca e põe a perder, e
vai serrando e rezando o terço de forma a acabar na urtima reza, ai tem que
enrolar ele num pano branco, virgem e deixar secar na sombra por sete meses.
Nesse tempo ninguém pode pegar ou ver ele, o gomo deve de
ser resguardado do oio de gente ruim, dispois é abrir o buraco do pio, que deve
se ser feito de faca fina e com rodopio para direita, vai rodando inté abrir a
cava, e vai testando, pra mõ de aprumar o ronco
no tom certo.
Ai sim a assopradeira fica fina, e chama longe sem resmungo
das dona da terra, que logo vem bater no ponto pra assuntar quem tá chegando no
seu território, mas tem que esturrar no chão, a bicha é veiaca e qualquer
motivo é motivo de desconfiança.
Agora se for de puxar ai já entra outra forma de coisar, já
é toco de buriti novo, com couro de cutia feema, despelado e esticado, mas tem
que curtir no sal da cinza do carvoeiro, que ai ronca bonito, o puxador tem que
ser de goiabeira bem retinho, e pra dar puxada de repique, tem que ser encerado
com cera de abelha miuda, ai vai a destreza do tocante, pra esturrar certinho,
tanto no ritmo como no tempo de repique.
As vezes no caminho da conversa ele parava a
narrativa, e olhando distante ficava por um bom tempo calado, talvez buscando
fragmentos do passado que ficaram engastalhados nas brenhas dessas matas que
tanto trilhou por esse mundo de meu Deus, talvez revivendo momentos tão mágicos
que resvalaram pelas brechas dos dedos, talvez pensando no tanto que nossas
matas foram devastadas.
Foi quando ele parou e me fitou nos olhos dizendo:
É meu filho, as armadilhas ficaram para traz, não
carece mais de couro sem furo de bala, o tempo mudou, onça virou raridade, já
não é mais época de matar onça, o Grande Pai é sábio filho, e nos dá o tempo
necessário para amolecer o coração da gente, e o tempo traz a idade que nos faz
nascer novos pensamentos.
Era
uma época de fartura filho, que a gente não soube preservar, mas era assim do
jeito que eu lhe contei, era o que tinha pra fazer naquela época, sem receio ou
medo de pecar, hoje com os meus bem vividos 92 anos não tenho mais nada a
fazer, só tenho que esperar a morte chegar, a mesma morte que tanto desafiei
durante minha vida inteira, em um tempo em que o pensamento era ter a onça como
inimigo, e se arriscar no lombo do perigo, sem saber do perigo que corremos naquele tempo
de extinguir um animal tão belo e fantástico das matas brasileiras.
Inda
bem que a Mãe Natureza na sua sabedoria guardou umas gata erada por essas
brenhas desse meu Brasil, e nunca vai faltar uma noite escura recheada de
esturros pelas grotas do imaginário desse povo que tanto ama a lida mateira....
Bello
19-01-2015
PREMONIÇÃO
O dia
amanheceu carregado, nuvens bandoleiras perambulavam no horizonte, o ar estava
pesado, naquela madrugada o galo não cantou e quando bateu a meia noite a Mãe
da Lua, o Urutau, piou sete vezes no beiral do alpendre o seu pio agourento,
que o povo diz trazer mensagem de tragédia,
e isso deixou Nanias preocupado e sem sono
Foi
uma noite difícil, se revirando de um lado para outro, e depois da meia noite e
de tal ocorrido, o silencio se fez estranho, inté os grilo fizeram menção de ficar calados,
o dia demorou a chegar e logo que o sol brotou no pé da serra Nanias levantou e
foi cuidar dos afazeres da roça.
No curral as vacas estavam inquietas, impacientes, e
naquele dia deu pouco leite, Nanias estava cismado, um aperto estranho rondava
seu coração sertanejo.
Chegou
na cozinha com o balde de leite na mão reclamando que num dava pra fazer um
queijo e que a vacada num beirou curral, Dona Maria já tava na treita do almoço.
“Comer da roça tem que sair cedo”.....A fumaça que saia do fogão de lenha
embrenhava cozinha adentro ,e ao mesmo tempo defumava uma banda de tatu
verdadeiro que estava dependurada acima do fogão e que seria a panelada do dia.
Na mesa a vasilha de feijão, logo Dona Maria sentou-se
para catar, e olhando para o marido logo sentiu sua aflição.
_ Que foi home?
_Nada não muié..... Respondeu Nanias....
E
tirou do bolso uma palha de milho e o pacote de fumo, e se colocou a preparar o
palheiro, caminhando de um lado para outro, depois do palheiro pronto sentou no
batente da porta e acendeu o cigarro.
Dona Maria logo retrucou de dentro da cozinha:
_Oia
home o leite coalhou, que diacho é isso..?
Dona
Maria não queria falar, mas passara a noite em sonho de aflição, e isso não era
bom, era noticia ruim que vinha por ai.
Nanias
se assustou e foi conferir, realmente o leite tinha coalhado, tirou o chapéu, coçou
a cabeça e ficou matutando...Deve de ser obra do saci, tem um monte de bambu
trincado no bambuzal essa semana deve de ter nascido uns dois, e assim logo eles
danam a aprontar.
Dona
Maria logo caiu na resmungancia, não acreditava nessa crendice besta.
_Home
larga de bestagem, esse trem de saci num existe, isso é crendice besta de gente
a toa, vou é fazer uma prece pra minha santinha, acho que vem tempestade por
ai.... E continuou a catar o feijão.
Em cima
da velha penteadeira do quarto, uma imagem de Santa Luzia, antiga, já
desgastada na pintura, presente de sua finada avó, envolvida com um terço e
algumas flores já murchas em um vaso velho de louça branca.
João,
irmão mais novo de Nanias vivia em uma fazenda a umas duas léguas dali, e
naquela noite tinha ido pra espera em um grande pequizeiro que os campeiros estavam
fazendo passagem, naquela noite a lua saia justamente a meia noite, hora de
descer do trepeiro. campeiro naquela noite não andou e bicho nenhum fez buia, estava
um silencio danado. E a meia noite em
ponto o pequizeiro balançou todo, um calafrio atravessou feito tiro de pólvora a
espinha de João. E uma inquietude tomou conta dele, nem rede ele tirou, pegou
apenas o bornal e a velha 28, trançou a bandoleira no ombro e desceu assustado,
pegando o rumo do barraco.
Chegando
na casa, viu o gado estourar, a bezerrada tinha saído do curral, e um cheiro
estranho tomava conta da cozinha, entrou guardou os trem e foi deitar, não
pregou o olho, e tudo ali em volta parecia distante, inté que o dia clareou.........
João não sabia dizer o que sentia, mas um sentimento de perda rondava seu peito
e sua cabeça.
Logo
com o nascer do sol ele levantou, procurou o cavalo para selar e ir atrás do
gado, andou inté as 9:00 e nada de achar a montaria, alguma coisa estranha estava
acontecendo e João sabia disso.
Voltou
pra casa com o sol já alto, tomou um café, preparou um palheiro e sentou no
velho banco de madeira a sombra do jatobazeiro que refrescava a casa, lá no
galho mais alto um Bem-te-vi gritava sem parar, como quem anunciando algo ruim,
o povo antigo dizia que o cantar dele trazia noticia de morte.
João
ficou pensativo, olhando para o céu em busca de respostas.
Há
umas quatro léguas dali,, o terceiro irmão, Joaquim morava a beira de uma bonita
mata de arvores altas e verdes, em frente uma grande lagoa de agua boa e muito peixe, ,naquela
noite ele estava disposto a pescar e ajeitou toda a traia, as iscas e tudo que
era preciso para uma boa pescada, e antes do sol se esconder já estava na canoa
com a isca na água, passou a boca da noite pescando e nada de beliscar, a lagoa
parecia morta e isso se foi até as 10:00 da noite, naquela noite nem sapo coaxou,
tava estranho e logo Joaquim sentiu que tinha algo estranho, e danou a reclamar.
_Uai,
cadê os peixes dessa lagoa, to intendendo não...
Com a
mistura fraca precisando de carne, desistiu da pescaria e embrenhou numa nova
empreita, entrou na canoa e com a lanterna em punho saiu em busca de uma
capivara, remando devagar e aprumando o foco em busca de olho de bicho, rondou
toda parte direita da lagoa e quando bateu a meia noite, um baita peixe pulou
fazendo um grande estrondo na água, foi nessa hora que um vento forte soprou
balançando a mata e criando marola na lagoa, a velha vinte disparou jogando
chumbo pra todo lado, foi um susto medonho, seu coração sentiu medo, uma
sensação que aquele homem rustico não costumava sentir.
Logo
o tempo quietou, e ele ainda cismado, pegou a vinte, abriu, conferiu e sem
entender o que tinha acontecido, trocou
o cartucho balançando a cabeça em tom de desaprovação, continuou a lumiar, deu a volta completa na
lagoa e não achou nada, rastro e pisseiro das bruta é que não faltava na beira
lamacenta dos guapo, nem jacaré, nem um olhinho, foi quando ele pensou.
É
melhor voltar pra casa, trem quando desatina assim é obra de coisa do outro mundo,
nem é bom teimar, então João amarrou a canoa, catou a traia e seguiu o trieiro
que dava a beira da porta da sua humilde casa, a lamparina tava acessa e sua
mulher Otacilia, fazia uma prece com
ramos de jurema em frente a imagem de São Sebastião ao qual era devota...
Que
vento esquisito foi esse home...Quando deu meia noite, ouvi bater na porta,
quando perguntei quem era não respondeu, bateu palma novamente, e ai senti o
cheiro do cachimbo de seu pai, e logo ouvi a voz dele...
Sou eu
João Antônio, seu sogro....
Me
assustei home, o que seu pai tava fazendo aqui uma hora daquelas, e eu não escutei
roncado de carro, nem tropeço de criação, e quando abri a porta num tinha ninguém,
então fui fazer uma prece, algo ruim aconteceu..
E
passaram a noite em vigília orando e pedindo respostas, logo o sol surgiu por detrás
da mata e um bando de periquitos danou em gritaria,
E assim os três irmão estavam sentindo algo que
avisando , coisa boa não tinha acontecido, foi quando a meio dia chegou a
noticia, e aos três no mesmo tempo.
Seu
pai João Antônio tinha ido esperar, e aos seus 80 anos caiu da espera a meia
noite, e lá faleceu, seu neto o encontrou as 6:00 da manha, ao seu lado uma
grande paca com um bem aplicado tiro de 28 na nuca, como ele sabia que o velho
patriarca tinha morrido a meia noite.
Seu relógio
parou com a queda e os ponteiros marcavam a hora grande da noite, 12:00, meia
noite, o choro foi grande e maior ainda o desespero, Seu João Antônio foi
velado no mesmo dia com a presença de seus três filhos e seus onze netos, foi
enterrado ali mesmo em suas terras, em uma cova a sombra da grande gameleira,
um cruz de madeira rustica enfeitada com flores do campo foi fincada sobre a sepultura.
Ali todos
choraram e lamentaram a ausência do pai, avô e líder da família, mas tinha na
cabeça a certeza de que ele morrera feliz, e que toda natureza parou na hora de
sua partida, porque todos sentiram, os filhos, as noras, o vento, os peixes, a
mata, as águas, os insetos e os bichos.
Com toda
certeza era premonição, pois antes de sair ele disse ao neto.Zé Carlos......Que
fez questão de dizer a todos os presentes as ultimas palavras do avô.
_Filho,
vou esperar, me encontrar com Deus, e na espera que falo com ele, que sinto a
presença dele, que sei que ele ta vivo, que fala e anda em tudo que é planta e
vivente, e quero que quando chegar a minha hora, ele me leve esperando, porque nesses meus 80
anos de vida nunca encontrei coisa melhor de fazer, do que esperar. Tem hora
pra voltar não....
E colocando
o bornal de lado e a 28 nas costas seguiu rumo a beira do córrego, assobiando e
cantando com toda felicidade que um homem pode carregar no coração.
Bello
27/12/13
PROCRIAÇÃO – COM A
PALAVRA O SENHOR DA MATA
( OS BICHO DO MATO
SEGUNDO Zé Preto.)
Sentado
a sombra da velha gameleira, estávamos a prosear, tínhamos acabado de levantar,
e no fogão a agua fervia para passar o café, os pássaros faziam algazarra por
todo lado, de longe a pomba verdadeira cantava na copa do pé de jenipapo, o
cheiro do café já vinha na ponta do nariz, Tião ajeitava um ovo frito com
torradas, foi quando cruzou o céu um casal de araras aos gritos.
Zé
Preto tirou o chapéu, levantou e cessou a conversa, com a mão sobre as vistas
parecia querer prolongar aquele momento, foi quando começou a
falar......................
ARARA CANINDÉ, tem
bucho amarelo, e costa azul o bico torto e forte por demais, voa alto
barulhando sem parar, gosta de ir longe, e não pode ver fruta e coquinho ,
quando chega as beira de Dezembro ela prepara o ninho no oco das palmeiras,
sempre procura lugar alto, e nasce na maioria das vezes, dois fiote, sem muito
prazo já começa a beirar a boca do buraco, barulhando também, com uns 25 dias já inicia o bater de asa, as
vezes coloca no mês de março também.
Eita
bicho bonito de se ver cortando o azul do céu, sempre aos pares, bicho de um
único acasalamento, casamento que vai por toda vida, se um morrer outro fica
sozinho inté a hora dele chegar, nunca mais aninha.
Todo
bicho é vida e beleza na mata, nem tudo se devem bulir, cada coisa tem seu
tempo e sua serventia, é o movimento, a voz, o sentido da mão do criador, tem
que ter respeito, tem que ter olho e ouvido, pra depois colocar no coração, o
espíritos da mata estão ali, de olho, cuidando do que é seu, se você tiver
respeito a mata te respeita, caso contrario, a mata te rejeita, bicho do mato é
trem sagrado que Deus colocou pra mó de melhorar a mistura, mas nem tudo é pra
isso, muitos são para embelezar a vida, acalmar os dias difíceis, e acalentar a
alma da gente.
Vou
falar dos vivente que povoa as matas, as campinas, o cerradão, um pouquinho de
cada bicho, coisa que durante anos, esses oios de veio preto guardou na
cachola, coisa que se você prestar
atenção vai aprender o que muito estudioso num aprendeu nos livro e nas escola....
JACU tem muitos tipo, mas
aqui só tem o verdadeiro e a cigana, a cigana tem unha na asa, e o verdadeiro é
grande e castanho escuro, saltita de galho em galho fazendo festa, sempre
aninha em meados de setembro mais vai por no mês de outubro pra novembro, as vezes
vai de dois a quatro ovos.
Anda
de bando, fora do tempo de cruza, seu cantar, um coc coc estalado ecoa na mata
no amanhecer e no fim do dia, tem jeito engraçado, e quando anda balança a
cauda e a cabeça ao mesmo tempo, adora uma mirindiba, mas come de tudo um
pouco, já vi de bando grande pra mais de 30, tudo junto, seu voo tem barulho
bom e a gente conhece de longe quando ele ta chegando.
MUTUM, é o peru do mato,
tem mais de um tipo, bicho bonito de piado fino, sempre de casal, quando tem
mais de dois é os fiotes que ainda acompanha os pais, igual Canindé, é casal pra vida toda, trem
assim tem que respeitar, se um morre outro nunca mais aninha, bicho
sistemático, põe pouco, sempre de um ou dois, mas já vi por de tres e vingar
todos.
Quando
fica curioso dana a piar, e dana num abre e fecha da cauda sem parar, ouriça o
penacho da cabeça e balança de um lado para o outro desconfiado, se amansar
fica feito criação, comendo no terreiro, o macho preto com seu bico amarelo que
chama atenção, a fêmea já e diferente, é marrom com a barriga carijó, eita trem
que eu acho bonito.
JAÓ é a menininha dos
meus olhos, redondinha de tom quase azulado, seu canto parece choro, faz a
gente pensar na tristeza, na época de namoro canta a madrugada inteira, inda
mais quando a lua ta grande, ave de coração puro, mansa, faz a gente gostar dela logo no primeiro
encontro.
Em
setembro começa o namoro e o canto se estende pra todo lado, os machos pra
chamar a atenção e conquistar a amada, dançam para as fêmeas, levantando a asas
e correndo de um lado para o outro, aminha no chão entre o cipoal ou raízes, bota inté quatro ovos, branco meio esverdeado.
Andam pela mata vistosa em passos largo, as vezes só, as vezes em grupos de
quatro ou mais, estão sempre atenta, hora olha para um lado hora pra outro,
procurando motivo, se agoniada pega voo num pof, pof bonito de se ouvir.
PACA é o xodó da mata, a
princesa, prenda cobiçada, mas a bicha é veiaca, tem ouvido e faro apurado, é andadeira
de noite escura, pontou a lua ela se esconde,
na maioria do tempo anda sozinha, sempre beirando os córregos e os rios,
gosta de nadar eé boa no trem, e pra
fugir dos predadores corre pra agua, tem um folego danado e inté consegue ficar
mais de 15 minutos mergulhada sem respirar.
Bicha
de campo pequeno, tendo comida perto
trilha pouco, mas se faltar comer, vai longe, a bicha gosta de mudar, não se
prende muito a uma área certa não, pode se dizer que paca não tem morada
derradeira, por qualquer motivo muda o rumo, inté mesmo dependendo das estações
do ano, do comer, da perseguição da gata, ou sem motivo nenhum mesmo, é bicha
mudadeira.
A
gente pensa que não vai longe, mas ela tria mais de 500 metros por noite, se tiver precisão vai mais de légua, inda mais se for
noite escura, que é quando a bicha enxerga melhor, seus olhos são feitos para
escuridão por isso a maioria se ofende com luz e pula longe. Tem coisa melhor
no mundo que espera de paca, a bicha tem pisado manso e cadenciado, e é
treiteira, só tria no sujo, mas tem
compromisso, se tiver vindo num faia fácil não, e é a coisa mais linda em
matéria de educação, come sempre com jeito, sem fazer bagunça, se começa por um
lado sempre mantem o mesmo caminho.
Lá
pra beira da mata onde tem aquele monte de babaçu, é morada delas, moram nas
tocas achadas ou cavadas com suas unhas fortes e afiadas, é tão veiaca que é, sempre faz suspiro, suspiro são
outras saídas escondidas no meio das folhas,
muitas vezes mais de dois, suspiro é lugar de fuga se tiver alguma intriga, ela espira feito diabo que foge da
cruz e descamba mato afora.
Paca
é bicho que vive quieto, ajeita toca geralmente em canto difícil de se chegar, faz
suas necessidades na água, então quase não deixa motivo, a mão ser os
amontoados de caroço que faz, e seus delicados trieiros, só fica barulhenta na
época do vicio, entrando no cio a brigaiada é feia. É bicho bruto e
intolerante, só se ajunta na época de namoro, então fica batendo pé e rosnando
atrás das fêmeas. Também é uma espinheira que tem no pinto do pacuçu que num
deve de ser fácil a cruza...kkkkkkkkkkkkkkkkkk...
Os
povo fala que beira 15 quilos mas eu nunca vi com mais de 12, sempre o povo
aumenta o peso da prenda, e no mais, quem num gosta de contar vantagem.
A leitoinha pintada pode prenhar inté duas
vezes no ano, sem data certa, vai
depender se tiver muita ou pouca comida, bicho procria bem só na fartura, a
barrigada dura uns 5 meses, e pode nascer
inté de dois fiote, tem causo de gente contar que de vez a outra pode
nascer de três, eu nunca vi, mas num duvido, o normal mesmo é nascer de um, o
fiote já nasce com dente, e na cor de paca
mermo, com uma semana já come sozinho, tempo de mama é curto e logo se aparta do peito, mas ainda fica com a mãe por um bom
tempo..
Paca
é bicho sistemático, inté com os próprio fiotes, então é bem comum andar
machucada de dente, mas tem sangue bom, ferida cura rápido, e por causa das
encrencas ela logo sai em busca do seu canto, os macho mais velhos logo são expulsos pelos
mais novos, é por isso que de vez em quando vem bater no trepeiro um machão
veio solitário, gordo de queixo largo, esse muitas vezes sem território certo
vive vagando feito Quati mundéu.
Seu
rastro confunde desconhecedor, porque tem quatro dedos nas patas dianteiras e
cinco nas traseiras, mas é fiel ao sua vareda, seu trieiro, saindo dele só por
motivo de fruteira nova, sempre triando a mata nas noites sem lua, a fêmea tem
cabeça cumprida e fina, o macho queixada larga e cabeça redonda, aqui nos fundo
da casa tinha uma que ficou veia nos caroço de manga pra mais de 15 anos, já fazia
parte é da família, acho que morreu de veia.
CUTIA é trem tentado, a
bicha alegra a mata no seu vai e vem no inicio e no fim do dia, mas a bicha é
treiteira, anda na madrugada também, tem sete tipos diferentes de cutia e vai
mudando o tipo muda a cor também e o tamanho, mas tudo é cor fugida, muda de
acordo com a luz, tem quatro dedos no pé e três na mão, cava feito tatu, faz toca em meio a macega da mata ou na beira d’água.
Veiaca faz um monte de respiro entre os tuneis, em caso de fuga tem por onde
fugir parece que aprendeu com paca..
Trem
bonito de se ver sentada comendo leva a semente na boca com as pata da frente
parecendo gente, e roda pra cá, roda pra lá, sempre mordiscando com
velocidade..Tic..Tic..Tic....
Pense
numa bicha boa pra nadar, cutia é bicho que ajuda a mata, ela sai enterrando
tudo que é coisa para na época da vaca magra procurar, e nessa muita semente
germina, o que tem de arvore erada na mata que foi plantio de cutia não se faz
conta.
Parideira
que é danada, pare inté três fiotes e
duas vezes no ano, e num tem época certa também não, é o ano todo, a
barrigada vai de 3 meses e meio, pra mais ou pra menos, os fiotes mamam inté
4 meses, e num demora muito o aconchego
o normal é apartar com prazo de seis meses..
Apartou
e o trem logo já entra no vicio de novo, o macho pra chamar a atenção da namorada,
fica batendo as patas traseira, do mesmo jeito que ele faz quando tá cismado,
ou quando escuta algum barulho diferente na mata.
Quando
ta cismada ela grita e some na carreira sem olhar pra trás, anda sempre
sozinha, as vezes se acompanha dos fiote já criado, ou então no namoro, fora isso num gosta muito de
companhia não..
CATETO anda com a lua, é
bandoleiro, trilha pouco, mas num tem rota certa, isso faz muito mateiro achar
que ele vai longe, mas num vai não fica e vadiando na mata, de porco do mato tem dois tipo, o Cateto e o
queixada, são primos aparentado, mais de atitude e tipo bem diferente.
Cateto
tem peso de mais ou menos trinta quilos, pode ir mais um tico mas é difícil
passar de quarenta, bem menor que queixada e no pescoço tem um colar branco, em
uns ele se aparenta mais, em outros quase num se vê, tem gente que diz que é
cruza com queixada, mas para mim eles num se mistura não.
Os
bandos são menores, às vezes trilha de
dois mas pode inté chegar a mais de cinquenta, as vezes trilha só mesmo, principalmente
o macho, mas olhando macho e fêmea é tudo igual, num tem época certa de cria
não, dão fiote o ano todo inté duas barrigada, as vez nasce de um, de dois, mas
nasce de três e quatro tumbem, mas de
normal é de dois, logo que pari a porca já entra no vicio novamente, e o trem,
a cruza é pra mais de vinte dias , é bicho que rende rápido, porque já nasce
treiteiro, com pouco já ta correndo, pois tem que acompanhar o bando, senão
fica pra trás, pega apoio por pouco tempo, desmama e aparta cedo, lá pros três
meses já vai cuidar da vida senão vira comida de onça
O
trem tem chefe, mas nasce fiote de tudo que é macho do bando, na maloca acaba
ficando sempre mais fêmea do que macho, logo mocinha com oito meses em diante
já ta pegando barriga, que vinga com cinco meses mais ou menos, demora mais que
porca de casa, cateto é porco do mato que num é porco, tem formação diferente
no bucho
Bicho
desatinado come tudo que encontra e bem diferente do que falam, não viaja longe fazendo mudança como os
queixadas, os catetos ficam sempre beirando a mata em que nasceram, são fieis a
sua pátria, mas se forem perseguido desatinam mundo afora e só volta depois de
muito tempo.
QUEIXADA é
bicho bruto, anda de bando grande já vi vara de porcada com mais de cento e
setenta, mas trilha de pouco também, de longe a gente escuta a zoada, o bater
do dente, é bicho perigoso, se cercar gente pode inté matar.
Diferente
o cateto, tem queixada branca e estrala o dente, motivo do seu nome, os macho é
grande em vista da fêmea, pari o ano inteiro também, mas em janeiro tem mais
fiotada, novembro também, sempre o numero de fêmea no bando é maior que o de
macho, igual cateto.
É bem
maior que o primo cateto, bate os cinquenta quilos pra mais, é turma bagunçada
os macho formam par com duas ou três fêmeas, mas acaba que dando bobeira outros
cruza com elas também, a barrigada é pra média de cinco meses e nasce sempre de
dois, mas se for porca de tutano, pode nascer de mais.
É
bicho andador, viaja longe, e não se prende a nada, de tudo come, inté carniça,
os bicho tem tanto motivo que dependendo do bando muda inté rumo de nascente,
as vezes eles somem em viajem longa, vez que não, aparece empretecendo a mata, barulhando
com seu ronco, de pelo arrepiado batendo dente..
Onça
num larga eles, sempre ta na resenhando na batida, as vara de queixada faz
vareda funda, e num teme presença de gente, quando bate na roça o estrago ta
feito, e não tem remédio, destrói tudo que vê na frente, anda o dia cedo e de
tardinha, nas horas quentes vai pros lameiros, anda na boca da noite e na
madrugada, é bicho treiteiro sem hora certa.
Em
fruteira você logo sabe que eles tão passando, porque revira a terra pra todo
lado e repisando tudo, bicho de carne boa, diferente do cateto, tem gordura entranhada na
carne, que é bem mais gostosa.
Esperar no carreiro tem que ter ciência, tem
que pegar o ultimo, pra evitar desavença, e só descer quando a vara de porco
sumir no mundo, queixada é trem que tem trato com visagem, é montaria de caipora, num é bicho de confiança
não.
ANTA é trem sem respeito,
é o maior animal das matas, pode beirar mais de 330 quilos, bicha misturada, pé
parece de capivara, corpo de jumento, pescoço de cavalo, orelha de veado e focinho
de elefante, muita gente fala que o Pai do mato ajeitou ela com resto de outros
bichos, gosta da mata fechada, lugar fresco de aguada, onde fica durante o dia
banhando, mas perambula por tudo que é canto, sobe serra onde outros bicho
evita.
Corpo
de anta é lavoura de carrapato, onde anda vai infestando tudo, bicho grande
precisa de muito trato, por isso come de tudo um pouco folhas, frutos, brotos, ramos, planta d’água,
inté pasta feito boi, mansa pelo tamanho, tem faro bom mas pouca visão.
Não
perdoa uma roça, anda no sol frio, no amanhecer e entardecer, mas prefere
perambular a noite, sempre sozinha, só se ajunta no vicio ( no cio ), é de
tempo longo, nasce sempre um único fiote, todo malhadinho, parecendo uma melancia,
a barrigada dura um ano, o fiote demora pra apartar da mãe, mama inte ficar
adulto um ano e meio pra mais, ai toma vergonha e se aparta indo cuidar da
própria vida.
O
macho veio urina no mesmo canto marcando território, e na fuga derruba tudo que
tem na frente, anda no silencio quando quer, que impressiona um bicho grande
desses pisar manso, faz um monte de barulho diferente, ela grita, assobia,
tose, chama a fêmea assobiando.
A bicha
deixa trieiro largo e é fiel a ele, costuma cortar os chapadões e grotas que de
longe a gente vê morro a cima o caminho dela, o trieiro de anta.
CAPIVARA é trem atoa, vive em bando, que varia de tamanho, que vai
de dois inté um mote bom, mas isso vai do tempo, nas aguas elas apartam, mais
na seca se ajunta novamente, tem o machão que é chefe, os demais e as fêmeas, o
macho marca o território com o caroço que tem acima do nariz, de 80 a 100 hectare, e num aceita intruso.
Que logo sai briga.
Quando
late grosso é perigo, quando assobia está chamando, quando ronca ta aceitando a
ordem do líder, no vicio o macho fica atrás da fêmea pra todo lado inte cobrir,
mas só cobre dentro d’água, e é nas aguas que nascem os fiotes que variam de quatro
a oito, a fêmea tem dez peitos tem gente que diz que pare dez, mas eu nunca ví,
o povo fala demais.
Sei
que a barrigada dura quatro meses , e os bicho já nasce com dente e comendo
mato, o apego de peito é curto, desmama com três meses e oia que o trem rende
com um ano e meio de vida já ta parindo.
Onça gosta mesmo é de porco cateto ou queixada, mas pega ela também, mas a sucuri é seu pior
inimigo, Teve uma que nois criou aqui que viveu mais de 11 anos, capivara tem
vida comprida, a banha é o ranço dela, mas é remédio, bom demais pra reumatismo
e asma,
VEADO é bode do mato, bicho
atinado que tem seus segredos, vamos prosear sobre eles, aqui também tem muitos
tipo, tem do Cervo, o butelão, que o povo chama de Sussuapara, tem do Mateiro
grande da Canela Roxa, do Mateiro pequeno de canela sem cor, , tem do
Catingueiro menorzinho e do miudim, o
Veado Anão, tem do Campeiro, o chamado Galheiro mas por outros rumos tem outros
tipos.
O
cervão Sussuapara gosta dos brejos, anda sempre com os toco dentro d’água, ta
pouco, mas a gente ainda vê eles nas várzeas da lagoa, o bicho é grande, vai pra
mais de 100 quilos, tem galhada pra mais de oito pontas, chega a ser branquinha
de base grosa, gosta de comer broto, e num permite chegada de gente, mas o povo
num gosta de mexer com ele não, a carne forte faz o caboclo soar o cheiro dele,
e no mais o trem ta mirado, tem que deixar se criar.
O
Mateiro grande tem canela roxa, anda na mata fechada, tem chifre reto uma ponta
só, pra mó de nào arranjar enrosco, é comedor de fruta, trem cismado, ganha
mundo por qualquer motivo, anda na mata devagar, com orelha em abano procurando
oque num quardou, chega e sai feito visagem, é bicho treiteiro, mas tem trieiro
certo, cumpre direitinho a caminhada, mas gosta das madrugadas, momento que o
mundo para e inté o vento fica manso.
O
Mateiro pequeno, anda na mata fechada tumbém, tem chifre de uma só ponta no
rumo do lombo, mas tem canela lisa, menorzinho, é mais ativo, mas é veiaco que
só vendo, comedor de fruta, flor, mas pasta tumbém, é mais farturoso, tem muito
nessas brenha de mata fechada da beira do rio.
O
Catingueiro já é mais abusado, num tem muita vergonha não, perambula por entre
os abertos e os fechados, vorta e meia anda no campo aberto feito Campeiro e
num tem horário, mas gosta do raiar do dia e do entardecer, comedor de fruta,
gosta de milho, flor e capim novo.
Tem
tumbem o mais muidim, o Veado Anão, trem difícil de se ver, tem demais, mas o
bicho é treiteiro, dizem que sobe inté em cipoal pra mó de driblar os
cachorro, bicho de focinho curto e
chifre deitado, tem cheiro forte, e pé fino, anda furando foia, é cismado por
mais da conta, comedor de fruta e flor, esse é o verdadeiro fuboca....kkkkk.
De
veados nesses rincões tem 8 tipos, mas o
que prevalece aqui é o Galheiro, o Campeiro, eita bicho que tem nome, uns
chamam Rabo Branco, outros Suaçutinga, veado do campo, solitário, o bicho gosta
dos aberto, das grandes vargens e dos campos, geralmente anda sozinho mas faz
maloca na época do vicio, as vezes ve gente e logo corre, as vezes deita e
estica o pescoço ficando quieto, só corre se chegar perto demais e bicho manso mas
esperto, quando a gente topa com ele, hora sai feito louco hora fica olhando
feito menino besta.
De
dezembro a janeiro o macho aumenta o cheiro, mas quando chega de julho até
setembro o bicho fede forte, chegou a época do acasalamento e da cruza que vai
de janeiro a julho.
O
vicio inicia beirando meados de janeiro, quando os fiote estão pra largar o
peito, geralmente o trem apruma para uns 25 dias, é época dos macho cair na
briga, pra mó de acasalar.
Campeira.de
cada 10 umas 6 pega bucho, no inicio é andadeira, mas depois do quarto mês ela
queta mais, e vai diminuindo a andança inté pari, os fiolte nascem o ano todo
mas é entre agosto inté inicio de novembro que é mais comum., a barrigada de fiote
dura por volta de sete meses, o bodinho nasce Pintadim, feito beira de barriga de paca, mas o trem
perde a pinta na primeira muda de pelo.
Por
isso no auge da seca quando o pequizeiro pinta de branco o chão e o cerrado
brota o capim da queimada, é época de recria, num pode bulir com fêmea, se
matar uma, mata dois, época certa é dispois da desmama.
É
nesse tempo que o macho cai o chifre, logo dispois do namoro, quando ta sem chifre fica isolado e se
encontra um rival, briga iqual femea com
as patas dianteiras, feito cavalo empinador, mas as galhas logo ponta na
cabeça e volta a crescer, pois logo precisa
estar limpo para o próximo ano, perto de julho o chifre ainda esta coberto de couro
o tal do velame, mas só troc a de galha o bicho novo, pra mó do chifre ficar
justo no tamanho, ou quando quebra na briga ou quando ta veio, tem uns que
demoram a trocar, na fase de dono de terreiro fica inté mais de três anos sem
troca.
A mãe esperta demais esconde o cabritim , enquanto sai para campear e volta
na hora de amamentar, desmama ele com 3 meses
a quatro, mas bem antes disso já começa o vicio de novo, é nessas hora que a
onça treiteira acha o esconderijo e pega o fiote, fora outros inimigos que
podem dar cabo dele.
É
bicho bonito de se ver no campo, de se ver correndo com seu grandes saltos,
anda sempre atento, buscando cheiro e barulho diferente, usa os outros bicho de
vigia, quando ta perto dos Quero-quero ou das Curicacas, eles ficam mais calmos
e baixam a vigília, mas se alguém der sinal de alarme, a corrida é bruta.
A
cor do pelo muda de acordo com a estação do ano, na seca fica mais clara, mas
isso depende muito de cada um, mas a mãe natureza sabe que tem que mudar a cor
do bicho pra ajudar ele a se esconder dos que o perseguem.
Então
fio, antes de sair pra lida, veja se num tá na recria, quem preserva tem pra
toda vida e ainda sobra pros que ainda nem chegaram, inda mais porque no céu vive
o Pai Maior, que tudo sabe e tudo vê, ele colocou os bicho no mundo pra gente
acalentar a mistura, mas homem que é homem tem que ter princípio, ter justiça,
ter brio....Homem que é homem respeita o tempo da natureza repovoar seu mundo.
Bello
08/01/14
verdade... na espera (pra tirar fotos) a gente lembra de Deus toda hora, de tudo que ele criou, árvore, folhas, mato, o bichos... sempre tem uma novidade da sua criação e nada é mais satisfatório do que está ali. Feliz do João que eternizou sua vida no mato.
ResponderEliminarParabéns pelo conto amigo, esse é mais um que enche os zóio dagua.
Uma geração inteira de amantes da natureza, o pai e os três filhos, gostei muito dessa história....
ResponderEliminarQue histórias lindas amigo.
ResponderEliminarSou maranhense e moto no Pará atualmente.
Tenho 22 anos e sou apaixonado pelas matas, pelos seus segredos...
Todos os dias leio seu blog e me vejo nesses causos tão bem vividos.
Parabéns, e continue nos alegrando.